Havia um homem surdo e gago, para não dizer mudo de todo. Não havia comunicação possível entre ele e a sociedade. Por isso, o surdo não se dirigiu a Jesus sozinho, mas tiveram de levá-lo. De fato, ele era uma pessoa afastada da sociedade. Mas Jesus opera o milagre: cura-o e o abre à realidade que o cerca. De repente, a comunicação é estabelecida. Aquele homem que, devido à falta de comunicação, se tinha tornado praticamente uma coisa, voltava a ser uma pessoa. Um membro da sociedade, irmão de seus irmãos. Como não poderiam se alegrar e se admirar os que o viam!
Jesus cumpre, assim, as expectativas do povo, que estão presentes nas palavras do profeta Isaías. São palavras que podemos sentir como dirigidas por Deus a cada um de nós: “Ânimo, não tenham medo!” Porque Deus está conosco. Porque o Deus de Jesus é Pai e não deseja que nenhum de seus filhos seja excluído, deixado de lado. Deus deseja que os seus filhos estejam sentados juntos à mesma mesa, no mesmo nível, compartilhando, juntos, o pão das alegrias e das dores, das satisfações e das contrariedades próprias da vida humana. Deus quer que seus filhos vivam juntos no amor e na esperança. Porque Ele é o Pai e Mãe, que cuida sempre de seus filhos. E a última coisa que seus filhos podem fazer é perder a esperança e a confiança em seu Pai. Por isso, não devemos ter medo. Deus vem, em pessoa, nos salvar.
A partir dessa perspectiva, a dos filhos e filhas de um único Pai, compreendemos melhor as palavras da carta de São Tiago. Como é possível que a comunidade cristã faça acepção de pessoas? Como é possível que um bispo exclua da comunidade quem lhe contesta ou lhe incomoda? Como é possível que numa Igreja particular ninguém pode ter um pensamento diferente de quem a preside? Como é possível que continue havendo títulos, distinções e privilégios? Como é possível construções faraônicas em detrimento a obras de caridade que estão na ruína? Como é possível que continue havendo lutas pelo poder e pelos primeiros lugares? Como é possível o carreirismo e a hipocrisia dentro da Igreja? E devemos ter muito cuidado ao situar esses problemas apenas na alta hierarquia da Igreja. Isso acontece igualmente nas comunidades paroquiais, nos grupos e movimentos das comunidades religiosas. Todos o sabemos por experiência. Por isso, é preciso estarmos muito atentos. Não podemos pensar que o que disse o apóstolo seja para os outros. Falava a sua comunidade e o diz, atualmente, de igual maneira, a cada um de nós. A tentação do poder estará sempre presente no coração humano e é uma ameaça forte e permanente para a fraternidade do Reino. É exatamente o contrário do que fez Jesus ao curar o surdo. Nós, em geral, excluímos, dividimos e separamos. Jesus une e junta.