Deus optou pelos deserdados

    Falar nos deserdados incomoda muita gente. É esse o recado de Jesus. É esse o testemunho do Papa Francisco, mesmo que alguns desavisados continuam ditatorialmente agindo como se não entendessem o recado de simplicidade, de parcimônia e de solidariedade do Bispo de Roma. O Texto da primeira leitura do vigésimo terceiro domingo do Tempo Comum se dirige a pessoas privadas de esperança e vida. Isaías chama essas pessoas de desanimadas. São os que foram traídos em suas expectativas, manipulados e roubados em sua dignidade, por serem mutilados fisicamente. A eles dirige-se o encorajamento do profeta: “Coragem! Não tenham medo! Aí está o seu Deus!” A seguir, o texto esclarece quem são esses desanimados: são cegos, surdos, coxos e mudos, em resumo, os mutilados da sociedade (em sentido físico ou não).
    Cego, surdo, coxo, mudo são os privilegiados de Deus. O cego não pode ver a realidade que o cerca. O surdo não pode ouvir a instrução acerca do projeto de Deus. Como o cego, é dependente. Com freqüência, o surdo era também mudo. Não podendo ouvir, era incapaz de exprimir com liberdade seu ponto de vista, defender seus direitos e reclamar sua justiça. Ao coxo, caso pertencesse à classe sacerdotal, era proibido o exercício do sacerdócio. Ele dependia de outros para ter acesso a Deus e participar de peregrinações ao Templo de Jerusalém. Aí se manifesta a sabedoria de Deus: Ele quer as pessoas livres para o exercício da liberdade e da religião. Ele não só faz o coxo andar com os próprios pés, mas quer que “salte como cabrito”. O mudo é o que não pode se defender das mentiras, das maldições e do desprezo dos poderosos. Deus se posiciona a favor dos que não podem ver, ouvir, andar e falar. Ele é o Deus dos que não têm voz. Liberdade, vez e defesa. É o Deus dos que foram manipulados e marginalizados, é o Deus dos que foram podados e relegados à piedade e compaixão. Sua ação, contudo não é feita de panos quentes, mas de libertação plena e reintegração total. Ele quer os mutilados da sociedade marchando alegres, pulando, gritando de alegria, porque só um povo livre pode ser a glória do Deus da vida!
    Continuando, o texto mostra outro tipo de transformação: o deserto e as regiões áridas vão se tornar fontes de água para os romeiros libertados, que caminham ao encontro do Deus da vida.
    Refletindo, constatamos que Deus nos quer santos, alegres, companheiros, fraternos praticantes da justiça, da concórdia, da paz. O mundo de hoje está tomado da violência. Não sabemos qual a violência maior: se do traficante ou do assaltante que mata para salvar a sua pele ou de dos grandes magnatas, que vivem no luxo, à custa do sofrimento do povo. No nosso mundo de hoje, as palavras de Isaías clamam pelo fim da violência praticada pelos homens e combatida por Deus.

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