NÃO TENHAIS MEDO

    Estamos no 19º domingo do tempo comum. Como recordamos na semana passada, o mês de agosto é um mês temático, o mês vocacional, onde cada semana somos chamados a refletir e orar por uma realidade vocacional diferente presente na vida da Igreja. Na semana passada rezamos pelas vocações sacerdotais. Neste domingo, que é o dia dos pais, onde damos graças a Deus e pediremos por essas figuras tão importantes na vida do ser humano e que tem a missão de ser sinais da paternidade de Deus em meio aos homens, aproveitando a oportunidade, nesse segundo domingo recordamos e rezamos pela vocação à vida matrimonial, pedindo as bênçãos do Senhor sobre todas as nossas famílias, assim como iniciamos uma semana especialmente dedicada a elas, a semana nacional da família, que neste ano tem como tema para ajudar a nossa reflexão a passagem do livro de Josué: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24, 15). Na semana nacional da família, cada dia teremos temas específicos para ajudar à nossa reflexão e é uma grande oportunidade para que nossas pastorais que estão ligadas à pastoral da família, seja o ECC, o curso de Noivos, jovens casais, casais de segunda união, equipes de Nossa Senhora, movimento familiar cristão, aliança de casais com Cristo e tantos outros que existem, possam se unir e aproveitar a oportunidade de apresentar o anúncio do que é a família cristã e mostrar a beleza da família cristã à sociedade. Propagandas contrárias à vida familiar são muitas as encontradas hoje, assim como a todas as instituições no geral, principalmente pelos poderes econômicos. Curiosamente, muitos foram os meios a propagar que este tempo da pandemia seria um tempo propício para dificuldades na vida familiar, mas percebemos exatamente o contrário: uma maior valorização do tempo dado ao convívio familiar e uma nova redescoberta do que significa partilhar a vida juntos. A graça do Espírito une e faz com que a cruz não seja instrumento de maldição, mas a transforma em instrumento de salvação para todos aqueles que dela participam.

             A Palavra de Deus deste final de semana, 19º Domingo do Tempo Comum, no evangelho de Mt 14,22-33, temos exatamente o relato do que aconteceu após a multiplicação dos pães, quando Jesus pede que os discípulos entrem na barca sem Ele e que fossem passa o outro lado do mar, o mar da Galileia, enquanto Ele permanecia despedindo-se de todo o povo.   Os discípulos obedecem. Após despedir a multidão, Jesus sobe o monte e ali permanece sozinho em oração. Acontece que, no meio da noite, estando a barca já no meio do mar, esta começa a ser agitada pela força dos ventos e pelas ondas, já que os ventos eram contrários. Isso acontece por voltas das três horas da manhã, em plena madrugada. É neste momento que Jesus vem ao encontro dos seus discípulos caminhando sobre o mar agitado. Quando os discípulos o avistaram andando sobre o mar, ficaram apavorados pensando ser um fantasma que se aproximava, gritando de medo. Ante isso, Jesus lhes diz: ‘Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!‘ (Mt 14, 28). Ante essa palavra que foi ouvida, Pedro responde: ‘Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.’ E Jesus respondeu: ‘Vem!’ (Mt 14, 29). Pedro, numa atitude de coragem, desce da barca e caminha em direção a Jesus. Mas, quando sentiu o vento que era forte e contrário, sentiu medo e começou a afundar, gritando: Senhor, salva-me!’ Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: ‘Homem fraco na fé, por que duvidaste?’ (Mt. 14, 30s). Jesus sobe na barca, os ventos cessam e os discípulos, prostrados, afirmam: ‘Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!’ (Mt 14, 33).

             A afirmação final apresentada no Evangelho é exemplo de uma dessas convicções que vai brotando no coração dos discípulos a partir da experiência concreta que estes vão tendo com o Senhor. O relato hoje pode ser atualizado e falar diretamente às nossas vidas para que também nós tenhamos essa oportunidade de um encontro vivo com o Senhor. Assim como o Senhor pede para os discípulos atravessarem o mar, assim o Senhor envia cada um de nós com uma vocação em meio ao mundo para que sejamos sal da terra e luz do mundo. O mar, ora calmo, ora agitado, representa todas as circunstâncias que encontramos ao longo da nossa história pessoal, ou seja, representa o mundo, com seus desafios, contrariedades e lutas de cada dia, representa o caminho que cada um há de trilhar. No meio do caminho, por várias vezes experimentamos as tempestades, tribulações e adversidades: nas relações humanas com familiares, amigos e vizinhos, em nossos empregos, em nossa saúde, testemunhando violências, injustiças e opressões. Essas realidades e tantas outras nos fazem sentir medo, que é a resposta natural do ser humano ante um fenômeno que ele não conhece ou não pode controlar. E é exatamente aí que o Senhor aparece em nossas vidas, na maioria das vezes de forma simples, às vezes de forma extraordinária. O mais importante é que nunca nos esqueçamos de que Cristo é maior do que o mal, é mais poderoso do que as contrariedades. Como é bonito ver Jesus que vem ao encontro dos seus caminhando sobre o mar, sobre o elemento que simboliza a contradição e o perigo. Deus é muito maior do que os motivos dos nossos medos. Por isso, as palavras dirigidas por Jesus devem ressoar hoje em nossas vidas: Coragem, sou eu…não tenhais medo!

             Uma outra forma de olharmos para esta passagem neste mês vocacional é considerando o medo que pode surgir quando o Senhor pede algo de nós ou nos confia uma missão: seja uma resposta ao chamado de Deus, seja ao assumir ou trabalhar em uma pastoral, seja em colaborar em novos serviços da vida da Igreja: por várias vezes temos medo. Mas, se é o Senhor quem chama, é também o Senhor quem nos sustenta. Não tenhamos medo de ser generosos em nossa resposta a Deus! Tenhamos medo sim, de fugir da presença do Senhor e de deixar a graça dele passar sem que a percebamos, como nos recordava St. Agostinho.

             Mas o Evangelho de hoje coloca um destaque de coragem que não pode passar sem que olhemos para ele: a coragem de Pedro! Pedro pede que Jesus confirme sua desconfiança e se lança com coragem a caminhar sobre o mar. Pedro confiou. Pedro foi! Mas, no meio de seu caminhar, Pedro deixou de ter os olhos fixos em Jesus e olhou mais para o mar agitado do que a presença do Senhor que o sustentava…e por isso começou a afundar. Assim como Pedro, temos a tentação de nos perdermos em meio de tantas tarefas que nos são dadas e corremos o risco de olhar mais para elas do que para o que sustenta nossa vida: O Senhor! É aí que afundamos, é aí que desanimamos, é aí que um grande cansaço se abate sobre nós. Por mais desafiantes que sejam nossas lutas de cada dia, não deixemos de confiar na presença e na Palavra do Senhor que nos sustenta. E ao afundar, vemos o clamor de Pedro ao Senhor e Cristo que vem ao encontro da debilidade de Pedro: estende a mão quando Pedro pedia ajuda e o salva! Todos nós nos desanimamos, nos cansamos e afundamos assim como Pedro. O que não podemos é deixar de confiar e clamar o auxílio do Senhor à nossa fraqueza em nenhum momento de nossa vida. Senhor, salva-me! Senhor salva-nos. Não desanimemos de falar com Deus nem de confiar a Ele todas as nossas lutas. Falemos com Deus de coração, na forma que saibamos e possamos, com a confiança de um filho na presença de quem o ama.

             É dentro dessa perspectiva de confiar no Senhor que a primeira leitura, do primeiro livro dos Reis (1Rs 19,9a.11-13) vai descrever o momento em que Elias, atendendo o chamado de Deus, vai ao Horeb para ver o Senhor que vai passar. O relato conta que veio um vento impetuoso, depois, um terremoto, depois fogo, mas o Senhor não estava em nenhum desses sinais. Quando sopra uma brisa leve, quase imperceptível, ali está o Senhor. Deus está nas coisas simples e se deixa encontrar nas situações mais frequentes de nossa existência. É percebendo o Senhor que vem a nós nas coisas simples que o salmo de resposta, o salmo 84, assim pede: Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei! Paulo, na segunda leitura, no contexto da salvação dirigida aos israelitas (Rm 9,1-5) afirma que Cristo, o qual está acima de todos, Deus bendito para sempre! Amém! Cristo como acima e maior que todas as situações e circunstâncias que se apresentam diante de nós! Renovemos nossa fé e nossa confiança com essas certezas.

    Quando o Senhor nos chamar, não tenhamos medo de responder, pois somos vasos de barro, mas sustentados pela graça e pelo poder de Deus.  Nosso abraço especial neste final de semana a todos os nossos pais! Como é gratificante ver a alegria dos pais ao ver seus filhos prosseguindo pelos caminhos da fé e do bem. Que nossas famílias sejam famílias cristãs, famílias que possam dar testemunho da beleza e da alegria de serem famílias cristãs. Procuremos participar dos eventos da semana nacional da família e rezar por todas as famílias que necessitam de nosso amparo humano e espiritual. Deus abençoe e guarde a todos.

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