Não existem barreiras para a caridade, escreve Bento XVI

Dez anos após a publicação da Encíclica Deus Caritas est, foi aberto no Vaticano o Congresso Internacional voltado a examinar as perspectivas teológicas e pastorais para o mundo de hoje da primeira Encíclica de Bento XVI. “A caridade nunca terá fim” foi o título escolhido para o encontro, para ressaltar que a mensagem do Deus-amor, contida no texto, é válida em todos os tempos. Os organizadores do Pontifício Conselho Cor Unum e os participantes das diversas Conferências Episcopais e dos numerosos organismos de caridades católicos, estarão em audiência com o Papa Francisco esta sexta-feira, 26.

“Temos dez anos de Deus Caritas est para trás, é uma bonita meta, porém, pensemos que é um texto ainda atual!”. Assim Dom Giampietro dal Toso, Secretário do Pontifício Conselho Cor Unum, explica o motivo do Congresso. Assim, não é a comemoração de um texto, mas a perspectiva que ele abre no mundo de hoje dominado frequentemente pela dimensão da utilidade:

“A caridade abre uma perspectiva de gratuidade, mas, se quisermos, ainda mais profundamente, esta mensagem da caridade responde no fundo àquilo que é o homem, porque cada homem no profundo de seu coração pede para ser amado e para amar. E sentir que Deus é caridade é uma mensagem que pode fazer o bem”.

A Caridade é o coração da fé e da vida da Igreja e o serviço da caridade é constitutivo dela, como são os Sacramentos e a Palavras. Caridade – explica o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, não é “simplesmente apelo moral”, nem “obrigação religiosa”, nem uma espécie de “assistência social”. A partir do amor sublime que une homem e mulher no matrimônio, em uma “comunhão físico espiritual” “natural” – em relação à qual, qualquer outro tipo de união representa uma falsa ideologia imposta pela política – o amor verdadeiro é dedicação e perdão, é dom ao próximo enquanto recebido de Deus. E na medida em que soubermos ser testemunhos deste amor – sublinha o purpurado – levaremos a luz de Deus ao mundo.

“Não existem barreiras para a caridade, cuja missão interna é precisamente fazer sentir a bondade de Deus além de qualquer fronteira”, escreve o Papa Emérito Bento XVI aos participantes do Congresso. “Ninguém é indiferente aos olhos de Deus” e isto é traço comum entre as religiões, de forma a poder constituir uma plataforma para o diálogo e um trabalho comum. Pelo mundo judaico, fala o Rabino David Shlomo Rosen do American Jewish Committee:

“Não existe uma palavra somente no hebraísmo para indicar a caridade…. A mais comum é o conceito de “Sadaqah”, que significa justiça. Em outras palavras, é o modo correto de comportar-se. Não é algo pelo qual tu recebes um tapa nas costas, mas deveria ser automaticamente o modo natural de comportar-se, com generosidade de espírito. É radicada no reconhecimento que todo ser humano é criado à imagem divina. Em outras palavras, a presença de Deus se encontra nos últimos, e por isto a nossa resposta aos outros é a resposta a Deus. Mas existe também uma palavra mais profunda e é a palavra “Hesed”, que significa mais do que simplesmente caridade, “graça”, no sentido mais próximo ao conceito cristão desta expressão, e se refere não somente às nossas interações humanas de bondade amorosa e misericordiosa, mas sobretudo à atitude de Deus em relação ao nós: de amor ilimitado, que sempre nos perdoa”.

RV: Pode ser instrumento de diálogo entre as religiões?

“Certamente, também no conceito de “Sadaqah”, que é verdade porque o momento em que reconhecemos que cada ser humano foi criado à imagem divina, então reconhecemos que não podemos realmente servir a Deus se não servimos os nossos irmãos; não podemos amar a Deus, se não nos amamos uns aos outros”.

Palavras que encontram eco nas afirmações do Professor Saeed Ahmed Khan, da Wayne State University:

“Frequentemente o conceito de “caridade” é limitado pelo modo em que as pessoas a descrevem: pensam, de fato, que signifique dar algo a alguém que está em necessidade e geralmente isto é colocado em termos de necessidades materiais: dar comida, abrigo, roupas…. Pelo contrário, “caridade” é uma expressão muito mais ampla e que ainda, no Islã, é considerada uma bênção, um instrumento para manifestar o amor e a misericórdia e a empatia em relação à humanidade. O Profeta Maomé disse que até mesmo um sorriso pode ser uma forma de “caridade””.

No Congresso será dado espaço também aos testemunhos de projetos concretos de caridade, vindos de Cabo Verde, Síria e América Latina. O Congresso trata também das perspectivas antropológicas e filosóficas da caridade.

Fonte: Rádio Vaticano

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here