Morre pe. Adolfo Nicolás, ex-prepósito general dos jesuítas

Pe. Nicolás guiou a Companhia de Jesus de 2008 a 2016. Faleceu em Tóquio, aos 84 anos.

Amedeo Lomonaco/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano

“Para servir a Deus e aos outros é preciso dar tudo: esta é a essência da vocação dos jesuítas e isso é o que cria profundidade nas relações.” Com essas palavras, o padre Adolfo Nicolás descreveu a missão jesuíta. Numa carta de pesar, o prepósito geral a Companhia de Jesus, pe. Arturo Sosa Abascal, informa a morte de Padre Nicolás “com o coração cheio de dor, mas também de gratidão”.

“Nunca esqueceremos duas palavras”, lê-se na carta endereçada à Companhia”, que o pe. Nicolás repetia constantemente e que nos inspiravam na renovação da Companhia: ‘universalidade’ (da nossa vocação e missão) e ‘profundidade’ (espiritual e intelectual, no âmbito de nossas missões)”.

“A expressão mais pura do amor de Deus é uma mãe com sua criança. Não há nada mais puro do que isso, porque exige tudo. E é isso que faz a criança crescer: é o amor materno, o amor que se doa completamente, sem condições (Padre Adolfo Nicolás).”

Nascido em Villamuriel de Cerrato, na Espanha, em 29 de abril de 1936, padre Nicolás se formou na Universidade Gregoriana. Entrou no noviciado de Aranjuez, na província Toletana, em 1953. O seu percurso de formação e pastoral está ligado de maneira especial à Ásia, ao Japão. Depois de se formar em Filosofia, na Espanha, estudou Teologia em Tóquio, de 1964 a 1968. Na capital nipônica, foi ordenado sacerdote em 1967.

Em 1971, obteve um mestrado em Teologia Sagrada e depois ensinou como professor de Teologia Sistemática na Universidade Sophia, em Tóquio. De 1978 a 1984, foi nomeado diretor do Instituto Pastoral de Manila, nas Filipinas. De 1991 a 1993, foi reitor do Noviciado de Tóquio. De 1993 a 1999, foi o provincial da província jesuíta do Japão. Foi eleito trigésimo superior geral em 19 de janeiro de 2008, sucedendo ao padre holandês Peter Hans Kolvenbach. Desde 14 de outubro de 2016, o novo prepósito da Companhia é o jesuíta venezuelano, padre Arturo Sosa Abascal.

A Companhia não é uma Igreja na Igreja

Na conclusão da 35ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, em 15 de março de 2008, padre Adolfo Nicolás recordou a missão dos jesuítas. Essas são algumas de suas reflexões na entrevista com Roberto Piermarini e Marco Bellizi na Rádio Vaticano:

“Como congregação”, disse o padre Nicolás, “estamos comprometidos em refletir sobre a nossa relação de serviço ao Papa; refletimos e redigimos esta declaração na qual reafirmamos que o nosso carisma é um carisma de serviço na Igreja. Não somos uma Igreja paralela e não somos uma Igreja na Igreja: fazemos parte da Igreja, um pequeno grupo que procura servir. Desejávamos reafirmar isso. Isso é essencial em nossa vocação. Então, naturalmente, reafirmamos a comunhão com o Pontífice. Por que fizemos isso tão explicitamente? Porque alguém na Igreja pensa que nós não somos tão leais, tão obedientes. Acredito que isso seja inevitável. Não é um problema para mim que as pessoas pensem assim. Seria um problema se isso fosse verdade.”

Apostolado intelectual

Em outra passagem da entrevista de 2008, padre Nicolás se concentra no apostolado intelectual: “Pessoalmente, gosto de reformular o trabalho intelectual em termos de profundidade. Não se trata apenas de pesquisa, não se trata apenas de escrever livros, não é apenas trabalhar numa universidade, mas é necessário ir em profundidade em todas as questões. O meu pensamento é que, onde quer que estejamos, devemos agir em profundidade: seja numa paróquia ou outro trabalho pastoral, numa escola de educação primária ou secundária ou num centro de espiritualidade, onde quer que estejamos, devemos ir em profundidade. Um dos maiores problemas da Igreja é o da pastoral. Com frequência falta a profundidade, falta a capacidade de oferecer aos leigos a possibilidade de crescer. Na Companhia, pensamos que isso exige sempre um trabalho intelectual, isto é, ir à fronteira da pessoa, ao seu coração, ao seu crescimento, ao diálogo com a cultura e ao modo em que a cultura entra na vida dos cristãos. Este é um campo importante. Aqueles que podem fazê-lo devem entrar no ensino superior, na universidade, e na universidade conseguir entrar em diálogo com os respectivos especialistas do mundo secular, a fim de encontrar uma humanização da ciência nos diversos campos”.

Oração escrita pelo padre Nicolás

A melhor maneira de lembrar o padre Adolfo Nicolás, escreve o padre Arturo Sosa na carta dirigida a toda Companhia de Jesus, é talvez através de “uma breve oração, escrita de próprio punho, em italiano, depois de um curso de Exercícios de oito dias com seu Conselho Geral em 2011”. A versão original da oração diz:

“Senhor Jesus, não sabemos quais são as fraquezas que você viu em nós que o fizeram pensar em nos chamar, apesar de tudo, para sua missão. Agradecemos-lhe por este chamado e recordamos-lhe que você prometeu estar conosco até o fim dos tempos. Há muito que tentamos trabalhar em vão a noite toda, talvez porque esquecemos que você está conosco. Pedimos-lhe para estar presente em nossa vida e em nosso trabalho hoje, amanhã e nos próximos tempos. Enche a nossa vida, que queremos oferecer a seu serviço, com o seu Amor. Esvazie os nossos corações de tudo o que é somente e egoisticamente “nosso”, “meu’, sem compaixão e sem alegria. Ilumine a nossa mente e o nosso coração. E não se esqueça de nos fazer rir quando as coisas não saem da maneira que queríamos. Faz com que no final do dia, estejamos mais unidos a você, e possamos ver e descobrir mais alegria e mais esperança”.

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