MONOTEISMO TRINO

    Uma das grandes questões da revelação cristã, talvez o mistério maior de sua doutrina, é a compreensão e assimilação do que seja “Deus uno e trino”. Pela lógica humana, onde dois e dois são quatro, fica difícil explicar “um só Deus em três pessoas”, mas pela lógica da fé o inexplicável foge dos parâmetros humanos para se alojar na grandiosidade dos mistérios que rondam nossa própria existência. Então nos calamos e aceitamos, pois a fé não se explica, se vive. E nos persignamos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

                Para os “experts” da ciência humana essa submissão aos mistérios é pura infantilidade, foge da lógica, subverte nossa capacidade de raciocínio, menospreza a própria inteligência. Mas eles próprios não encontram respostas que expliquem muitas das lógicas que defendem. Por exemplo: donde viemos? Por que viemos? Para onde vamos? Então preferem imitar os três macacos – aquele dos quais se acham parentes – com uma atitude de fuga comum às crianças birrentas ou no mínimo preguiçosas: não vejo, não ouço, não falo!

                Já para os que acreditam, de uma forma ou de outra, – não importa o grau e intensidade da fé que professem – se dizem tementes a Deus e aceitam os mistérios da Santíssima Trindade, a lógica humana é falível e secundaria, uma vez que não explica a razão da própria existência. Com alegria e sem questionamentos, aceitam e respeitam os mistérios de fé. Vivem na compreensão de um dom, que só um coração agraciado por uma experiência de Deus é capaz de aceitar. Isso não é submissão, mas descoberta pessoal, revelação! Diria mais: vivência do Amor.

                Uma das citações que mais nos aproxima dos mistérios da Trindade está em João, capítulo terceiro. No verso dezesseis diz: “Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. Deus amou sua obra, por ela doou seu único Filho, que nos prometeu a plenitude no Espírito, na imortalidade de nossas almas. Deus nos amou. Ora, a virtude do amor exige interação, reciprocidade. Exige comunhão, vida comunitária. Então há uma relação mútua dentro da Trindade que a faz comunidade de Amor. Daí a conclusão óbvia do evangelista João, aquele que Jesus amou: Deus é Amor.

                Compreender tudo isso não é fácil aos simples olhar da lógica. Tanto que o bispo de Hipona, Santo Agostinho, levou dezesseis anos para escrever A Trindade, sua obra teológica mais surpreendente pelo caráter profundo das questões, alavancada sempre com seu espírito de oração constante. Acabou nos deixando uma pérola, com afirmações como: “No Pai está a unidade, no Filho a igualdade e no Espírito Santo a harmonia entre a unidade e a igualdade. Esses três atributos todos são um só, por causa do Pai, todos são iguais por causa do Filho e todos são conexos por causa do Espírito Santo”. Em suma: unidade, igualdade e harmonia constituem a essência do Amor, razão da Trindade; é o tripé da vida plena que sonhamos, a Plenitude Divina.

                Quando, pois, nos acusam de idolatria, de politeísmo ou de falsa religiosidade pela complexidade dos mistérios de nossa fé, lembrem-se de que Jesus, o Filho, sofreu as mesmas acusações e incompreensões. Seus delatores não silenciaram nem depois de sua morte. Da ressurreição nem ousam falar! No entanto, nenhum outro povo é capaz de amar, perdoar, compreender e interceder por estes que nos perseguem, até mesmo na hora da morte. Eles não sabem o que pensam, o que dizem, o que fazem. Perdoa-lhes Pai, em nome de Jesus Cristo e na unidade do Espírito Santo.

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