Monge sem convento

    O grande perigo dos nossos tempos, do ponto de vista da espiritualidade e da mística cristã, é o de não se dar a devida importância à oração silenciosa e contemplativa. Somos desafiados a ir além da compreensão deste candente assunto, dando aquele belo mergulho na oração contemplativa como um caminho divino, um apostolado libertador, convencendo-nos do imprescindível: o de sorver na fonte inexorável da íntima união com Deus.
    Diante do grande espetáculo e teatro da vida, só mesmo um coração incessante, voltado para Deus, quando se nota facilmente que as pessoas parecem perder de vista o farol norteador de sua própria existência, no absoluto de Deus. Eis o poço inesgotável de Deus a se revelar na espiritualidade do bem-aventurado Charles de Foucauld, assassinado há 101 anos, no Deserto do Saara, em 1º de dezembro de 1916. Somos chamados sempre mais a nos convencer da nossa estreita aproximação do onipotente Deus. No egoísmo e na indiferença do Irmão Charles de Foucauld lá estava Deus para, providencialmente, transformar seu coração duro e de pedra em um coração bom, dadivoso e com marcas de esplêndidas virtudes.
    Que cresça a consciência, nos passos de Charles de Foucauld, o bem amado no Senhor, de que o critério decisivo, segundo a vontade de Deus, é o compromisso do amor solidário, sem jamais esquecer de que o irmão universal gritou o Evangelho com a própria vida. O seu amor faz-nos recordar o que alhures já dissemos, a respeito de sua conversão: “Parece até que estava previsto nos planos de Deus, porque, ao cair nas mãos de Deus e ser seduzido por Jesus de Nazaré, encontrou seu maior tesouro”. Associado aos passos de seu Mestre e Senhor, René Bazim, paradoxalmente, disse a seu respeito: “Foi um monge sem mosteiro, um mestre sem discípulos, homem do deserto à espera de um tempo que não devia ver”.
    Dom Helder Câmara, no seu fascinante deslumbre, ao prefaciar o livro de René Voillaume, “Fermento na Massa”, edição brasileira alusiva ao centenário de nascimento de Charles de Foucauld (1858-1958), na seguinte assertiva: “Aquilo que ele começou, e jamais conseguiu realizar em vida através de seguidores, é hoje realizado através dos irmãozinhos e das irmãzinhas que se espalham pelo mundo inteiro, escolhendo de preferência os pontos da terra onde residem criaturas em situação infra-humana ou em estado de rejeição ou abandono”. Amém!

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