Amedeo Lomonaco – Vatican News
No dia 24 de março de 1980, o arcebispo Oscar Romero foi morto em El Salvador enquanto celebrava a Eucaristia. Esta data inspirou a celebração de um Dia de Oração e Jejum em memória dos missionários mártires. Criada em 1993 por iniciativa do Movimento Juvenil Missionário, que agora se tornou Missio Jovens. Desde então, a cada ano é realizado um evento especial de oração para recordar todas as testemunhas do Evangelho que foram mortas em várias partes do mundo. O 30º Dia em memória dos Missionários Mártires se concentra no tema “A Voz do Verbo”.
Vinte e duas vítimas em 2021
Segundo dados coletados pela Agência Fides, no ano de 2021 foram mortos 22 missionários no mundo: 13 sacerdotes, 1 religioso, 2 religiosas, 6 leigos. Quanto à distribuição por continentes, o maior número de vítimas foi na África com 11 (7 sacerdotes, 2 irmãs e 2 leigos), seguido pela América com 7 (4 sacerdotes, 1 religioso e 2 leigos), Ásia com 3 (1 sacerdote e 2 leigos) e Europa com 1 vítima (um sacerdote).
Vigília de oração
Em memória dos mártires missionários, hoje (24) será realizada uma vigília de oração na Basílica de São Bartolomeu em Roma, organizada pelo Departamento missionário diocesano, pela Cáritas de Roma e pela Comunidade de Santo Egídio. A liturgia, presidida pelo Cardeal Vigário Angelo De Donatis, também contará com a presença de representantes das comunidades ortodoxa, anglicana e evangélica. Esta comemoração acontece num momento dramático abalado pela pandemia e pela guerra, afirmou Dom Marco Gnavi, diretor do departamento diocesano para o ecumenismo e o diálogo e organizador da vigília.
Entrevista
Falemos sobre este dia, 24 de março. Durante a vigília, na basílica de São Bartolomeu serão recordados os missionários mártires que, em diferentes contextos históricos, anunciaram o Evangelho nas periferias geográficas e existenciais…
Antes de tudo, devemos considerar que todos eles estão no coração de Deus, mesmo os que não serão citados. Serão evocados contextos de perseguição como os totalitarismos: refiro-me ao Metropolitano Benjamim durante o estalinismo, também Omeljan Kovč, um sacerdote greco-católico ucraniano morto no campo de concentração Majdanek durante o nazismo. Também me refiro aos recentes mártires das máfias: padre Pepe Diana, padre Pino Puglisi e muitos outros. Há também muitos construtores de paz: como Dom Michael Courtney, núncio apostólico no Burundi, aos membros da Fraternidade melanésia, anglicanos, assassinados nas Ilhas Salomão. Há muitos cujos nomes também estão presentes na basílica de São Bartolomeu. Um lugar escolhido por São João Paulo II como santuário e memorial a estas testemunhas dos séculos XX e XXI. Para nós eles são figuras eloquentes e falam, na humildade de suas escolhas e na grandeza de sua fidelidade, a nós cristãos de hoje.
Há também muitos mártires desconhecidos que falam ao homem de hoje…
Na carta apostólica “Tertio millennio adveniente”, João Paulo II falava da nuvem de soldados desconhecidos da causa de Cristo como um tesouro a ser aberto, um baú de tesouros a ser oferecido a todas as gerações. Naturalmente eles nos falam de fidelidade, de caridade ao Senhor, até o dom extremo da vida. Eles nos falam das bem-aventuranças. Indicam as feridas da humanidade: guerra, miséria, sofrimento. E estas guerras, sofrimentos e misérias são testemunhadas por milhões de refugiados que alcançaram, ou tentaram alcançar, a Europa. São parentes próximos dos refugiados que fogem da Ucrânia, desta terra ferida. E nos dizem que, através deles e no meio deles, encontra-se também o próprio Senhor que se identifica com estes irmãos menores.
Páginas do Evangelho escritas ao lado de povos perseguidos, dos que sofrem…
A vida e a morte desses mártires, no sentido mais amplo, e testemunhas da fé são páginas do Evangelho escritas em sua existência. O alfabeto destas páginas pode ser encontrado na própria Escritura, nas dobras e contradições da história. São páginas que têm muito a dizer sobre nosso presente e nosso futuro.