Com a chamada “missa da unidade” (congrega todos os padres em torno do bispo para celebrar o dia da instituição do sacerdócio), de consagração do óleo do crisma e a bênção dos óleos dos catecúmenos e dos enfermos, em cada Catedral (ou outra Igreja da Diocese), concluímos a Quaresma e continuamos a renovação do sinais sacramentais. Para isso, o evangelista Lucas nos recorda o início da missão de Jesus, quando na sinagoga de Nazaré, sua pátria, fazendo uso do texto do profeta Isaías, afirma: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação dos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18). Este anúncio da Salvação deve modelar a vida dos discípulos. Como escolhidos e enviados para colaborar mais intimamente com a missão de Jesus, temos hoje a oportunidade de rever nossa adesão e procurar sempre mais modelar nossa vida na palavra e no testemunho Daquele que nos chamou e que segue à nossa frente apontando-nos o caminho.
Retomando as palavras do Profeta Isaías, e aplicando-as a Si mesmo, diz Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção” (Lc 4, 18). Cristo Jesus é o Ungido do Pai, por excelência. Também nós cristãos fomos ungidos pelo Espírito de Cristo. Daí a riqueza do simbolismo que impregna esta celebração da Missa do Crisma. O óleo que hoje consagramos e abençoamos e que ao final desta celebração entregamos aos representes dos vicariatos episcopais, espalhar-se-á por toda a nossa Igreja Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, assim como se derrama a graça de Deus, pela ação do Espírito Santo, na vida dos cristãos e em nossas comunidades. Do mesmo óleo todos os sacramentos por todo o nosso território. Belo sinal de unidade!
Na Bíblia, o óleo é símbolo do Espírito Santo: É usado como consagração (Gn 28,18; Ex 30, 22-23; 40,9; 1Sm 10,1; 1Rs 19,16; Sl 45,8; At 10,38), como bênção (Sl 133,2), como cura (Mc 6,13; Lc 10,34; Tg 5,14), sinal de hospitalidade (Lc 8,36-50), símbolo do amor (Ct 1,12; Jo 12,1-8; Mc 14,3-9) e como conservação contra a corrupção (Mc 16,1; 14,3-9).
Com seu extraordinário sentido simbólico, o óleo faz-nos entender a grandeza do mistério que celebramos na fé: o santo Crisma (mistura de óleo e perfume) simboliza o próprio Espírito Santo com o qual Jesus foi consagrado para a missão messiânica. Como sabemos, Messias ou Cristo significa “ungido”. O óleo dos catecúmenos indica a fortaleza na luta da vida cristã. O óleo dos enfermos, usado pelos sacerdotes na unção dos doentes, é sinal de força, alívio, conforto, perdão e libertação.
O texto do Apocalipse (cf. Ap 1,5-8) que escutamos na Segunda Leitura, recorda-nos que Deus fez de todos nós um novo e definitivo povo sacerdotal. O conceito de sacerdócio implica no de consagração, cujo sinal exterior é a unção com o óleo santo. Por isso, a Igreja continua a consagrar o óleo que servirá para assinalar a fronte dos seus filhos e filhas. Conforme a tradição, nesta Missa consagramos o Santo Crisma para significar o dom do Espírito Santo no Batismo, na Confirmação e na Ordem. Abençoamos também o óleo para os Catecúmenos e os Enfermos, sinais da força que liberta do mal e sustenta na provação da doença. Estes santos óleos, distribuídos para toda a nossa Arquidiocese, serão sinal de unidade e fonte de bênçãos para todos os que com ele forem ungidos.
Nesta celebração, os sacerdotes renovam suas promessas sacerdotais. O Padre, homem escolhido entre homens e constituído em favor de todos, é discípulo missionário servidor do povo de Deus. E sustentado pela contínua busca da santidade de vida, é facilitador desse indispensável e inadiável encontro pessoal com o Cristo vivo, levando todos ao reconhecimento e à sabedoria de pautar a sua vida tendo Deus como seu centro e fonte inesgotável do seu sentido. O sacerdote, por isso mesmo, faz anteceder às suas muitas tarefas no labor de cada dia a serviço do povo, anunciando o Evangelho, o cuidado e o compromisso com a condição do seu ser. É a santidade de vida que alavanca, fecunda e torna exitoso o serviço prestado na condição própria de sacerdote.
A vida do sacerdote está envolvida pelo mistério de Cristo. Nada explica suficientemente a vida do padre a não ser o mistério de Cristo. Neste sentido, hoje é importante insistir que o, antes de tudo, é e não simplesmente faz. Aqui poderíamos discorrer sobre o grande perigo na vida do padre da tentação do fazer muitas coisas, a tentação do ativismo. Com muita propriedade, o sacerdote pode atribuir a si aquelas palavras de São Paulo na Carta aos Colossenses: nossa vida está escondida com Cristo, em Deus.
Portanto, que possamos com esta celebração concluir bem a Quaresma, para começarmos à noite, com a Missa da Instituição da Eucaristia e do Lava-pés, este sagrado Tríduo. Celebrar a Missa dos Santos Óleos é celebrar a unidade diocesana. A Missa Crismal, assim sendo, é quase epifania da Igreja, corpo de Cristo organicamente estruturado, que, em seus vários ministérios e carismas, exprime, pela graça do Espírito, os dons nupciais de Cristo à sua esposa peregrina no mundo. (Ef 5,27)