Vida religiosa no Brasil

    Nestes dias estão reunidos aqui no Rio de Janeiro as superioras e os superiores gerais das congregações nascidas no Brasil. É a XXXIII Assembleia eletiva da USGCB. Tem como tema: “À Luz da Palavra de Deus, fortalecer a missionariedade na inserção, onde a vida está ameaçada”. O lema é: “Eu vi, escutei, desci… vai, Eu te envio”. (Ex 3,7…). São perto de 90 superioras/es presentes, refletindo e se encontrando. Terão depois um momento eletivo. É um acontecimento muito importante, pois demonstra a fecundidade da vida religiosa com suas fundações e suas casas espalhadas não só no Brasil, mas também em outros países do mundo.
    Neste Mês Vocacional que chega ao fim, tivemos oportunidade de rezar pelas vocações à vida consagrada no terceiro domingo de agosto, solenidade da Assunção de Maria. Quando nos referimos à vida religiosa, temos presente os homens e mulheres que, vivendo em comunidade, buscam a perfeição pessoal e assumem a missão própria do seu Instituto, Ordem ou Congregação.
    Na Igreja no Brasil, como disse, rezamos pelas vocações à vida consagrada no terceiro domingo de agosto. São João Paulo II instituiu uma data especial para a comemoração da vida consagrada, dia 2 de fevereiro, festa da Apresentação do Senhor. Temos também o dia de oração pela vida contemplativa no dia 21 de novembro, apresentação de Maria. São muitas ocasiões para refletir e rezar.
    O fundamento evangélico da vida consagrada está na relação que Jesus estabeleceu com alguns de seus discípulos, convidando-os a colocarem sua existência ao serviço do Reino, deixando tudo e imitando mais de perto a sua forma de vida.
    A origem da vida consagrada está, pois, no seguimento de Jesus Cristo a partir da profissão pública dos conselhos evangélicos. A referência vital e apostólica são os carismas da fundação. Sua função consiste em dar testemunho de santidade e do radicalismo das bem-aventuranças. Exige-se dos consagrados total disponibilidade e testemunho de vida, levando a todos o valor da vocação cristã. São sinais visíveis do absoluto de Deus através do sinal de Jesus Cristo pobre, casto e obediente.
    O carisma da vida religiosa está orientado também para o mundo. Demonstra o contraste, não é fuga, mas compromisso. A vocação religiosa é assumida por homens e mulheres que foram chamados a testemunhar Jesus Cristo de uma maneira radical. É a entrega da própria vida a Deus. Essa vocação existe desde o início do Cristianismo: vida eremítica, monástica e religiosa. Nesses dois mil anos de história surgiram inúmeras ordens, congregações, institutos seculares e sociedades de vida apostólica.
    Os religiosos vivem como testemunhas radicais de Jesus Cristo, como sinais visíveis de Cristo libertador, a total disponibilidade a Deus, à Igreja e aos irmãos e irmãs, a total partilha dos bens, o amor sem exclusividades, a consagração a um carisma específico numa comunidade fraterna, a dimensão profética no meio da sociedade e assumem uma missão específica.
    O dever missionário das pessoas consagradas tem a ver primeiro com elas próprias, e cumprem-no abrindo o seu coração à ação do Espírito de Cristo. O seu testemunho ajuda a Igreja inteira a lembrar-se de que em primeiro lugar está o serviço gratuito de Deus, tornado possível pela graça de Cristo. As pessoas consagradas serão missionárias, antes de tudo, aprofundando continuamente a consciência de terem sido chamadas e escolhidas por Deus, para quem devem orientar toda a sua vida e oferecer tudo o que são e possuem, libertando-se dos obstáculos que poderiam retardar a resposta total de amor. Desta forma, poderão tornar-se um verdadeiro sinal de Cristo no mundo. Também o seu estilo de vida deve fazer transparecer o ideal que professam, propondo-se como sinal vivo de Deus e como persuasiva pregação, ainda que muitas vezes silenciosa, do Evangelho.
    Todo religioso deve “sentir com a Igreja”, imbuir-se dos seus problemas, estar a par de suas necessidades, trabalhar fervorosamente no seu serviço e palmilhar suas orientações. Tal empenho é como uma exigência prioritária do seu mesmo ser religioso, de sua consagração, que o engaja no íntimo mistério da Igreja.
    A presença dos consagrados e consagradas em nossas comunidades é significativa e imprescindível pelo que são (a vida) e pelos serviços que prestam nos diferentes campos pastorais. Os religiosos e religiosas encontraram novas maneiras de viver em comunidades e de animar as comunidades eclesiais e as pastorais específicas. Ou seja, em tudo a vida consagrada tem aprofundado sua consagração a Deus na vivência dos conselhos evangélicos em vista da construção do Reino.
    Os consagrados são homens e mulheres que podem acordar o mundo. A vida consagrada é uma profecia. “Profecia no sentido de transformar todas as realidades estéreis e áridas sob o olhar fecundo e terno de Deus”. A frase dita pelo Papa Francisco na promulgação do Ano da Vida Consagrada expressa, de forma clara, a missão dos religiosos e religiosas na Igreja.
    Desta vocação brotam carismas e atuações que enriquecem nossas comunidades com pessoas que buscam viver verdadeiramente seus votos de castidade, obediência e pobreza. São testemunhos vivos do Evangelho. Rezemos pelas congregações nascidas no Brasil. Que sejam fecundas em vocações e santidade. Que possam sempre mais missionárias ir às periferias existenciais como Igreja samaritana em saída. Que, unidas às Dioceses onde estão inseridas, sejam sempre mais missionárias da alegria do evangelho.
    Perseverantes, os religiosos estão a serviço do Povo de Deus por meio da oração, das missões, da educação e de tantas outras obras de caridade. Com sua vocação, eles demonstram que o Evangelho é plenamente possível de ser vivido, mesmo em um mundo excessivamente material e consumista. São sinais do amor de Deus e da entrega que o homem é capaz de fazer ao Senhor.