Minha palavra contra a dele

    Ainda me recordo dessa estranha forma de juramento, para atestar uma verdade: dou-lhe minha palavra. Excluía-se usar em vão o nome de Deus, mas dava-se a própria cara a tapa. Acredite em mim, se quiser… Tirando o elemento do caráter, que todos prezavam com orgulho, fico a imaginar o peso da palavra, essa que constrói e destrói com a força de um vulcão. Por isso, “levantar falso testemunho” é um dos mandamentos cristãos. Por isso, quando tribunais humanos fazem uso da palavra de uma testemunha, o fazem acreditando na integridade e na boa intenção daquele que se propõe a evidenciar a justiça sobre um fato, um crime, uma contravenção qualquer. Hoje, no entanto, nem que se faça uso do nome de Deus, podemos por a mão no fogo por causa da palavra de muitos. A palavra humana perdeu sua força.
    Mas o que dizer da palavra de Deus? Escrita, registrada e multiplicada por mãos humanas, é hoje o maior tesouro que nossa história compilou. Não há na Bíblia palavras vãs. Nem crendices superficiais. Nem fantasias da demência humana. Nem promessas fúteis. Nem testemunhos comprados por advogados oportunistas. Nada disso. A Bíblia é a Palavra de Deus e ponto. Mas, pelo fato de ouvirmos com frequência essa afirmativa, muitas vezes não paramos com serenidade sobre ela, para buscar ao menos um pouco de sintonia, clareza de idéias, entendimento ou mesmo forças sobre tão profunda definição. Se palavra, é revelação. Se divina, é extraordinária. Se dirigida à humanidade, é tudo o que humanamente esperamos para compreensão da vida: uma explicação vinda de quem nos criou. Daí, a trilogia fatal: origem, causa e conseqüência. Ou seja: De onde viemos, por que viemos e para onde vamos?
    Tais respostas Deus nos dá quando sua palavra se deixa ecoar dentro de nós. Não que um simples folhear das páginas sagradas, citando o livro tal, capítulo tal e versículo subsequente, elimine de imediato a questão ou questões levantadas. Não estamos diante de um dicionário, um livro de perguntas e respostas, mas, sobretudo, diante de um desafio: colocar na vida o timbre de Deus sobre nossos ouvidos. Ler com os olhos ou com o tato, qualquer criança é capaz, desde que alfabetizada em sua própria língua. Mas a Palavra de Deus só é possível ser entendida quando lida com o coração e posta em prática. É certo que nem sempre temos elementos que nos ajudam na compreensão imediata de certas situações. É certo que, à luz de um simples olhar, nem sempre os enigmas bíblicos facilitam nosso entendimento ou busca de respostas que fazemos. Mas também é certo que a inspiração divina e a ação de seu espírito de amor por nós – aquele que se revela como Espírito Santo – está sempre à frente de nossos dilemas, para nos religar com as verdades do Pai.
    Para não nos alongarmos – pois que o tema é um manancial inesgotável – busco o essencial da mensagem: acreditar na força da Palavra. Não importa qual sua procedência, mas é esta o maior dos instrumentos da Criação. Vinda de Deus ou proferida entre nós, é a palavra que gera e conduz a existência humana. A comunicação, esse dom humano de interagir-se e expandir seus conhecimentos de geração em geração, sem dúvidas, é o dom mais precioso que nos foi dado nessa odisséia. Meçamos nossas palavras, sejam estas escritas, faladas ou criptografadas em ondas sonoras, radiofônicas e que tais… Quando Deus “disse”, tudo se fez. Quando o homem “diz” há dois caminhos: fazer o novo ou destruir o velho. Não só construímos, como também destruímos. Usando a língua, usamos um instrumento de vida ou morte. Voltemos sempre às nossas origens, como bem escreveu João: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. Nenhuma outra palavra pode acrescentar algo mais, pois a Palavra é Deus. Talvez nossa forma de pronunciá-la – com a vida – ajude-nos na compreensão desse mistério, o Verbo que se fez Carne.

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