O Papa Francisco dirigiu ao mundo uma mensagem especial pelo Dia Mundial do Migrante e Refugiado, com o tema: “Os emigrantes e refugiados interpelam-nos. A resposta do Evangelho da misericórdia”. É uma bela reflexão que, dentro do ano do Jubileu da Misericórdia, nos interpela sobre as bases de nossa atual sociedade.
Esse fato, que existe desde sempre, tornou-se complexo nestes últimos tempos, pois já não se trata apenas da liberdade do ir e vir e sim da imposição de saídas forçadas e rejeição de aceitação por parte de outras nações.
Essa data, comemorada diferentemente nas várias regiões do mundo, foi celebrada no início do ano em nível mundial com essa mensagem do Papa. Como é um tempo sempre recorrente e um grande trabalho que a nossa Caritas Arquidiocesana desenvolve há tanto tempo, creio que será bom aprofundar um pouco as reflexões que o Papa Francisco nos coloca.
No segundo domingo do tempo comum, enquanto aqui vivíamos a trezena de São Sebastião, em Roma foi celebrado o Jubileu dos Migrantes. O presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes, o Cardeal Antonio Maria Veglió, presidiu a Santa Missa e consagrou as hóstias preparadas por detentos do cárcere de segurança de Opera, em Milão.
Com o Espírito do Jubileu, mais de 5 mil migrantes participaram do Ângelus com o Papa, e depois passaram pela Porta Santa e entraram na Basílica para a Celebração Eucarística. Nesse dia estava presente na Basílica de São Pedro a Cruz de Lampedusa. Essa Cruz foi um projeto realizado pela Fundação Casa do Espírito e das Artes, realizada com madeira de barcos utilizados pelos migrantes e abençoada pelo Papa Francisco no dia 9 de abril de 2014. Desde desse dia, a Cruz viaja por toda a Itália, levada por voluntários, unindo assim: paróquias, mosteiros, cárceres e hospitais.
A respeito da Cruz de Lampedusa, disse o Mons. Gian Carlo Perego, diretor da Fundação Migrantes, que promove a iniciativa, “sob o olhar e a proteção da Cruz de Lampedusa, os migrantes confiarão a Deus, rico em misericórdia, o caminho e os sofrimentos de muitos irmãos e irmãs refugiados em fuga de guerras e desastres ambientais”. Como já foi citado, as hóstias que serão consagradas foram confeccionadas por três detentos. Estes cometeram homicídios, mas seguiram um percurso de conscientização e redenção pessoal com a ajuda e o apoio de sacerdotes do cárcere.
Devido a essa celebração, o Papa Francisco dirigiu uma mensagem para esse dia, assinada no dia 12 de setembro de 2015. Nesta, ele pontuou alguns elementos essenciais para o acolhimento e para a problemática da migração e dos refugiados, que cito adiante. Ele começa a mensagem citando a Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia que “há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai” (Misericordiae Vultus, n.3). Assim como Deus, na sua infinita Bondade e Misericórdia, acolhe a todos, somos também convidados a acolher e a ser misericordiosos uns para com os outros.
O Santo Padre fala dos fluxos migratórios e que estes constituem uma realidade estrutural. Vemos inúmeros casos de histórias dramáticas de milhões de homens e mulheres que interpelam a comunidade internacional. A pior coisa que pode existir para o problema do fluxo imigratório e dos problemas decorrentes são dois aspectos: a indiferença e o silêncio. Quantas pessoas que diante disso se encontram como expectadores às mortes por sufocamentos, privações, violências e naufrágios. De grandes ou pequenas dimensões, sempre tragédias são, mesmo quando se perde uma única vida humana.
Temos que saber e ter em mente e em nossas atitudes que os emigrantes são nossos irmãos e irmãs. São pessoas que saem de suas origens para buscar melhores condições de vida em outras. São pessoas que querem sair muitas vezes não só da miséria financeira, mas da miséria humana e cultural. Olhando para esta realidade, nos vem à mente a atitude de Jesus que encoraja a acolhida do estrangeiro. Que bom ver em muitas instituições, associações, movimentos, grupos comprometidos, organismos diocesanos, nacionais e internacionais o acolhimento a estes que necessitam.
A resposta da Igreja diante desses nossos irmãos e irmãs é colocar-se ao lado de todos aqueles que se esforçam por defender o direito de cada pessoa a viver com dignidade, exercendo antes de tudo o direito a não emigrar a fim de contribuir para o desenvolvimento do país de origem. Esse processo diz o Papa: “inclui a necessidade de ajudar os países donde partem os emigrantes e refugiados”. Assim se confirma: a solidariedade, a cooperação, a interdependência internacional e a distribuição equitativa dos bens da terra são elementos fundamentais para atuar, em profundidade e eficácia.
Portanto, convido a todos a exercerem a caridade e o amor com os vários refugiados. Entrego-os nas mãos de Deus e nas mãos da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe dos emigrantes e dos refugiados. Possamos acolher o outro e enxergar nesse outro o próprio Deus. Vivamos na misericórdia, no amor, na paz e no acolhimento.