Mentira: a arte de iludir ou um mal necessário?

Mas, afinal, por que agimos de forma insincera com tanta facilidade? Simples: porque funciona e podemos nos beneficiar com isso

Todos os seres humanos mentem, uns mais, outros menos, mas a mentira faz parte da sociedade. A mentira está presente em todo lugar. Pode ser uma mentira politicamente correta ou uma “mentirinha” para levar vantagem, fugir de um problema ou uma patologia obssessiva, a mitomania. Existem dois principais motivos que levam as pessoas a mentir: proteger-se de uma possível consequência negativa de nossas ações e preservar a autoimagem. Ou seja, quando sabemos que nossa posição poderá sofrer reprovações ou sanções, optamos por faltar com a verdade.

Temos uma tendência natural para mentir. Se uma pessoa quer dar o fim em um relacionamento, pode dizer simplesmente algo como “o problema não é com você, é comigo” e parecer educado e sensível, quando, na verdade, se quer dizer: “o problema é com você sim, mas não quero te magoar dizendo a verdade”. Mas, afinal, por que agimos de forma insincera com tanta facilidade? Simples: porque funciona e podemos nos beneficiar com isso.

Tanto os homens como os animais mentem, evidente que nestes não existem processos cognitivos, ao longo de nossa evolução sofisticamos a arte de mentir, mais do que isto, elevamos ela ao máximo; muito além do motivo de sobrevivência, tal como ocorre em outras espécies.

No entanto, a mentira também pode ser uma doença, como no caso das pessoas que padecem de mitomania, que inventam histórias sobre elas, ou até sobre as pessoas mais próximas. Esta doença é muito complicada, pois se torna muito difícil a sociedade conviver com essa pessoa, tem sempre a desconfiança de que ela não está a dizer e verdade, pois tem mais facilidade em mentir.

Como seria o mundo se ninguém pudesse mentir? Todos os políticos cumpririam suas promessas, ninguém manteria segredos e traição seria algo inexistente. Ao mesmo tempo, verdades inconvenientes, como o que as pessoas realmente pensam sobre seu peso ou seu cabelo, seriam ditas sem pestanejar. Normalmente vista como a vilã dos relacionamentos pessoais, a mentira existe porque nos ajuda a cumprir um propósito essencial: a convivência em sociedade.

Nesta postagem aqui falamos sobre o filme “O Primeiro Mentiroso”, de 2009, é por este caminho que segue o protagonista Mark Bllison (Ricky Gervais). Mark vive em um mundo onde ninguém sabe mentir. Um dia, depois de ter sido demitido e de ter tido um encontro frustrado com a garota dos sonhos, ele mente para o atendente do banco em relação à quantia que deveria ter ali. Pronto. A enganação seria a primeira de muitas, que envolveriam, inclusive, a habilidade de falar com “o homem lá em cima”, uma espécie de Deus. Mark seria a primeira pessoa a conseguir enganar o próximo. Apenas quando sente-se acuado é que ele descobre sua capacidade singular.

Mark agiu por impulso e, embora não conhecesse o conceito de mentira, mentiu conscientemente. Segundo Smith, no entanto, boa parte das mentiras é proferida inconscientemente. “Algumas vezes, quando mentimos, não temos consciência que estamos fazendo isso. Em outras palavras, mentimos até para nós mesmos”.

Algumas pessoas defendem que seria impossivel viver em uma sociedade que só fala a verdade. A mentira e a enganação seriam então necessárias para o convívio social? Seria ético mentir para manter a harmonia social?

A dissimulação atravessa toda a história da humanidade, nutrindo a literatura desde o astuto Ulisses de Homero aos livros de maior sucesso popular de hoje. Uma ida ao cinema, e é grande a probabilidade de que o filme aborde alguma forma de ardil. Tais histórias talvez nos sejam muito fascinantes porque o mentir permeia a vida humana.

Ironicamente, a principal razão de sermos tão bons para mentir aos outros é que somos bons para mentir a nós mesmos. Embora estejamos sempre prontos para acusar os outros de nos enganar, somos incrivelmente distraídos com nossa própria duplicidade. Experiências de termos sido vítimas de falsidade são gravadas indelevelmente em nossa memória, mas nossas próprias prevaricações escapam tão facilmente de nossa boca que geralmente nem nos damos conta delas. Mentir para nós mesmos pode ser uma maneira de manter a saúde mental.

Quando a mentira é descoberta e tem mais desvantagens que benefícios (sua esposa não olha na sua cara depois de descobrir seu caso extraconjugal) – só assim algumas pessoas dizem a verdade. Ao ser desmascarado, o mentiroso fica, muitas vezes, encurralado. Somente nessa hora demonstra algum tipo de arrependimento. Até então, tinha  a sensação de jamais ser descoberto.

“Suave é ao homem o pão da mentira, mas depois a sua boca se encherá de cascalho” (Provérbios 20:17)

Enquanto está impune em sua mentira, o mentiroso se mantém altivo, inatingível, mas depois, não terá motivos para se vangloriar. O modo perverso como o mentiroso cria uma teia, onde uma mentira leva a outra. Cria uma mentira para encobrir a anterior, é a arte de dissumular, conduzir e induzir as pessoas a sua volta, até que, uma hora ou outra, a casa cai…

“E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Apocalipse 21:27)

A vida cristã é imcompatível com a mentira! Ainda que apareçam exemplos como o de Raabe, que salvara os espias hebreus em Jericó. A Bíblia sempre reserva uma palavra de juizo em relação à mentira. Aproximadamente 200 versículos biblicos citam a mentira, e sempre como uma ação passível de condenação.

Minha oração neste momento:

“Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume” (Provérbios 30:8)

 

Fonte: Aleteia