Memórias de presenças

    “Ubi Petrus, ibi ecclesia; ubi ecclesia, ibi Christus” – “Onde está Pedro, está a Igreja; onde está a Igreja, está Cristo” (São Basílio).

     

    Caríssimos amigos e irmãos: com esta frase tirada da grandeza espiritual dos santos padres, fazemos memória das presenças dos sucessores de Pedro em nossa querida cidade. Nestes meses de junho e julho fazemos memória de 4 momentos importantes da história da Igreja em nossa Arquidiocese do Rio de Janeiro, e que estão vinculados à presença do vigário de Cristo em nosso meio, confirmando nossa fé. De maneira especial este mês de julho com importantes momentos em nossa cidade que marcaram a vida de todos os que se aproximaram desses eventos.

    Dentre tantos que poderiam ser nomeados, gostaria de recordar as presenças dos Papas. Quatro foram os momentos em que nossa unidade com o sucessor de Pedro pode ser vivenciada de forma mais intensa, nos deixando como legado grandes oportunidade de renovarmos nossa fé: o Congresso Eucarístico Internacional do ano de 1955, quando, além do legado papal, também tivemos uma mensagem enviada pelo Papa Pio XI; duas passagens de João Paulo II, em 1980 e 1982 e a inesquecível Jornada Mundial da Juventude do no ano de 2013, com o Papa Francisco.

    No Brasil, até hoje, só tivemos um único Congresso Eucarístico Internacional! Foi em 1955, o 36º Congresso Eucarístico que fez do Rio a capital mundial da Eucaristia de 17 a 24 de julho desse ano. Quem não se recorda do hino do Congresso: “Do céu desceu a chuva…”? Logo de início, surge uma curiosidade: Na época, não havia onde receber os milhares de fiéis que viriam de todo o mundo, dos estados brasileiros e da própria cidade para assistir a esse acontecimento. Aqui foi utilizado o aterro do Flamengo que estava sendo feito. A primeira fase do aterramento foi entre a Rua Santa Luzia e o Passeio Público. Assim essa região foi transformada na Praça do Congresso. Ali, em confessionários improvisados, fiéis de todo mundo podiam se confessar recebendo a absolvição. Para o Congresso, a imagem de Nossa Senhora Aparecida veio do Santuário de Aparecida do Norte de trem.

    A fé arrastou multidões para o local, com capacidade prevista para um milhão e duzentos e vinte mil pessoas. Durante uma semana, a cidade se voltou para a fé, acompanhando as procissões, a chegada de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal, dos cardeais, dos peregrinos de inúmeros países com suas vestimentas tradicionais. Ou seja, manifestações religiosas as quais ninguém ficou indiferente, mesmo os que professavam outra fé.

    No dia 24 de julho, o Papa Pio XII enviou uma mensagem, por rádio, aos fiéis reunidos no Rio. Num trecho de sua mensagem, assim disse: “Espetáculo sobremodo grandioso o que nesta hora solene se depara ao Nosso espírito. Além, no pico excelso do Corcovado, a estátua do Redentor, de braços constantemente abertos em cruz, como a repetir, não só à grande Metrópole, estendida a seus pés, mas, baía de Guanabara afora, a quantos labutam e sofrem nos mares revoltos da vida : « Vinde a Mim todos os que viveis sobrecarregados e oprimidos de trabalhos, e Eu vos restaurarei as forças; vinde, e encontrareis paz e conforto para as vossas almas! » (cfr. Matth. II,28-29).

    Já no ano de 1980, temos a primeira viagem de São João Paulo II ao Brasil, a primeira de um papa à nossa terra, sétima do seu Pontificado. A viagem durou de 30 de junho ao 12 de julho. João Paulo II visitou 14 cidades em nosso país, confirmando nossos irmãos da Igreja do Brasil na fé. Ele esteve em Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, Aparecida, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Recife, Salvador, Belém, Teresina e Fortaleza. Segundo dados da época, pelo menos doze milhões de pessoas foram às ruas e praças para se encontrar com o papa e 85% dos televisores existentes estavam sintonizados acompanhando a visita.  Sua passagem pelo Rio de Janeiro (dias 1º e 2 de julho de 1980) foi marcada por 7 grandes momentos: o encontro com personalidades do mundo da cultura, no seu discurso por ocasião da celebração dos vinte e cinco anos de fundação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), no seu encontro com o clero da Arquidiocese do Rio de Janeiro, da sua visita apostólica aos moradores da Favela do Vidigal, de sua bênção para a cidade do Cristo Redentor, no Corcovado, e da sua homilia na santa Missa de Ordenação Sacerdotal.

    São João Paulo II relembrou que o “homem não pode ser plenamente o que é, não pode realizar totalmente sua humanidade se não vive a transcendência de seu próprio ser sobre o mundo e sua relação com Deus. A elevação do homem pertence não somente à promoção de sua humanidade, mas também à abertura de sua humanidade a Deus”. “Não tenhais medo, Senhores, abri as portas do vosso espírito, da vossa sociedade, das vossas instituições culturais à ação de Deus, que é amigo do homem e opera no homem e pelo homem, para que este cresça na sua humanidade e na sua divindade, no seu ser e na sua realeza sobre o mundo”.

    Um dos momentos mais emocionantes foi sua visita à comunidade do Vidigal. O Santo Padre, quando subiu a comunidade, fez uma alusão ao Sermão da Montanha e falou das Bem-Aventuranças: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”! (Mt 5,3). Viver as oito bem-aventuranças é o desejo de todo cristão. Viver as bem-aventuranças foi o que propôs João Paulo II não só aos moradores do Vidigal, mas a tantos os que vivem condições análogas precárias ou de dificuldades: “Os pobres em espírito são aqueles que são mais abertos a Deus e às “maravilhas de Deus” (At 2,11). Pobres porque prontos a aceitar sempre aquele dom do alto, que provém do próprio Deus. Pobres em espírito – aqueles que vivem na consciência de ter recebido tudo das mãos de Deus como um dom gratuito, e que dão valor a cada bem recebido. Constantemente agradecidos, repetem sem cessar: “Tudo é graça”!, “demos graças ao Senhor nosso Deus”. Deles, Jesus diz ao mesmo tempo que são “puros de coração”, “mansos”; são eles os que “têm fome e sede de justiça”, os que são frequentemente “afligidos”; os que são “operadores de paz” e “perseguidos por causa da justiça”. São eles, enfim, os “misericordiosos” (cf. Mt 5,3-10). Os pobres em espírito são os mais misericordiosos: “Prontos a partilhar o que têm. Prontos a acolher em casa uma viúva ou um órfão abandonado. Encontram sempre ainda um lugar a mais no meio das estreitezas em que vivem. E assim mesmo encontram sempre um bocado de alimento, um pedaço de pão em sua pobre mesa. Pobres, mas generosos. Pobres, mas magnânimos. Sei que existem muitos destes aqui entre vocês a quem agora falo, mas também em diversos outros lugares do Brasil”. Por isso, a Igreja “em todo o mundo quer ser a Igreja dos pobres. A Igreja em terras brasileiras quer também ser a Igreja dos pobres – isto é, quer extrair toda a verdade contida nas bem-aventuranças de Cristo e, sobretudo, nesta primeira – “bem-aventurados os pobres em espírito…”. Quer ensinar esta verdade e quer pô-la em prática, assim como Jesus veio fazer e ensinar”. O Papa pediu que aprendêssemos a partilhar: “Se tens muito, se tens tanto, recorda-te que deves dar muito, que há tanto que dar. E deves pensar como dar, como organizar toda a vida socioeconômica e cada um dos seus setores, a fim de que esta vida tenda à igualdade entre os homens, e não a um ateísmo entre eles”.

    A segunda passagem de São João Paulo II pelo Rio de Janeiro foi uma breve escala (11 de junho de 1982) feita no Rio de Janeiro em sua viagem para a Argentina. Nesta breve estada, fez um discurso em nossas terras, marcado pelo seu desejo de promover e incentivar a paz: “É com a maior estima, portanto, que reitero a cada filho desta dileta Nação brasileira, o convite para trabalhar e crescer em solidariedade pela paz universal; é com particular intensidade de afeto que exorto a Igreja que está no Brasil a elevar a Deus preces instantes pela paz, em união com o Papa, especialmente durante esta rápida visita: paz nos espíritos, paz na convivência entre os homens e paz entre os povos na grande família humana. Com estima e afeição, aqui renovo os votos sinceros pelas crescentes prosperidades do querido Povo brasileiro, isentas de sombras sinistras de violência e sempre marcadas pelo respeito pela vida, pelo sentido da justiça e da concórdia e em serviço à causa da paz internacional. Estes votos, em meu coração tornam-se prece, a implorar para cada brasileiro, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, os favores de Deus.”

    São João Paulo II viria mais uma vez ao Rio de Janeiro, dessa vez para o Encontro Mundial das Famílias (2 e 6 de outubro de 1997) quando fez a declaração famosa: “Se Deus é brasileiro, o papa é carioca

    Nos dias 23 a 28 de julho do ano de 2013, a cidade do Rio de Janeiro foi sede de mais um evento inesquecível para todos nós: sediamos a Jornada Mundial da Juventude, contando com a presença do Papa Francisco, em sua primeira viagem apostólica. Foram dias cheios de alegria, evangelização e transformação na vida de tantos jovens que lotaram a Praia de Copacabana, local dos atos centrais da JMJ Rio 2013, assim como os locais das catequese e demais atividades da JMJ. Dados oficiais contabilizaram que o público presente à Missa de Envio chegou a 3,7 milhões de pessoas no domingo, 28, último dia do evento.  A Jornada teve como lema a passagem de Mt 28, 19:  ide e fazei discípulos entre as nações! Muitos foram os momentos importantes testemunhados. Mas o que mais chamou a atenção foi a reação daqueles que não estavam ligados à Igreja ou tinham outras ou nenhuma prática da fé: todos se sentiram inseridos no evento e ficaram impressionados com o testemunho de vida e civilidade dado por aqueles jovens que participavam da JMJ. Todos puderam testemunhar que a Igreja está viva e é jovem.

    Ponto culminante da JMJ foi poder contar com a presença do Papa Francisco em nosso meio, durante a JMJ. O papa fez questão de estar perto dos jovens, visitou uma comunidade, inaugurou um centro de recuperação para dependentes químicos, atendeu a confissão de alguns jovens, visitou a casa da mãe Aparecida, entre tantas outras atividades próprias da Jornada.

    O centro deste evento foi rezar pelos jovens e com os jovens. Já em seu discurso de abertura, o Papa Francisco falava da importância de valorizar a juventude: “A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo. É a janela e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço. Isso significa: tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos. Com essas atitudes precedemos hoje o futuro que entra pela janela dos jovens (Discurso na cerimônia de boas-vindas).

    Junto com isso, os discursos do Santo Padre tiveram um grande apelo vocacional aos jovens, colocando-os como protagonistas da vida e da missão da Igreja: Também hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja. Queridos jovens, o Senhor precisa de vocês! Ele também hoje chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja e ser missionário. Hoje, queridos jovens, o Senhor lhes chama! Não em magote, mas um a um… a cada um. Escutem no coração aquilo que lhes diz. Penso que podemos aprender algo daquilo que sucedeu nestes dias: por causa do mau tempo, tivemos de suspender a realização desta Vigília no “Campus Fidei”, em Guaratiba. Não quererá porventura o Senhor dizer-nos que o verdadeiro “Campus Fidei”, o verdadeiro Campo da Fé não é um lugar geográfico, mas somos nós mesmos? Sim, é verdade! Cada um de nós, cada um de vocês, eu, todos. E ser discípulo missionário significa saber que somos o Campo da Fé de Deus. (Discurso na vigília de oração com os Jovens). A convocação para que a Igreja seja jovem, com os jovens e no meio dos jovens volta a ser reiterada no discurso de despedida pronunciado no aeroporto do Galeão: “não tenho dúvida de que todos agora partem como missionários. A partir do testemunho de alegria e de serviço de vocês, façam florescer a civilização do amor. Mostrem com a vida que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizar a dignidade de cada ser humano, e apostar em Cristo e no seu Evangelho. Foi Ele que viemos buscar nestes dias, porque Ele nos buscou primeiro, Ele nos faz arder o coração para anunciar a Boa Nova nas grandes metrópoles e nos pequenos povoados, no campo e em todos os locais deste nosso vasto mundo. Continuarei a nutrir uma esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo está preparando uma nova primavera em todo o mundo. Eu vi os primeiros resultados desta sementeira; outros rejubilarão com a rica colheita!”

    Mais do que fazer memória, devemos fazer um memorial desses eventos: deixar que a graça derramada em todos eles produza frutos e continue a ser derramada em nossas vidas, em nossas casas e em nossas comunidades. Rezemos pelo santo padre e pelo carinho que tem pelo nosso povo carioca. Rezemos por nossa cidade, Deus habita esta cidade! Que saibamos procurar refúgio no Senhor em todos os momentos, ele que sempre se apresenta de braços abertos para nos acolher em todas as circunstâncias. Fazer memória para podermos ainda melhor viver a nossa responsabilidade cristã hoje anunciando e proclamando Jesus Cristo como Senhor e trazendo às pessoas para perceberem a presença de Deus no meio de nós.

     

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