Maria, Mãe de Deus nos ajude a promover a paz!

    Oito dias depois da celebração do Natal de Jesus, a liturgia convida-nos a olhar para Maria, a mãe de Deus (“Theotókos”), solenemente designada com este título no Concílio de Éfeso, em 431. Com o seu “sim” tornou possível a presença de Jesus nas nossas vidas e no nosso mundo.

    Mas este dia é também o primeiro dia do ano civil: é o início de uma caminhada que queremos percorrer de mãos dadas com esse Deus que nos ama, que nos abençoa e que conduzirá os nossos passos, com cuidado de Pai, ao longo deste Ano Novo.

    Também celebramos o Dia Mundial da Paz: em 1968, o Papa Paulo VI propôs aos homens de boa vontade que, no primeiro dia de cada novo ano, se rezasse pela paz no mundo. Hoje, portanto, pedimos a Deus que nos dê a paz e que faça de cada um de nós testemunha e arauto da reconciliação e da paz.

    As leituras que a liturgia deste dia nos propõe abraçam esta diversidade de temas e de evocações, dando ênfase ao “Filho de Maria” e ao “nome do Senhor”.

    A primeira leitura – Nm 6,22-27 – oferece-nos, através de uma antiga fórmula de bênção, a certeza da presença contínua de Deus ao nosso lado nos caminhos que percorremos todo os dias. Ele será sempre para nós fonte de Vida e de paz. Esta bênção sacerdotal vai nos acompanhar o longo de todo o ano civil que se inicia. Ser abençoado por Deus significa andar em seus caminhos, vivendo o amor, a paz, a solidariedade e a fraternidade.

    Na segunda leitura – Gl 4,4-7 – evoca-se o amor e o cuidado de Deus, mil vezes manifestados na história dos homens. Ele enviou o seu Jesus ao nosso encontro para nos libertar da escravidão e para nos tornar seus “filhos”. É nessa situação privilegiada de “filhos” livres e amados que podemos dirigir-nos a Deus e chamar-lhe “abbá” (“papá”). No seio de Maria se encontram a grandeza divina e a pequenez humana. Com a vinda de Jesus, começou uma nova era, em que recebemos a graça de invocar a Deus com o nome de Pai. O Espírito Santo que cobriu Maria nos “engravide” para sermos testemunhas de seu Filho.

    O Evangelho – Lc 2,16-21 – mostra como a presença de Deus na nossa história é fonte de alegria e de esperança para todos os homens e mulheres, mas particularmente para os pobres e os marginalizados. Sugere ainda que Maria, a mãe de Jesus, é o modelo do crente que, em silêncio e sem espalhafato, acolhe as propostas de Deus, guarda-as no coração e deixa-se guiar por elas. Maria fica em silêncio para que a atenção se volte para Jesus. Pessoas desvalorizadas e consideradas pagãs, os pastores são os primeiros a ir ao encontro do recém-nascido e a anunciá-lo à humanidade. Vamos escolher o caminho da cooperação e da partilha. Os pastores, apressados, foram ao encontro de Maria, José e o Menino, anunciando o que os anjos haviam dito: o recém-nascido é o Salvador! Maria “guardava essas coisas e as meditava no coralão” (Lc 2, 19). Maria nos ajuda a compreender como somos chamados a acolher o evento do Natal: não superficialmente, mas no coração.

    Os pastores descritos no Evangelho foram construtores de pontes – tão necessárias hoje como foram no início do cristianismo. Assim como eles receberam primeiro a Boa Notícia, também foram eles os primeiros a anunciar a chegada do Salvador. Sejam de inspiração para nós, diante dos desafios que se nos apresentam.

    Diante dos desafios do tempo presente, o olhar materno de Maria nos incentiva a buscar caminhos de remoção de atitudes excludentes – alimentadas por discursos agressivos, especialmente nas redes sociais –, cuidando uns dos outros e da criação.

    A paz anunciada neste primeiro dia do ano civil convoca-nos para sermos promotores da cultura do cuidado. Cada um de nós é chamado a promover a harmonia no ambiente onde se encontra. Não há como ficar indiferentes à crescente espoliação do planeta e à histórica precarização das condições de vida de nosso povo. Paz não é apenas ausência de guerra, mas realidade criada com base em escolhas que propiciam o bem viver a todos. Essa paz tão sonhada vem sendo inibida pelo egoísmo de quem vê no outro um competidor a ser enfrentado.

    O Ano Jubilar, iniciado no Natal, convida-nos a ser peregrinos de esperança! Proclamada hoje Mãe de Deus e nossa, Maria nos acompanha nesse caminho de conversão, ajudando-nos a nos tornarmos portadores de discursos e práticas de paz. Dirijamos ao Pai, de coração sincero, o pedido expresso na mensagem proposta pelo Papa Francisco para este Dia Mundial da Paz: “Perdoai-nos as nossas ofensas; dai-nos a vossa paz!”.

    Maria se torna o modelo de discípula e de fiel que é sensível ao projeto de Deus, que sabe ler seus sinais na história, que aceita acolher a proposta de Deus no coração e que colabora com Deus na concretização do projeto divino de salvação para o mundo. Supliquemos a Nossa Senhora, Rainha da Paz, a Mãe de Deus, a nos ajudar a sermos construtores de paz. Sob o seu materno olhar, tenhamos a disposição de percorrer este ano jubilar como “peregrinos de esperança!”.

    + Anuar Battisti

    Arcebispo Emérito de Maringá, PR

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