O mês de setembro é um tempo especial para a Igreja, pois é o mês dedicado à Bíblia, que junto com a Tradição nos trazem a Palavra de Deus. No dia 30 de setembro a Igreja celebra São Jerônimo, tradutor da Bíblia do hebraico e do grego originais para o latim popular falado na época. Inspirado pelo Espírito Santo, ele foi capaz de compreender profundamente as Escrituras Sagradas e escreveu muitos comentários sobre os textos bíblicos. Também nós somos chamados a nos deixar conduzir pelo Espírito Santo para compreender a Palavra de Deus.
Ao longo deste mês somos convidados a meditar as Sagradas Escrituras. É claro que devemos fazê-lo em todos os meses do ano, mas, de modo particular, em setembro. Precisamos tirar a Bíblia do armário ou da estante, onde tantas vezes fica esquecida e empoeirada, escolher um texto e meditar. Isso pode ser feito individualmente ou em família, pela manhã, antes do trabalho, ou à noite, quando todos já estão em casa. Muitas vezes nos ocupamos demais com televisão, internet e outras distrações, e acabamos não reservando tempo para Deus.
Em nossa Arquidiocese, a tradição dos círculos bíblicos é antiga e formam os grupos de reflexão, comunidades e paróquias. O método utilizado, com os textos preparados no livreto da arquidiocese, é o da lectio divina, ou leitura orante da Palavra de Deus.
Escolha um trecho da Palavra de Deus — pode ser até o Evangelho do dia — e faça a experiência da lectio divina. Essa prática consiste em ler o texto sagrado duas ou três vezes, destacando os versículos ou frases que mais chamam a atenção, depois passar para meditação sobre o que essa palavra incide em nossa vida. O terceiro passo é a oração, rezando naquilo que a palavra lida e meditada nos comoveu. Concluímos com contemplação, ou seja, guardando aquela palavra no coração para iluminá-lo durante o dia e a vida.
Para realizar a lectio divina é necessário preparar-se e preparar o ambiente: sentar-se de forma confortável, pedir a iluminação do Espírito Santo, escolher um local silencioso e desligar-se de distrações. Depois, ler e reler o texto, procurando entender o que ele diz para a própria vida. A vida ganha um novo sentido por meio da oração; por isso, precisamos alimentar a alma e o espírito com a Palavra de Deus, deixando que ela oriente nossas ações.
A lectio divina deve durar, ao menos, meia hora. Não pode ser feita às pressas ou de maneira superficial. É recomendável que seja realizada pela manhã ou à noite, individualmente ou em grupo (círculos bíblicos), com a família ou amigos. Quando feita em grupo, cada pessoa pode ler o texto em voz alta e, em seguida, meditar em silêncio, destacando o versículo ou a frase que mais lhe falou ao coração.
Além disso, já chegando ao final de setembro, continuemos a dar destaque à Palavra de Deus, colocando-a em evidência junto ao ambão ou na entrada da Igreja, e, principalmente promovendo círculos bíblicos de oração e lectio divina nesta desejada capilaridade de nossa vida de missão arquidiocesana. Que essa prática não se restrinja apenas a setembro (quando tivemos as assembleias dos círculos bíblicos), mas se prolongue por todo o ano. A Palavra de Deus deve ser o nosso alimento diário, capaz de orientar os passos de cada jornada.
Quando praticamos diariamente a lectio divina, alimentamo-nos da Palavra e preparamos o coração para a Eucaristia. É como os discípulos de Emaús, que, após ouvirem a explicação das Escrituras por Jesus, tiveram a mente e o coração abertos, reconhecendo-o ao partir o pão. Na Santa Missa somos convidados a nos alimentar de duas mesas: a da Palavra e a da Eucaristia. Por isso, se meditarmos a Palavra em casa todos os dias, estaremos melhor preparados para receber o Senhor no sacramento.
A lectio divina é uma prática muito antiga, que remonta ao século III, por volta do ano 220, especialmente entre monges católicos. Com as regras monásticas de Pacômio, Agostinho, Basílio e Bento, ela se consolidou como um exercício fundamental de espiritualidade. O tempo dedicado à Palavra era sempre o melhor do dia. Por isso, recomenda-se que hoje a lectio divina dure, no mínimo, trinta minutos, preferencialmente pela manhã.
São Jerônimo recorda que “ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Na Sagrada Escritura encontramos a história da salvação e o projeto amoroso de Deus, que se realiza plenamente em Jesus Cristo. Ele nos convida à conversão e nos revela o plano salvífico do Pai, levado à plenitude pela sua entrega na cruz.
Diversos documentos da Igreja ressaltam a importância da lectio divina para a vida da Igreja e de cada fiel. Entre eles, a Constituição Dogmática Dei Verbum e a Exortação Apostólica Verbum Domini. Ambos recordam que não basta apenas meditar a Palavra: é necessário também estudá-la, buscar compreendê-la e permitir que ela transforme a vida. Inclusive, durante a liturgia eucarística, sobretudo na homilia, cabe ao sacerdote explicar as leituras proclamadas para que a Palavra penetre no coração dos fiéis.
Neste mês da Bíblia e em todos os outros, busquemos meditar e aprofundar os estudos da Palavra de Deus, como neste ano, a Carta aos Romanos. Que, além de meditar, saibamos também estudar as Escrituras, para conhecê-las melhor e, assim, conhecer mais profundamente a Cristo.