Neste mês de setembro, além de ser o mês da Bíblia, temos outra ocasião importante para nossa reflexão e vivência mais intensa de nosso compromisso cristão no mundo: do dia 01 de setembro, dia de oração pelo cuidado da criação, ao dia 04 de outubro, dia de São Francisco de Assis, estaremos celebrando o Jubileu da Terra, dentro do contexto do tempo da criação, juntamente com várias denominações cristãos.
O jubileu da terra está sendo celebrado por ocasião dos 50 anos da proclamação do dia da terra. O Dia da Terra, que tem por finalidade criar uma consciência comum aos problemas da contaminação, conservação da biodiversidade e outras preocupações ambientais para proteger a Terra, foi criado pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, no dia 22 de Abril de 1970.
Esses temas se inserem dentro do ano da “Laudato Si” que comemora o quinto aniversário desse importante documento do Papa Francisco. Agora ele prepara outro que será assinado em Assis no próximo dia 3 de outubro sobre a fraternidade humana.
É um momento para refletir sobre a nossa relação com o ambiente – não apenas a natureza “distante”, mas, crucialmente, o lugar onde vivemos – e as formas pelas quais os nossos estilos de vida e decisões como sociedade podem colocar em perigo o mundo natural e aqueles que o habitam, tanto humanos quanto outras criaturas. Todos somos testemunhas de que o cuidado da nossa casa comum faz-se cada vez mais urgente e nós, enquanto cristãos, temos uma dupla responsabilidade em relação ao cuidar da criação, pois o fazemos com consciência humana e também com a consciência cristã, pois para nós a criação é lugar privilegiado para o conhecimento de Deus, como nos recorda o Catecismo da Igreja Católica (32): “A partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode chegar-se ao conhecimento de Deus como origem e fim do universo. São Paulo afirma a respeito dos pagãos: «O que se pode conhecer de Deus manifesto para eles, porque Deus lho manifestou. Desde a criação do mundo, a perfeições invisíveis de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade tornam-se pelas suas obras, visíveis à inteligência» (Rm 1, 19-20). E Santo Agostinho: «Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar interroga a beleza do ar que se dilata e difunde, interroga a beleza do céu […] interroga todas estas realidades. Todas te respondem: Estás a ver como somo belas. A beleza delas é o seu testemunho de louvor. Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo, que não está sujeite à mudança?”[1]
A celebração do Jubileu da terra vem inserida dentro do tempo que é chamado de tempo da criação. O Tempo da Criação foi convocado em 1989 pelo Patriarca Ecumênico Dimitrios I. A iniciativa cresceu com a participação da Igreja Católica e do Conselho Mundial de Igrejas. Em 2020, o convite é para 2,2 bilhões de cristãos de todo o mundo para oração e renovação da relação e compromisso com o mundo. o Tempo da Criação tem como tema “Jubileu pela Terra: Novos Ritmos, Nova Esperança”. É um convite para pensarmos no relacionamento integral entre o descanso da Terra e a maneira ecológica, econômica, social e política de viver, especialmente nestes tempos de pandemia em que se mostrou ainda mais clara e urgente a necessidade de trilharmos caminhos, de fato, sustentáveis e justos.
O Papa Francisco, que tanto tem se destacado em recordar aos cristãos e ao mundo a importância do cuidado da criação através de tantas iniciativas, como o sínodo pela Amazônia, a promulgação da Encíclica Laudato Si, a proclamação em 2015 do dia 01 de setembro como Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação: “Anualmente, sobretudo desde a publicação da carta encíclica Laudato si’ (24/V/2015; daqui em diante, citada com a sigla LS), o primeiro dia de setembro assinala, para a família cristã, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação; e com ele se abre o Tempo da Criação que conclui no dia 4 de outubro, memória de São Francisco de Assis. Durante este período, os cristãos renovam em todo o mundo a fé em Deus criador e unem-se de maneira especial na oração e na ação pela preservação da casa comum.”[2] dentre tantos outros pronunciamentos e gestos, publicou uma mensagem por ocasião deste tempo de Jubileu e do dia de oração pela criação.
Em sua mensagem, o papa fala deste tempo como oportunidade de RECORDAR o destino último da criação e sua vocação fundamental, que é a de ser e prosperar como comunidade de amor. É também um tempo para REGRESSAR, no sentido de revisão de vida e de nossa postura de guardiões da criação que o Senhor confiou a nós. É também tempo de REPOUSAR, de rever o ritmo de correria que impomos às nossas vidas baseadas unicamente em critérios econômicos; tempo de RESTAURAR a harmonia primordial da criação e para curar relações humanas comprometidas e finalmente tempo de REJUBILAR, no sentido de deixar que o clamor que dava origem ao jubileu ressoe novamente hoje na terra, em especial como clamor pelos mais pobres e pelos que mais sofrem.
Aproveitemos este tempo para intensificar nossas orações pedindo pelas tantas situações de degradação e exploração desmedida da nossa casa comum. Aproveitemos este tempo para redescobrir na beleza da criação uma rica oportunidade de renovar o nosso encontro com Deus e para revisão de vida, onde cuidemos da criação com iniciativas concretas, cuidando do desperdício de alimentos, de água, de energia, cuidando da produção exagerada do lixo e tantas medidas sustentáveis que podem fazer-se presentes nas circunstâncias simples do dia a dia. Que Maria, Mãe do Criador e São Francisco de Assis estejam conosco neste tempo jubilar.
[1] Cf.: http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s1c1_26-49_po.html. Acesso em 07/09/2020
[2] Cf. Papa Francisco. mensagem de sua santidade papa Francisco para a celebração do
dia mundial de oração pelo cuidado da criação – 01 de setembro de 2020. In: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/pont-messages/2020/documents/papa-francesco_20200901_messaggio-giornata-cura-creato.html. Acesso em 07 de setembro de 2020.