Jesus vencedor da morte

    O episódio da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-45)  evidencia também como Jesus é o vencedor poderoso da morte. Esta diante dele não tem a última palavra. Ele se mostra capaz de ressuscitar o grande amigo mesmo após quatro dias de seu falecimento. Ele e somente Ele pode afirmar que era a ressurreição e a vida e que aquele que nele cresse não morreria jamais. A condição basilar para que tal maravilha aconteça é a fé que leva à participação de sua vitória, ou seja, o triunfo sobre o último inimigo no dizer de São Paulo (1 Cor 15,26). Isto porque Ele é o enviado do Pai para a redenção completa da humanidade. Esta derrota da morte desejada por Deus foi anunciada nitidamente no Antigo Testamento. Lemos o que profetizou Isaías, mostrando que o Senhor dos exércitos “aniquilará para sempre a morte, e o Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e cancelará da terra inteira o opróbrio de seu povo” (Is 25,6-8-9). Ao falar do julgamento do povo judaico no tempo e no fim dos tempos Daniel assim se expressou: ”E muitos dos que dormem debaixo da terra despertarão, este para a vida eterna, aquele para o vitupério, para a infâmia eterna” (Dn 12,2). Impressionante a visão de Ezequiel sobre os ossos dessecados. A promessa de Deus é peremptória: “Eu vou abrir vossos túmulos e vos farei sair deles […] Eu colocarei em vós meu espírito e vós vivereis” (Ez 12-14). Portanto, a ressurreição de Lázaro é uma demonstração do poderio do Ser Supremo que pode trazer à vida os que foram dominados pela morte. Entretanto, uma reflexão aprofundada de todas estas passagens bíblicas patenteia que se a ressurreição dos corpos se dará no último dia, quando Jesus virá no esplendor de sua glória para julgar os vivos e os mortos, quem nele crê deve conhecer uma contínua ressurreição do coração. Esta deve acontecer dia a dia. Aquele que crê em Jesus conhecerá um dia a ressurreição, mas deve ter a alma continuamente viva, possuindo a graça santificante. Neste aspecto razão tem o poeta: “Mortos não são aqueles que jazem na tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. O cristão autêntico possui, desde já, uma parte dos dons escatológicos, isto é, dos que lhe advirão no fim dos tempos, quando também o seu corpo se unirá novamente à sua alma. Ele possui uma vida sem fim que a morte física não pode nunca destruir e usufrui continuamente da presença especial de Deus que habita nele desde o dia do Batismo. Eis porque está na Carta aos Hebreus: “Ora a fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se vê” (Hb 11,1).  Esta virtude é como que uma posse antecipada das realidades futuras, um conhecimento seguro dos eventos celestiais. Em síntese, em Jesus a salvação está realmente atualizada e aquele que escolheu associar-se a Ele já é um vencedor e não pode ser nunca entregue irreversivelmente ao poder da morte. Claras as palavras de Cristo a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida, Aquele que crê em mim, ainda que venha a morrer, viverá e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês nisto?” A condição é, portanto, uma crença inabalável nele. Trata-se de uma aliança de amor de um pacto sublime graças à misericórdia infinita de Deus. O salto no mundo da fé é que dispõe cada um a entrar nesta aliança salvífica. A recompensa é a vida eterna. Desde agora, entretanto, há a certeza de se estar unido a Deus em todos os momentos da trajetória terrena. Deste modo, a ressurreição de Lázaro deve ser entendida como o som antecipado dos sinos jubilosos do grandioso dia da Páscoa, quando se saudará a Cristo que ressuscita imortal e impassível. Tudo isto envolve o fiel num hino de esperança. Cumpre, contudo, agir como as irmãs de Lázaro, chamando sempre por Jesus, pois sua presença muda tudo, é penhor de vida no tempo e por toda a eternidade. Ele é o Deus dos vivos e não dos mortos. Por isto também é preciso rezar a Ele pelos Lázaros que estão na tumba do pecado que é a morte da alma. Orar para que seus corações ressuscitem. Para Jesus nada é impossível. Nunca esgotamos as riquezas do amor do Coração do divino Redentor. Seu amor por todos, sobretudo, para com os que estão nas trevas do erro não conhece limites. Ele mesmo disse: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Lc 5,32). Nele, diuturnamente, se deve confiar.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.