Quando o caos, o conflito, a incompreensão e o descrédito tomam conta, tudo se perde numa nebulosa desesperança. Esses momentos de crise fazem parte da nossa realidade humana, tanto coletiva, quanto individual. Quem não passou por isso em sua vida? Todos, santos e pecadores, ateus e fiéis, pobre ou rico… Momentos de dúvidas e incertezas fazem parte da nossa existência.
A fé cristã nos ensina a superar trevas e diminuir os percalços do caminho. Ao se apresentar como aquele que possuía a solução para nossos conflitos, a certeza para muitas das nossas dúvidas, a esperança acima de qualquer desilusão, eis que os mais experientes do povo, seus doutores e sábios, rejeitam tamanha petulância vinda de um igual, ou mesmo inferior a qualquer deles. “Não é este o filho de José!”. Como pode um pobre coitado que todos conhecem dizer-se possuidor de todas as soluções e esperanças do povo? Como pode um zé-ninguém apresentar-se como o salvador da pátria?
A rejeição ao messianismo de um qualquer, alguém com quem já estavam familiarizados, cujas dificuldades e pobreza todos conheciam, soa como atitude que bem conhecemos entre nós: não é fácil reconhecer virtudes em alguém de nosso convívio diário. Qualidades e perfeição são difíceis de se visualizar entre os limites da nossa casa, mas na utopia distante da nossa própria realidade. É coisa difícil de se reconhecer em nós mesmos. Essa dificuldade de encontrar as potencialidades que temos, as riquezas que nos cercam e, no âmbito da fé, o Cristo que reside entre nós, dentro de nós, na convivência diária da nossa realidade, faz da vida uma eterna busca de “soluções” distantes, de angústia permanente, sofrimento inútil, prolongamento de nossas dores… A solução que imaginamos distante, muitas vezes, está ao nosso lado, às vezes dentro de nossa casa, de nós mesmos. “Médico, cura-te a ti mesmo!”
Esse é o desafio maior da fé. Enxergar em nós mesmos a capacidade que temos para solucionar nossos problemas, administrar nossos conflitos, construir nosso futuro. O problema maior está nas opções erradas que nossa prepotência e orgulho pessoal nos permitem. Cristo se apresentou como dispensador de todas as bênçãos e graças de que necessitamos para uma existência em conformidade com os planos de Deus, em sintonia com sua vontade, mas nossa insegurança ainda não nos fez compreender esse mistério. As provações contra nossa fé e esperança de dias melhores é o que sobra da realidade que nos cerca, mas o Cristo de ontem ainda é o mesmo hoje. Seu messianismo permanece. Suas promessas se cumprem desde sempre e também nos dias atuais, porém a falta de fé de grande maioria ainda tenta jogar nosso messias no precipício do orgulho humano. Os “doutores da lei”, da pobre ciência e sabedoria dos que pensam nos ensinar, nos conduzir, não aceitam que a humanidade de um pobre filho de carpinteiro possa também ser a divindade do Filho de Deus.
Enquanto isso, Jesus, “passando pelo meio deles”, continua seu caminho entre nós.