Uma vez cumprida sua missão neste mundo Jesus devia voltar ao Pai. Entretanto a união mística com seus seguidores não seria interrompida. Eis por que Ele afirmou: “Eu sou a verdadeira vide” (Jo 15,1). Deu em seguida uma ordem: “Permanecei em mim e eu em vós”. Ele a videira e os cristãos os sarmentos. O importante é que cada batizado esteja inserido em Jesus pela fé, pela prece, pela palavra revelada, pela comunhão eucarística. Isto numa realidade sublime, ou seja, Ele em nós e nós nele. O cristão produz então abundantes frutos como o serviço ao próximo, a compreensão das atitudes do semelhante, as ações atinentes à justiça social. Um fruto opimo será também a união com o divino Salvador numa prece silenciosa, quando se coloca entre parêntesis o passado e a preocupação com o futuro. Encontra no Mestre divino luz, energia, ânimo para a caminhada pelo exílio terreno rumo à beatitude eterna. O progresso da Igreja não se mede por suas conquistas, mas pelo progresso espiritual de seus membros que partilham a cruz e a ressurreição de Cristo. É assim que se constrói uma vida cristã no mundo trabalhado pelas forças do mal. O discípulo de Jesus mentaliza ininterruptamente suas palavras: “Sem mim nada podeis fazer”. Isto significa que com Ele ações maravilhosas podem ser realizadas para a glória de Deus e bem das almas. Nos humildes a seiva divina circula sem os entraves da soberba, da empáfia, por que tudo eles atribuem sabiamente à graça divina. Tal seguidor do Evangelho está firmemente ancorado no amor de Jesus e no seu mandamento do amor ao próximo. Vive continuamente sob a proteção divina que é sempre negada aos orgulhosos convencidos de que tudo podem por si mesmos.. Então o cristão pode produzir frutos opimos, resultantes da presença do Todo-Poderoso que tem poder de realizar em cada um maravilhas. O justo guarda seu coração em paz porque sabe que Deus é maior que o coração humano (1 Jo 3,20). O batizado, ramo unido à videira divina, sabe que Jesus corrige tudo, purifica-o de todas as ilusões terrenas, vivificando-o com sua seiva celestial. A união com a Videira verdadeira, que é Cristo. leva fatalmente à maturidade cristã. É um crescimento superior ao desenvolvimento biopsicológico, por que é uma seiva divina que, realmente, circula no batizado. Nada o desestrutura, nem mesmo os fracassos humanos. Porque unido a Cristo, ele integra as experiências negativas numa síntese unitária superior. Podem então vir crises de esperança diante das realidades angustiantes da dor e das amarguras, perante o progresso do mal, mas aquele que permanece em Jesus tudo supera e vê fortificada sua esperança na vida eterna. A autotranscedência para o cristão não o lança no vazio, mas em Cristo, o único que é capaz de libertá-lo do malogro e de dar significado definitivo a seus anseios irreprimíveis de paz e serenidade. O ramo inserido na Videira verdadeira projeta para a eternidade seu futuro numa atitude de total abandono, sustentado no esforço que visa a consolidar a utopia concreta do reino de Deus anunciado por Jesus. Todo esforço humano fica então resgatado, tirando o ser humano de sua fragilidade e dando um senso sublime a tudo que faz. O cristão é desta forma uma pessoa livre da escravidão do pecado e das alucinações satânicas de um mundo divorciado do Criador. Não é movido nem pelo impulso cego das paixões, nem por coações externas da mídia, mas pelo que traz dentro si, no núcleo mais profundo de seu coração identificado com o coração de Cristo. Vale, de fato, a pena seguir o apelo de Jesus: ”Permanecei em mim e eu em vós. Assim como o ramo, por si mesmo, não pode produzir fruto, se não permanecer unido à videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim”. A recíproca é verdadeira, como o próprio Mestre divino afirmou, ou seja, tudo de bom acontece com seus seguidores que transmitem então ao mundo as riquezas que Ele veio trazer a esta terra.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.