In gentibus evangelizare

    Desde o último dia 23 de janeiro estou tendo a graça de participar do 26º. Curso dos Bispos, aqui no Rio de Janeiro, no Centro de Estudos Superiores do Sumaré. Uma iniciativa que participo desde a sua primeira edição, numa feliz intuição de nosso querido Cardeal Eugênio de Araújo Sales que pensou neste curso para atualização dos bispos, partilha, confraternização e tempo agradável de convivência entre os bispos.

    O tema central deste curso é: “A Nova Evangelização: significado, desafios e aplicação à realidade do Brasil”, por isso eu coloquei como tema do meu artigo a minha divisa episcopal: “In gentibus evangelizare”, ou seja, “evangelizar todas as gentes!”.
    Sim a nova evangelização passa por uma conversão de estruturas. Menos direito, menos instituição e mais intuição e afeto pastoral, de acolhida dos fiéis, de convivência com os batizados e ir “para as periferias existenciais”, ouvindo e convivendo com as angústias, as necessidades e as esperanças do povo.

    Num mundo marcado pela violência e pela truculência dos poderosos é urgente e necessário a ternura do Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, que as chama pelo nome e as confirma na caminhada de seguimento do Evangelho do Redentor.

    Estamos tendo a graça de ter uma visão ampla da nova evangelização à partir de visões diferentes e necessárias para atualizarmos nosso agir pastoral: o arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cardeal Cláudio Hummes; o arcebispo de Brasília e presidente da CNBB, Cardeal Sérgio da Rocha; o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella; o secretário do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso e vice-prefeito da Comissão para as Relações Religiosas com os muçulmanos, Dom Miguel Ángel Ayuso Guixot; e o diretor geral do Instituto Superior de Estudos de Guadalupe (ISEG), Padre Doutor Eduardo Chávez Sánchez.

    Como foi interessante ouvir o Arcebispo Dom Rino Fisichella que falou da necessidade da dimensão da misericórdia na Evangelização da humanidade. Fica claro que a experiência da misericórdia, pelo ano santo extraordinário convocado pelo amado Papa Francisco, e coordenado pelo ilustre Arcebispo italiano, quando ele nos fala da necessidade urgente de “sair da misericórdia do discurso para a prática compassiva de uma vida que recupere sempre os pecadores e aqueles que cometeram delitos”.

    Sim é urgente uma conversão pastoral, antes de mudança de mentalidade, de mudança de comportamentos pessoais. Muitos fazem olhar de paisagem para os discursos e os novos rumos de conversão pessoal, à começar da hierarquia eclesiástica, de mudança de comportamentos que pedem o Papa Francisco.

    O Papa Francisco espera de cada um de nós, a começar dos bispos, uma Igreja samaritana, que seja “hospital de campanha”. E se em hospital nós nos internamos para curar uma enfermidade, a primeira doença que precisa ser curada é a do clericalismo, seguida do carreirismo e de uma vida ministerial voltada para o seu bem-estar pessoal em detrimento ao bem maior do testemunho credível para anunciar o Evangelho.

    O recado é muito claro: a evangelização se faz por atração e não por decretos ou por obras megalomaníacas. Vamos ouvir, efetivamente, o que pede o Papa Francisco de deixar de lado uma vida de príncipes, coisa que sempre detestei e reprovei, e vivermos como o povo vive, na confiança em Deus e na humildade do Evangelho, servindo com alegria, sem temor de lavar os pés dos que são chagados e de acolher os que vivem no pecado e precisam encontrar a graça de Deus. Este é o recado fundamental da nova evangelização: pela caridade, que se apoia na paciência, na complacência e na compaixão, para gerar no seio eclesial a acolhida e o testemunho credível.

    Situações adversas na evangelização, quer sejam por parte dos ministros ordenados, dos consagrados ou dos fiéis leigos, mesmo que pensem diferente de quem governa, devem ser respeitadas, ouvidas e vivenciadas no seio da diversidade para brilhar a unidade. Quem não ouve o diferente não governa, mais é o ditador. Quem não contempla o rosto do outro e o ouve atentamente é narcisista. É necessário antes que Cristo apareça e que nós, seus ministros, e nossos agentes pastorais desaparecemos! O fel do legalismo só afasta e oprime. Só com a doçura do Evangelho da Misericórdia que evangelizaremos todas as gentes!

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