In caritate et  Veritate

     Com o coração grato ao Senhor da Messe que no dia 05 de setembro passado, tivemos a possibilidade, em Missa Solene, de dar graças pelos 280 anos de fundação de nosso Seminário Arquidiocesano São José, justamente no ano vocacional sacerdotal de nossa arquidiocese.  É motivo de grande alegria para toda a arquidiocese testemunhar este lugar que não deixa de ser um sinal da vivacidade da fé onde podemos ver a resposta de tantos jovens ao chamado de entregar sua vida pelo Reino e também é motivo de alegria para todo o povo de Deus, pois o seminário é uma das respostas de Deus a uma comunidade orante.

    O Seminário Arquidiocesano São José do Rio de Janeiro tem o privilégio de ser a mais antiga casa de formação para sacerdotes do Brasil. Além de dar graças a Deus, é ocasião de fazermos memória da vida de homens valorosos, que se doaram e se sacrificaram a Deus e à Igreja, para que chegássemos até aqui.

    Com sua vasta história, o Seminário Arquidiocesano de São José não é tão somente a primeira casa de formação para sacerdotes de nosso país, mas é sobretudo um patrimônio histórico e cultural da Igreja Católica no Brasil, tão antigo dessa tão antiga Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Conhecer a história do Seminário São José é também revisitar as vidas de todas as pessoas que prestaram seu auxílio espiritual e material para que essa obra fosse realizada e continuada.  Além disso, um olhar atento para nossa história nos permite lembrar e dar graças ao Senhor por todos os benefícios realizados na Igreja através de tantos homens que aprenderam a ser “pastores segundo o coração de Deus” nesse seminário.

    São João Paulo II, em sua Exortação Apostólica sobre a formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais Pastores Dabo Vobis, falando sobre a realidade dos seminários, assim diz:

    “O Seminário apresenta-se como um tempo e um espaço; mas configura-se sobretudo como uma comunidade educativa em caminhada: é a comunidade promovida pelo Bispo para oferecer, a quem é chamado pelo Senhor a servir como os apóstolos, a possibilidade de reviver a experiência formativa que o Senhor reservou aos Doze. Na realidade, uma prolongada e íntima permanência de vida com Jesus é apresentada no Evangelho como premissa necessária para o ministério apostólico. Esta permanência requer dos Doze a realização, de modo particularmente claro e específico, da separação, em certa medida proposta a todos os discípulos, do ambiente de origem, do trabalho habitual, dos afetos, até dos mais queridos (cf. Mc 1, 16-20; 10, 28; Lc 9, 23.57-62; 14, 25-27). Já mais de uma vez apresentámos a tradição de Marcos que sublinha a ligação profunda que une os apóstolos a Cristo, e entre si: antes de serem enviados a pregar e a fazer curas, são chamados a “estar com Ele” (Mc 3, 14).

    A identidade profunda do Seminário é a de ser, a seu modo, uma continuação na Igreja da mesma comunidade apostólica reunida à volta de Jesus, escutando a sua palavra, caminhando para a experiência da Páscoa, esperando o dom do Espírito para a missão. Esta identidade constitui o ideal normativo que estimula o seminário, nas mais diversas formas e nas múltiplas vicissitudes que, enquanto instituição humana, vive na história, a que encontre uma concreta realização, fiel aos valores evangélicos em que se inspira e capaz de responder às situações e necessidades dos tempos. O seminário é, em si mesmo, uma experiência original da vida da Igreja: nele o Bispo torna-se presente por meio do ministério do reitor e do serviço de corresponsabilidade por ele animado com os outros educadores, em ordem a um crescimento pastoral e apostólico dos alunos. Os vários membros da comunidade do Seminário, reunidos pelo Espírito numa única fraternidade, colaboram, cada qual segundo os dons de que dispõe, para o crescimento de todos na fé e na caridade a fim de se preparem adequadamente para o sacerdócio, e por conseguinte, prolongarem na Igreja e na história a presença salvífica de Jesus Cristo, o Bom Pastor (Pastores dabo Vobis, 60)”.

    Para considerarmos a história desta fundação, precisamos visitar primeiramente o ano de 1575, período em que é criada a prelazia de São Sebastião do Rio de Janeiro que se separava da Sé de Salvador e o Concílio de Trento que havia findado anos anteriores, onde tivemos a indicação da instituição dos seminários e casas de formação para os sacerdotes em todas as dioceses. Passaram-se quase dois séculos das datas citadas e ainda não tínhamos a instituição de uma casa de formação presbiteral em nosso território nacional, algo que já vinha sendo insistentemente solicitado pela Santa Sé. Neste período, os futuros padres tinham como formação um período em que passavam na casa do bispo ou sendo acompanhado por algum sacerdote, recebiam o preparo intelectual junto dos Jesuítas e alguns casos eram enviados para realizar seus estudos em Coimbra. As outras dimensões do ministério sacerdotal, como a formação humana prática pastoral ficavam meio que em um segundo plano. Várias circunstâncias históricas e geográficas acabavam por dificultar uma adequada formação para o clero.

    É nesse contexto que temos a figura de D. Frei Antônio de Guadalupe que logo ao iniciar seu ministério como prelado destas terras, leva a cabo a tarefa de providenciar um ambiente onde os futuros padres tivessem uma dedicada formação, seja espiritual como intelectual. São palavras suas, proferidas na data de ereção do seminário: Trouxemos sempre no coração um ardente desejo de que nesta cidade houvesse um Seminário”. (Provisão de fundação do Seminário São José – Dom Frei Antônio de Guadalupe, 05/09/1739).

    O primeiro edifício foi edificado aos pés do moro do Castelo, lugar onde hoje se encontra a Biblioteca Nacional e do Tribunal Federal de Justiça, numa ladeira que ficou conhecida como Ladeira do seminário, onde atualmente se encontra o Museu da Justiça, no Centro do Rio. Segundo as orientações do Concílio de Trento, o plano de estudos da formação do seminário abrangeria o latim, o canto gregoriano, a administração Eclesiástica, a Sagrada Escritura e a moral-pastoral.

    No ano de 1869, temos a separação entre seminário menor e seminário maior, onde o seminário menor passa a residir no

    Rio Comprido (Sede Atual) e tem sua direção confiada aos padres Lazaristas. O seminário permanece nesta localidade até o ano de 1904, quando teve de mudar sua sede por conta das reformas urbanísticas e da abertura da avenida Rio Branco. Até este período, o Seminário tornou-se referência não apenas para a formação dos novos sacerdotes, como também pela formação inicial de crianças e jovens que não se destinavam ao sacerdócio.

    Por motivos de crises econômicas no ano de 1907, contando apenas com 28 seminaristas, o seminário tem de fechar as portas, não por falta de vocações, mas pela incapacidade de se dedicar aos cuidados e promoção materiais destas. É com a chegada do Cardeal Leme que teremos a reabertura do seminário no ano de 1924, instalado agora em um palacete na Ilha de Paquetá, já que a sede do Rio Comprido seguia funcionando como Colégio Diocesano.

    Em 31 de maio de 1924, festa da Visitação de Nossa Senhora, desembarcaram na Ilha de Paquetá trinta jovens seminaristas, que acompanhados por um jovem sacerdote, o então Pe. Virgílio Spinelli Lapenda, primeiro reitor do Seminário após a reabertura. A reinauguração foi celebrada por Dom Leme, que impôs a batina aos novos alunos. Com um decidido governo, Mons. Lapenda enfrentou muitos desafios para reestabelecer a ordem e promover uma educação de qualidade para os futuros sacerdotes.

    Neste período, Dom Leme cria a Obra das Vocações Sacerdotais (OVS), a fim de auxiliar os seminaristas em suas necessidades materiais e espirituais. Além disso, o Seminário adquire no ano de 1928 a Fazenda das Arcas, em Itaipava, a fim de servir de casa de formação nas férias dos seminaristas. Os seminaristas retornam à sede do Rio Comprido no ano de 1931.

    Desde essas datas até os dias atuais, permanecendo no mesmo espaço físico, o seminário foi permanecendo fiel aos seus princípios fundacionais e fazendo as devidas adaptações de acordo com a realidade pastoral da Igreja, como por exemplo após a realização do Concílio Vaticano II.

    1. Eugênio providencia a construção de um novo prédio para o seminário maior. O antigo prédio segue existindo e hoje funciona nele uma Universidade. Este período foi marcado também por grandes alegrias, tendo em vista o número significativo de ordenações diaconais e sacerdotais, nas quais o arcebispo, Dom Eugênio Sales, teve a graça de ordenar muito mais rapazes que em toda história do Seminário e da Arquidiocese.

    No ano de 2003, Dom Eusébio Scheid inaugurou na Tijuca o Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos, destinado a jovens vocacionados que se preparam para ingressar no seminário maior. No ano de 2012, o Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos passou a funcionar em espaço mais amplo dentro do edifício do Rio Comprido. No ano de 2015, autorizei, a pedido dos formadores, a reabertura do Seminário Menor, que recebeu como patrono São João Paulo II.

    Em 2019, no ano em que o Seminário completa seus 280 anos de existência, o número de seminaristas chega a quase 200. E com muita alegria e com o coração repleto de gratidão, é que celebramos os 280 anos de fundação e pedimos que esses anos possam ser ainda muito mais numerosos.

    Nas palavras do Papa Francisco, “os seminários,  antes e mais ainda que uma instituição funcional à aquisição de competências teológicas e pastorais, e lugar de vida comum e de estudo, o Seminário é uma verdadeira experiência eclesial, uma singular comunidade de discípulos missionários, chamados a seguir de perto o Senhor Jesus, a estar com Ele dia e noite, a partilhar o mistério da sua Cruz e Ressurreição, a expor-se à Palavra e ao Espírito, para averiguar e fazer amadurecer os traços específicos do seguimento apostólico. O Seminário é a escola desta fidelidade, que se aprende antes de tudo na oração, de maneira especial na litúrgica. Neste tempo cultiva-se a amizade com Jesus, centrada na Eucaristia e alimentada pela contemplação e pelo estudo da Sagrada Escritura. Não se pode exercer bem o ministério, se não se vive em união com Cristo. Sem Ele, nada podemos (cf. Jo 15, 5) (Cf. Discurso do papa Francisco ao Pontifício Seminário Regional da Sardenha, 17 de fevereiro de 2018 ).

    Não nos esqueçamos de que a vocação é a resposta de Deus a uma comunidade orante. Sigamos rezando por nosso seminário, pelos seus formadores e pelos nossos seminaristas, para que a motivação única de sua entrega a Cristo seja o serviço. Sustentemos material e espiritualmente nosso seminário. Levemos a sério nossa meta de que cada paróquia, neste ano vocacional, possa encaminhar uma vocação.

    Que pela Intercessão de São José, Patrono do nosso Seminário, possa surgir inúmeras e santas vocações. Ser padre é doar e ser homem que aponta a seus fiéis a misericórdia e o amor de Deus. Agradeço a todos que apoiam os nossos seminários, seja com o auxílio direto, seja com as orações, ou com os vários trabalhos. Rezemos para que o Senhor continue enviando operários para a sua messe, pois ela é grande e os operários são poucos. Que Maria, a primeira vocacionada do Pai, aquela que acolhia e guardava o que via de Jesus meditando em seu coração, continue guiando nossos jovens no caminho de escuta da vontade de Deus.

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