Às vésperas do Dia da Amazônia, representantes de entidades eclesiais e de povos tradicionais amazônicos ocuparam o plenário Ulysses Guimarães, na Câmara dos Deputados, para entregar a carta dos bispos da região aos parlamentares. O ato ocorreu na manhã desta quarta-feira, dia 4 de setembro, e foi conduzido pelo bispo da prelazia de Marajó (PA), dom Evaristo Spengler, e pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), com a participação de representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A proposta inicial do ato era aguardar o fim da sessão no plenário da casa, na qual se debatia a preservação e a proteção da Amazônia. Porém, o presidente da sessão, deputado Alessandro Molon, interrompeu os trabalhos para acolher a comitiva liderada por dom Evaristo e o convidou para discursar na tribuna.
Dom Evaristo leu um trecho da carta aprovada pelos bispos em encontro realizado na última semana, em Belém (PA), e alertou sobre o “contexto global de disputa” no qual a Amazônia está inserida.
“O Papa já havia denunciado em Puerto Maldonado, na Amazônia peruana, em janeiro de 2018, que a Amazônia é um território em disputa, é um território disputado por visões de mundo diferentes, por diferentes modos de ver a relação com o ambiente. São modos diferentes de tratar com a economia. De um lado vemos os povos tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos que preservam o meio ambiente, até o enriquecem. Do outro lado, vemos o agronegócio, vemos as madeireiras, as mineradoras invadindo, poluindo o meio ambiente”.
Dom Evaristo também ressaltou o posicionamento da Igreja com a convocação do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia: “de que lado nós estamos neste momento? Nós estamos do lado dos fracos, assim agia Jesus. Jesus defendia os pobres, os vulneráveis, os fracos, a Igreja se compromete com os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e todos os povos vulneráveis da nossa Amazônia”.
Antes de entregar o documento, dom Evaristo pediu a solidariedade e o compromisso da comissão de parlamentares com causa indígena “pela qual muitos no Brasil e no exterior estão lutando”.
O deputado Alessandro Molon agradeceu pela realização do Sínodo para a Amazônia, no próximo mês de outubro, e pediu que transmitisse à Presidência da CNBB e ao Papa Francisco a “alegria com a realização e com a escolha deste tema”. Molon também reforçou que os parlamentares querem “que a Igreja continue com a sua coragem de colocar o dedo na ferida e de dizer o que precisa ser dito sobre a preservação da Amazônia. É grande a nossa esperança com o que sairá do Sínodo da Amazônia”, finalizou.
Dom Evaristo agradeceu e reforçou que “a Igreja continuará a ser profética, a denunciar o que deve ser denunciado, o que está contra os desígnios de Deus na terra”.
O ato contou com a participação da CNBB, da REPAM-Brasil, do Conselho Indigenista Missionário, das Pontifícias Obras Missionárias, do Centro Cultural Missionário e da Conferência dos Religiosos do Brasil e da Associação Nacional de Educação Católica (Anec), além de entidades da sociedade civil como o Núcleo de Estudos Amazônicos da Universidade de Brasília e a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos.
Povos tradicionais
Após a saída do plenário, o indígena Junior Xukuru fez ecoar pelo Salão Verde da Câmara dos Deputados um canto tradicional ressaltando a ligação dos povos indígenas com a terra, criação de Deus. Xukuru concluiu com o refrão “O jardim de Deus fica na Amazônia” e com a oração do Pai Nosso. A quilombola Anacleta Pires da Silva também convidou os presentes a cantarem junto e reforçou a necessidade de respeito às comunidades tradicionais.
Temos que entender que a região amazônica, enquanto responsabilidade de todos, é um espaço sagrado, mas ela faz parte de um mundo por completo. Ela é o coração, é parte de um corpo universal.
Anacleta Pires da Silva
Território quilombola Santa Rosa dos Pretos, em Itapecuru Mirim (MA)