Cidade do Vaticano (RV) – Como ‘fazer Igreja’ aonde não existe clero suficiente? Como manter vivas e animadas as comunidades nas quais a Eucaristia é uma raridade, aonde padres passam raramente para celebrar uma missa? Serão estas algumas das razões pelas quais os brasileiros estão se tornando cada vez menos católicos e menos religiosos? O que a Igreja pode fazer neste sentido? Como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil enfrenta esta questão? Quem responde é Dom Leonardo Steiner, Secretário-geral da entidade.
“Existem algumas dificuldades internas nossas da Igreja que precisamos rever e estamos revendo. Temos feito discussões muito maduras, muito livres, e temos dado passos. Por exemplo: nós refletimos sobre a vida das comunidades. Comunidade de comunidades, uma nova paróquia. Nós refletimos sobre a missão do leigo na Igreja. São passos que a nossa Conferência está dando. Levando em consideração, naturalmente – não digo as pesquisas – mas o fenômeno de que muitas pessoas têm saído, têm deixado a Igreja Católica, assim como muitas pessoas retornam hoje à Igreja católica. Nós precisamos ser mais missionários: o Papa nos tem incentivado a isso, mas talvez tenhamos que achar maneiras de ser mais presentes nas periferias e com uma presença melhor nas nossas universidades, no meio intelectual. E nos interiores, termos a ousadia de ter em cada comunidade uma boa liderança, uma liderança ‘oficial’; quer dizer, o bispo designa alguém, designa duas pessoas para animar a comunidade, para – digamos assim – celebrar com a comunidade. Então, a comunidade sente que existe alguém que em nome do bispo, em nome da Igreja, está aí, nos anima, celebra conosco e também nos ajuda a enfrentar as dificuldades, os problemas, as discussões, os distanciamentos, a misericórdia. Creio que falta um pouco, ou bastante, este elemento. E nós temos discutido isso”.
“Existe aí uma ou outra iniciativa interessante em nossas dioceses de tentar ter estas lideranças. Nós estamos discutindo, por exemplo, o ministério da Palavra. O Papa tem nos incentivado a discutir isso. Ou seja, aquele home, ou aquela mulher, que na comunidade recebe do bispo o ministério da Palavra, não apenas para celebrá-la, mas para levá-la, porque a Palavra é vital na vida da Igreja. Ninguém recebe a Eucaristia antes da Palavra; ela sempre vem antes. Mesmo na celebração da Eucaristia, a Palavra antecede ao pão: o pão sagrado é sagrado pela Palavra – diz Santo Tomás”.
“Estas lideranças, leigas, não são ministérios ordenados, não se trata, portanto, de diáconos permanentes. Aonde existe a possibilidade, por que não? Seria muito bom que fosse, mas não necessariamente a comunidade precisa ser animada por um ministério. O padre vai passar lá, para celebrar a Eucaristia, mas alguém da comunidade precisa estar lá, como um elo de comunhão da própria comunidade”.
“Vou contar um pequeno exemplo: Em São Félix do Araguaia, eu encontrei uma comunidade que por 8 anos não foi visitada e por 8 anos não teve Eucaristia. Eles telefonaram, perguntando se o padre da região que tinha começado o ministério lá pudesse ir visitar… eu disse ‘olha, dentro de 15 dias eu vou para aquela região e vou visitá-los’. Eu cheguei lá e encontrei uma comunidade viva, uma comunidade que se reunia, que celebrava; eles discutiam suas dificuldades, mas por que? Lá eles tinham duas mulheres, uma professora da comunidade que todo domingo que reunia a comunidade, rezavam o terço e ouviam a Palavra de Deus. Quer dizer, esta liderança leiga conseguiu manter viva uma comunidade”.
“Existem várias tentativas, várias reflexões e é claro, nós, como Igreja, vamos refletindo, damos passos e buscamos. Creio que nós no Brasil temos dado passos mas ainda teremos que refletir em maior profundidade para enfrentar o fenômeno (do afastamento dos católicos da Igreja)”.
Fonte: Rádio Vaticano