O cardeal Seán Patrick O´Malley, arcebispo de Boston (EUA), apresentou hoje em Lisboa uma conferência sobre o pontificado do Papa Francisco, na qual elogia a novidade que estes três anos têm representado.
“Há muitos sinais de como o Papa Francisco se sente bem na sua pele e não se sente constrangido por práticas anteriores”, declarou.
Numa intervenção intitulada ‘A missão do Papa Francisco e os desafios da Igreja no presente’, o cardeal norte-americano sustentou que o atual pontificado tem procurado apresentar uma “verdade provocadora que nos desinstala” e alterar “pressupostos sobre poder, autoridade e liderança”.
A conferência na Universidade Católica Portuguesa (UCP) foi acompanhada por centenas de pessoas, entre elas o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como vários responsáveis católicos.
Rebelo de Sousa condecorou o arcebispo de Boston com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, o seu grau máximo, por “serviços que Portugal reconhece” e “agradece” às comunidades portuguesas, nomeadamente em Washington e depois em Fall River, bem como “o apoio à Universidade Católica”.
“A intenção do presidente da República é entregar a condecoração aqui, ao contrário do que é costume, precisamente para associar o mérito do agraciado a uma universidade que tem desempenhado um papel essencial no quadro da sociedade e da cultura portuguesas”, precisou o chefe de Estado.
O arcebispo de Boston integra o Conselho de Cardeais, com nove elementos, que o Papa escolheu para o aconselharem no processo de reforma da constituição do Vaticano e do governo da Igreja Católica.
D. Seán Patrick O´Malley evocou na sua conferência a celebração do lava-pés num centro de detenção juvenil, presidida por Francisco numa Quinta-feira Santa.
“O Papa replicou a surpresa, o escândalo dos apóstolos”, rejeitando “a Liturgia estilizada numa basílica”, explicou.
O arcebispo de Boston abordou depois a visão que Francisco tem da moralidade, que a entender “no contexto de um encontro com Cristo, desencadeado pela misericórdia”, condensado na palavra “ternura”.
A prioridade à “ligação entre as pessoas” marca esta proposta de “nova moralidade”, ou seja, “corresponder à misericórdia”.
O Papa vê esta moralidade como uma evolução: “A resposta a uma misericórdia surpreendente, inesperada e imerecida”.
Falando em português, numa intervenção intercalada por vários apontamentos humorísticos, o cardeal O’Malley elogiou no pontífice argentino o “intenso zelo missionário”, “grande amor pela comunidade” e uma “vida disciplinada que não desperdiça nada, muito menos o tempo”.
“Temos um Papa que batalha categorias e parece ter fundido o jesuíta e o franciscano num só”, assinalou.
Para o cardeal, a insistência nos temas do amor, da misericórdia, do cuidado com os pobres e os mais necessitados, ajuda a fazer compreender as posições da Igreja Católica em questões como o aborto.
“Somos contra o aborto não por sermos maus, mesquinhos, antiquados, mas porque amamos as pessoas”, precisou.
Após a conferência, D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa e magno chanceler da UCP, afirmou que o Papa Francisco “tem a popularidade que tem precisamente porque encontra a humanidade onde ela precisa de ser encontrada”.
D. Manuel Clemente e a reitora da UCP, Maria da Glória Garcia, recordaram ainda a ligação da instituição acadêmica à Arquidiocese de Boston, agradecendo o apoio prestado.
Fonte: Agência Ecclesia