“Gostaríamos de ver Jesus”

                O evangelista João (12,20-33) relata o pedido de alguns gregos ao apóstolo Filipe: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. No pedido destes anônimos gregos podemos ver a sede que existe no coração de cada homem de ver e conhecer a Deus. Em toda a história da humanidade encontramos as mais variadas formas usadas pelos homens para se encontrar com Deus. O episódio está situado próximo à Pascoa judaica e também próximo a morte e ressurreição de Jesus. Filipe vai ao encontro do colega apóstolo André e se dirigem a Jesus. Jesus responde se apresentando e revela o que vai acontecer com ele nos próximos dias. Como está relatado em outras passagens do Evangelho as opiniões e compreensões sobre Jesus Cristo eram as mais variadas. Agora, às vésperas da sua morte e ressurreição, a identidade de Jesus vai se revelando plenamente. É uma necessidade constante crescer no conhecimento de Jesus para poder aceitar seus ensinamentos e seguir os seus passos. Os demais textos da liturgia dominical (Jeremias 31,31-34, Salmo 50 e Hebreus 5,7-9) se somam a resposta de Jesus.

                O profeta Jeremias anuncia uma nova Aliança que Deus quer fazer e ela terá características diferentes daquela feita no Sinai. “Esta será a aliança que concluirei com a casa de Israel (…) imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração; serei o seu Deus e eles serão meu povo”. Falar de aliança significa falar de relações, responsabilidade, pertença. Aqui se trata da aliança de Deus com a casa de Israel. Jesus na véspera da sua morte e ressurreição, reunido com os discípulos, toma o pão e o vinho e sela a “nova e eterna aliança” com a oferta do seu corpo e sangue na cruz.

                Aliança é um elemento fundamental para compreender toda a História da Salvação. Aliança, em sentido bíblico, não significa simplesmente um tratado bilateral, mas empenho que um determinado sujeito assume diante do outro, e por isso reclama o significado de promessa. Também contém direitos e deveres. A história bíblica acentua a fidelidade absoluta de Deus e a instabilidade das pessoas e do povo. A aliança não se rompe definitivamente por causa da misericórdia divina, como canta o salmo 50. Viver a aliança significa saber que tem alguém-com-nós e para-nós, para sempre. A aliança que o profeta Jeremias revela não é um fardo exterior, formal e rígido, mas interior. O novo não está nos preceitos a observar, mas nas intenções mais profundas, pois ela “está impressa nas entranhas” e “inscrita no coração”.

                Aos gregos que queriam vê-lo, Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que Filho do homem vai ser glorificado”. Compreender a “hora” é uma forma de compreender e amar Jesus como Salvador. Qual o significado da “hora de Jesus” segundo o evangelista São João? Em primeiro lugar, é a referência à cruz e a glória da ressurreição. Duas realidades inseparáveis. Através de sete declarações ou imagens vai exemplificando o significado da hora. A hora da morte será dramática e sofrida, mas extremamente fecunda. Não será um fracasso, mas será de glorificação.

                No desejo de ver Jesus, manifesto pelos gregos, está presente a pergunta pelo sentido da vida. Questão fundamental para vivenciar as mais diversas situações existenciais e profissionais da vida. Na resposta de Jesus, mesmo angustiado, ele se pergunta: “E que direi? “Pai, livra-me desta hora!” Mas foi precisamente para esta hora que eu vim”. Se Jesus fugisse desta hora, estaria negando a sua missão de salvar o mundo e estaria negando seu amor à humanidade pecadora. Portanto, o sentido da vida está em ser capaz de viver por alguém e por uma causa.

                            A liturgia dominical vai preparando espiritualmente os fiéis para a vivência da Semana Santa e, assim, partilhar o “estado de espírito de Jesus” para celebrar os dias sagrados, não como expectadores, mas como discípulos que o seguem de todo coração.

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