A primeira leitura do trigésimo segundo domingo do Tempo Comum nos conta uma antiga história de um profeta e de uma mulher. É tempo de grande seca. E, se esse tempo é difícil para todos, para os pobres é muito pior. O que pode fazer uma viúva pobre com um filho em tempos de seca? Nada mais do que esperar a morte quando acabar o que há da colheita do ano anterior. Era isto que estava para acontecer com a viúva de Sarepta. No entanto, o profeta a convida a compartilhar esse pouco que ela tem. A viúva deve ter pensado que era indiferente morrer um pouco antes ou depois e, com a generosidade que só os pobres têm, às vezes, compartilhou o pouco que tinha com o profeta. A resposta foi o milagre: nem o azeite, nem a farinha terminaram.
O Evangelho deste domingo tem duas partes. A segunda se parece muito com a da história da viúva de Sarepta. Diante dos ricos que doam muito dinheiro para o templo, há uma pobre anciã viúva que deposita apenas duas moedas. Nada mais. Certamente, essa contribuição não era tão importante para o templo. No entanto, Jesus não dá valor ao que a viúva oferece a partir da perspectiva econômica. A viúva não ofereceu muito porque tirou daquilo se que ela precisava para sobreviver. Sua contribuição em quantidade não é muita, mas em generosidade tem um valor incalculável. Aqui não se produz o milagre da viúva de Sarepta. Não sabemos se, ao chegar em sua casa, a anciã encontrou sua bolsa de novo cheia, com o suficiente para viver. Provavelmente, não. Mas o amor de Deus estava posto em seu coração. E isso é mais do que suficiente.
A outra parte do Evangelho, a primeira, registra algumas palavras de Jesus sobre aqueles que fazem da vida uma exibição e, de si mesmo, uma fachada. Não lhes importa viver, nem amar, nem nada fazer, a não ser para serem vistos, ocuparem os lugares de privilégio e de honra, serem aplaudidos e homenageados. Isso que existe no mundo da política ou da sociedade, existe também, diz Jesus, no âmbito religioso.
Nesse mundo, os que agem assim sãos mais hipócritas, se é possível quantificar a sua relação com Deus como excusa para devorar os bens dos pobres. Dessa forma, Jesus põe em contraposição duas atitudes ante a vida: a dos que só buscam seu bem-estar – e, para isto, não hesitam em ludibriar e aparentar aquilo que não são – e a atitude daqueles que, compartilhando tudo – sem medida, com absoluta generosidade, como a pobre viúva – têm um tesouro imenso em seu coração. Jesus nos vem dizer que viver em plenitude é uma questão de generosidade, de compartilhar sem medida, de não desejar monopolizar, mas de dar tudo o que se tem.