FUNDAMENTOS DA PAZ UNIVERSAL

    A tônica das mensagens de São João Paulo II na sua histórica visita ao Casquistão foi mostrar ao mundo que, apesar dos pesares, a paz é possível e deve ser buscada com afinco pelos líderes mundiais. A luta armada, num universo de conflitos no qual reinam o desespero, a violência, a fome, o pauperismo, só aprofunda os males num contexto no qual se o ser racional ainda comete desatinos como os ocorridos dia 11 de setembro. Há, porém, no mais profundo do coração humano caudais de bondade, benignidade, generosidade que devem ser cultivados. A grande questão é ter coragem para denunciar o clima de beligerância em que vive o homem no início do terceiro milênio. Quando se esperava estarem banidas as desgraças que enodoaram o século XX que presenciou duas guerras mundiais e inúmeros outros embates regionais, a nova etapa é marcada pelo terror mais desabrido. A grande calamidade causadora de toda a turbulência atual se chama egoísmo, o eterno inimigo da compreensão entre os homens.  A falta de discernimento de que o amor excessivo ao bem próprio, sem consideração aos interesses alheios, leva a lamentáveis distorções e contradições, acirra os ânimos, gerando todo tipo de atitudes aberrantes. A cruzada pela paz há de começar no íntimo de cada um, alastrando-se na comunidade em que se vive e se estendendo mundo todo. Todo e qualquer laivo de violência cortada nas mais corriqueiras atitudes e gestos é o primeiro passo rumo à tranqüilidade da ordem. A beligerância que reina nas famílias, o desprezo acintoso para com a lei sapientíssima do Ser Supremo, a corrupção, o fanatismo religioso, a insinceridade estão na raiz dos distúrbios que ganham dimensões dantescas quando colocam frente a frente aqueles que vão impor a paz pela guerra. Se cada um procurasse o repouso interior, o equilíbrio adquirido na calma, na projeção de um futuro planejado, por certo a atmosfera do planeta seria outra. Trata-se de uma persistente educação para a paz que supõe inclusive uma revisão completa nas mensagens lançadas pelos meios de comunicação. Não há, positivamente, um empenho sério para se promover estruturas favoráveis à paz, medidas necessárias para a conservação ou a permanência da harmonia entre os povos. O que mais chama a atenção neste momento é a proclamação de que o terrorismo só será vencido pela espionagem. Ora, todo sistema que emprega agente secreto encarregado de recolher informações acerca de uma potência estrangeira e fornecê-las ao governo, por cujo interesse trabalha, é notoriamente corrupto. Traz em si, no seu bojo, mais mentiras que verdades e está impregnado de venalidade. O papa João Paulo II está coberto de razão, pois só a arte do diálogo, da conciliação, da harmonização de litigantes, da arbitragem e do desenvolvimento paciente de relacionamentos mais sábios salvará a humanidade. Vale mais uma vez o grande princípio venienti  occurrite morbo – dar remédio ao mal que está chegando. É sabedoria prever os perigos, preparar o antídoto e prover aos males. Isto significa liquidar com as tensões logo que aparecem em situações perigosas, tendo em mira objetivos positivos; trazer logo à tona os conflitos latentes e as situações conflituais antes que elas eclodam e fujam a todo o controle. O respeito mútuo que exclui qualquer imposição é um fundamento elementar para o convívio social. Entretanto, a base de uma paz duradoura só se firmará, realmente, dentro de um humanismo profundo que respeite aqueles valores que dignificam o homem e isto só será possível quando a fraternidade reinar a partir da verdadeira noção da paternidade divina e do respeito ininterrupto das diretrizes que o Criador imprimiu no íntimo da consciência humana, as quais estão bem claras num decálogo cujo menoscabo é a fonte última de toda a desgraça e de todas as guerras.

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