Alessandro De Carolis/Mariangela Jaguraba – Vatican News
O paradoxo que Francisco usa como exemplo não é novo, mas não é menos lacerante: três quartos dos que têm pouco para comer são pessoas que produzem alimentos para o resto do mundo, os agricultores que vivem em contextos rurais pobres. O Papa fala sobre isso na mensagem enviada ao ministro polonês do Clima e Ambiente, Michał Kurtyka, nesta segunda-feira (14/06), que preside os trabalhos da 42ª sessão da Conferência do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), programada em modo virtual até 18 de junho.
Economia circular, recursos para todos
A pandemia é a espinha dorsal da reflexão de Francisco. Após décadas de conquistas que infelizmente veem as pessoas não terem “ainda acesso aos alimentos de que necessitam, nem em quantidade nem em qualidade”, e depois que o número de pessoas “em risco de insegurança alimentar aguda” atingiu o máximo em 2020, a crise global desencadeada pela Covid é uma janela de oportunidade para mudar certos modelos. “Como este quadro pode piorar no futuro para milhões de pessoas”, escreve o Papa, devido, além da Covid, a “conflitos, eventos climáticos extremos e crises econômicas”, eis que “o desenvolvimento de uma economia circular, que garante recursos para todos, incluindo as gerações futuras, e promove o uso de energias renováveis, é vantajoso”.
Inverter a rota
Para o Papa da Laudato si’ e da Fratelli tutti a questão principal está em redesenhar “uma economia em escala humana, não apenas sujeita ao lucro, mas ancorada no bem comum, amiga da ética e respeitadora do meio ambiente”. A pandemia deveria ensinar isso: a “inverter a rota seguida até agora”, investindo “num sistema alimentar global capaz de resistir a crises futuras”, afirma o Papa. Segundo o pontífice, isso inclui “a promoção de uma agricultura sustentável e diversificada” que leva em conta “o papel precioso da agricultura familiar e das comunidades rurais”. Francisco observa que são “exatamente aqueles que produzem alimentos que sofrem com a falta ou escassez de alimentos”, aqueles “três quartos dos pobres do mundo” que “dependem principalmente da agricultura para seu sustento” que, no entanto, estão isolados dos mercados, da propriedade da terra, dos recursos financeiros, das infraestruturas e das tecnologias”.
Um amanhã que não descarte ninguém
O Papa pede à FAO e à Comunidade internacional em geral esforços necessários para “alcançar a autonomia alimentar, tanto através de novos modelos de desenvolvimento e consumo, quanto através de formas de organização comunitária que preservem os ecossistemas locais e a biodiversidade”. Enquanto “alguns semeiam tensões, confrontos e falsidades, nós, por outro lado, somos convidados a construir com paciência e determinação uma cultura de paz, que seja voltada para iniciativas que abracem todos os aspectos da vida humana e nos ajudem a rejeitar o vírus da indiferença”, afirma Francisco. Todos os gestos concretos ele os define necessários para estimular a “fraternidade”, com base na responsabilidade individual e coletiva. “Aproveitemos esta provação como uma ocasião para preparar o amanhã para todos, sem descartar ninguém”, conclui o Papa.