Na imposição das cinzas, precedida da oração e bênção, no início da Quaresma, gesto profundamente simbólico, a Mãe Igreja demonstra sua vontade de que seus filhos entrem em cheio na observância da quaresma, para que de corações purificados participem do mistério da Páscoa. Os fiéis se aproximam do sacerdote e ministros para receberem as cinzas sobre suas cabeças, em uma atitude de grande piedade, nas seguintes palavras: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, sem esquecer o sinal de cruz, cruz esta sagrada e na qual se encontra a Redenção da humanidade.
Como é indispensável pensar no batismo, o primeiro dos sete sacramentos da Igreja Católica, o qual faz-nos integrantes do sacrifício pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo, tornando-nos filhos de Deus e membros da Santa Igreja de Cristo, abrindo, na esperança, o caminho para a salvação, isto é, a glória futura. No início do Cristianismo, os que se preparavam para o batismo, passavam por sólido, forte e intenso momento de formação, chamado de catecumenato, recebendo o sacramento do batismo na noite de Páscoa. Infelizmente, embora muitas tentativas, no sentido de retornar à maravilhosa iniciativa dos catecúmenos da Igreja primitiva, a mesma vive na ânsia desse sonho, que parece distante.
No contexto da Quaresma, na nossa caminhada para a Páscoa do Senhor, vamos comemorar neste 13 de março 2015 os dois anos da eleição do Papa Francisco, que ao longo de seu profícuo pontificado sempre demonstrou, com atitudes concretas seu amor e apreço pelos empobrecidos, os quais ocupam os últimos lugares, indo às periferias do mundo, nas suas viagens internacionais, afirmando na Basílica de São Pedro (15/02/2015), na missa com os novos cardeais que o “Caminho da Igreja é ir procurar, sem preconceitos e sem medo, os distantes”; finalizou sua homilia dizendo: “Verdadeiramente é no Evangelho dos marginalizados que se descobre e revela a nossa credibilidade”.
Constantemente O Romano Pontífice tem destacado , à luz do Evangelho, inúmeros gestos de amor, sobretudo quando fala, escreve, celebra na Capela Santa Marta, viaja, recebe autoridades e procura o diálogo sincero, acalentando no mais íntimo de seu coração o sonho de um mundo fraterno e solidário, um mundo verdadeiramente de irmãos, sem esquecer que, pensando em uma vida com maior encanto na face da terra, no seu sentido mais largo e profundo, nosso querido Papa Francisco está trabalhando na elaboração de sua nova Encíclica sobre o tema da ecologia, do meio ambiente, querendo dizer-nos que somos chamados a dialogar com todas as realidades do planeta, começando com a própria natureza.
Que a Quaresma, tempo favorável, rico e precioso para nós cristãos, ajude-nos a olhar para o profeta Elias, que foi exemplo para a humanidade, quando deixou seu local, no qual habitava, na indicação divina do caminho sagrado, acontecimento relatado, no livro dos Reis (cf. 17, 1-17), que podemos comparar ao nosso querido Papa Francisco, também indicado por Deus para missão de assumir o barco de Pedro, se esforçando para viver dia e noite na presença do Senhor Deus, tendo na mente e no coração o Horeb, a montanha de Deus e para lá caminha esperançoso! (cf. 1Rs, 19, 8-9). Só assim, a partir da conversão interior, comunitária e social, penetrando no mistério indizível do Cristo na cruz, do Servo Javé desfigurado, na mais completa ausência de aparência humana, que o Apóstolo Paulo deixa tudo muito claro, na seguinte assertiva: “Cristo existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz” (cf. Fl 2, 6-8), a nos apontar e dar a clareza para a verdadeira montanha sagrada, a Páscoa definitiva.