Foi a mim que fizestes

    Estamos na última semana do ano litúrgico e repercutindo a solenidade de domingo passado, quando a a Igreja contempla, adora e proclama o seu Senhor, Jesus Cristo, como Rei e Senhor do universo! Depois de termos percorrido todo o Ano Litúrgico, começando lá atrás, com o Advento que nos preparava para o Natal; depois de termos atravessado a penitência quaresmal e o júbilo pascal, depois das trinta e três semanas do longo Tempo Comum, eis-nos agora, ao final do ano da Igreja, proclamando que o Senhor do universo, o Rei do tempo e da eternidade é o Cristo nosso Deus!
    A solenidade foi instituída no Ano Jubilar de 1925 pelo Papa Pio XI com a Carta Encíclica “Quas Primas” (QP), com o qual coincidiu o 16º centenário do Concílio de Nicéia, que proclamara a divindade do Filho de Deus; este Concílio inseriu também na fórmula de fé as palavras: “cujo reino não terá fim”, afirmando assim a dignidade real de Cristo (cf. QP 2).
    Nós realmente acreditamos com todo o coração e confessamos com toda convicção que Jesus Cristo – e só ele! – é Rei: Rei do universo, Rei da história, Rei da humanidade, Rei da vida de cada pessoa humana. Ele é Rei porque é Deus feito homem, é, como diz a Escritura, aquele “através de quem e para quem todas as coisas foram criadas, no céu e na terra… Tudo foi criado através dele e para ele… Ele é o Primogênito dentre os mortos” (Cl 1,1518).
    Cristo Rei anuncia a Verdade e essa Verdade é a luz que ilumina o caminho amoroso que Ele traçou com sua Via Crucie, para o Reino de Deus. “Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta minha voz.” (Jo 18, 37). Jesus nos revela sua missão reconciliadora de anunciar a verdade ante o engano do pecado. Assim como o demônio tentou Eva com enganos e mentiras, agora Deus mesmo se faz homem e devolve à humanidade a possibilidade de retornar ao Reino, quando qual Cordeiro se sacrifica amorosamente na cruz.
    Cristo Rei foi uma das últimas celebrações instituída pelo Papa Pio XI, na época em que o mundo passava pelo pós-guerra de 1917. Este Pontífice instituiu essa festa para que todas as coisas culminassem na plenitude em Cristo Senhor, simbolizado no que diz o Apocalipse: “Eu sou o Alfa e o Ômega, Principio e Fim de todas as coisas.” (Ap1, 8).
    Diante da realidade da história recente vemos como é importante que Cristo Reine nos corações, relacionamentos e na sociedade. O século passado foi marcado pelo fascismo na Itália, pelo nazismo na Alemanha, pelo comunismo na Rússia, pelo marxismo-ateu, pela crise econômica, pelos governos ditatoriais que solaparam toda a Europa, pela perseguição religiosa, pelo liberalismo e outros que levavam o mundo e o povo a afastar-se de Deus, da religião e da fé, e chegou-se também a 2ª Guerra Mundial.
    A primeira leitura desta solenidade (Ez  34, 11-12.15-17) recorda que o Povo de Israel, por negligência de seus pastores, afastou-se da Palavra de Deus, e terminou no Exílio na Babilônia. Ezequiel é o Profeta que acompanhou o Povo no exílio, onde anunciou o perdão e a libertação. Deus é bom!
    A segunda leitura (1Cor 15,20-26.28) traz à reflexão que pelo pecado de Adão e Eva, todos estamos no exílio, longe de Deus; mas pela virtude de Jesus Ressuscitado, todos fomos perdoados e alegrados com a promessa de nossa ressurreição, igualmente, gloriosa como a Ressurreição de Jesus!
    No Evangelho (Mt 25,31-46) Jesus recorda sobre o que seremos julgados. O ator principal é o “Filho do Homem”, aquele ser humano que recebe de Deus plenos poderes sobre o mundo, conforme a visão de Dn 7,13-14. É o próprio Jesus. Ele vem com a glória de Deus e reúne diante de si todos os povos. Como um rei, tendo a última palavra em seu reino, ele vai julgar “todos os povos”.
    Assim como um pastor, ao anoitecer, separa os cordeiros dos bodes, para que passem a noite em ambientes diferentes, o rei-juiz separa os bons dos maus. Os dons, ele os faz entrar na sua alegria, porque lhe deram comida, bebida, hospedagem, roupa, assistência na prisão… E eles perguntaram: “Senhor, não sabemos nada disso1”. Então responde: “O que fizestes ao mais pequeno desses meus irmãos (os famintos, sedentos etc.), foi a mim que o fizestes”. E os maus, ele os condena, porque não fizeram essas boas ações. Tampouco estes têm consciência de quando foi que não trataram bem o rei. E ele responde: “ O que deixastes de fazer a um desses mais pequenos irmãos, foi a mim que não fizestes”.
    É na caridade gratuita, que se encontra o critério pelo qual Jesus julga “todos os povos”. Na perspectiva dos israelitas, o julgamento se pauta segundo a observância da Lei de Moisés. Mas Jesus veio mostrar que o anuncio ao Reino é para além dos limites do Judaísmo. O que mais agrada a Deus é o amor efetivo que demonstramos para com seus filhos, especialmente os mais insignificantes, os mais pequenos.

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