Faze isto e viverás

    Certo doutor da lei para pôr Jesus à prova lhe apresenta duas questões: Que hei de fazer para obter a vida eterna e quem é o meu próximo?   (Lc 10,25-37). Com maestria as respostas foram dadas e firmaram a doutrina de Cristo sobre o amor ao Criador e ao semelhante. Quanto à primeira pergunta Jesus o remeteu à Escritura e o seu interpelante citou o que se acha no Deuteronômio sobre o amor a Deus e no Levítico o que se referia ao amor aos outros. Jesus foi incisivo: “Faze isto e viverás”. Na teoria aquele interpelador estava correto, deveria, porém, colocar em prática o que estava na Lei já que era bem conhecedor da mesma. Quanto à segunda pergunta, uma vez que aquele legista, profissional da Lei, não decodificara quem era o próximo, Jesus oferece uma explicação dinâmica numa das parábolas que seriam mais lidas e refletidas através dos tempos. Como bem observam os hermeneutas, a caridade ativa do Samaritano apresenta três momentos distintos. Primeiro a emoção diante do pobre homem à beira do caminho, ferido pelos salteadores, pois foi tocado por uma grande compaixão. Em seguida, presta os primeiros socorros, estancando o sangue e cuidando das feridas, gestos salvíficos admiráveis. Por fim, leva o barbaramente golpeado a um albergue sobre a sua própria cavalgadura e assume todos os gastos que lá teriam com aquele acidentado. Isto é amar, isto é salvar, isto é sublime. De fato, esta é a lógica da caridade que não admite paliativos, maneiras anódinas, inócuas, mas é abrangente. cobrindo todas as necessidades imediatas de quem padece. Entretanto, a fraternidade, a solidariedade jamais ficam sem a recompensa divina, pois o cristão vê no seu próximo a própria figura de Cristo. Este afirmou peremptoriamente: “O que fizerdes ao menor de vossos irmãos foi a mim que o fizeste” (Mt 25,40). Nas atividades de cada hora, no cumprimento exato das obrigações cotidianas cada um está sempre a serviço do próximo e ao contemplar Jesus nele tudo é feito com muito amor, dedicação, sacrifício e capricho. Nem se pode esquecer que, na medida do possível, se deve ajudar a estes anjos da caridade que são os vicentinos, bem como às obras sociais tão numerosas em todas as paróquias. Aí as contribuições são direcionadas com sabedoria a quem realmente necessita de um urgente apoio. Podemos, portanto, ser samaritanos de muitas maneiras e a toda hora nos trabalhos que se presta em casa, nas mais variadas profissões e em qualquer lugar. Para Jesus a caridade é um ato de amor que deve envolver tudo que se faz, mesmo porque em qualquer situação estamos sempre a servir o próximo. Entretanto, a norma do amor ao semelhante deve levar também à investigação da solução melhor para tirar o outro ou os outros de uma situação difícil. Isto demanda fugir ininterruptamente do comodismo e a ajudar até aqueles que nos ofendem. Isto aconteceu com Jesus que no alto da cruz pedia ao Pai para perdoar seus inimigos. Foi o exemplo deixado, igualmente, pelo Papa São João Paulo II que foi ao encontro daquele que o queria assassinar, indo visitar Mehmet Ali Agca na prisão. Teve com ele uma conversa cordial que muito comoveu aquele seu inimigo, como este depois declarou à imprensa.  Nestes dois exemplos, como também no da parábola, dado que os samaritanos odiavam os judeus, se percebe a mensagem de Jesus a mostrar que o próximo a ser bem tratado pode ser até aquele que mais nos odeia e persegue. Este deve estar continuamente presente em orações fervorosas que exprimam bem o perdão e a disponibilidade de combater qualquer laivo de desprezo ou omissão de ajuda. Finalmente, nesta parábola contada por Jesus, ele não era nem o sacerdote, nem o levita, mas o bom samaritano. O sacerdote judeu e o levita tinham medo de se tornar pecaminosos por se aproximarem de um homem que jazia por terra e que poderia estar morto. Pela lei judaica o contato com um cadáver tornava a pessoa impura. O samaritano, porém, teve piedade de alguém que poderia estar vivo, como, de fato, estava. Jesus quer que imitemos este samaritano e sejamos testemunhas do amor de Deus, tomando cuidado dos que estão feridos no corpo e na alma e precisam de um auxílio oportuno, usando de misericórdia para com todos. Ecoa então a ordem expressiva do Mestre divino: “Vai e faze tu também do mesmo modo. Faze isto e viverás”.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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