Família: Igreja doméstica e canteiro de vocações

Padre José Ulisses Leva

Na Igreja Católica no Brasil, tornou-se habitual celebrar em agosto o Mês Vocacional. Tempo oportuno e favorável para meditarmos e nos preocupar com as urgências da Igreja de Cristo. Todas as vocações são necessárias e importantes para o conhecimento do Salvador e seu projeto de amor.

Destaco que a preocupação eclesial com as vocações sacerdotais, religiosas e missionárias é importantíssima, lembrando, também, que os leigos e os movimentos eclesiais são igualmente valiosos.

O Concílio Ecumênico Vaticano II destacou o papel e a missão do leigo na Igreja. A Constituição Dogmática Lumen Gentium garantiu-nos que na estrutura da Igreja a cabeça é Cristo, e que todas as vocações são fundamentais para o crescimento do anúncio do Reino de Deus proclamado pelo Divino Mestre.

No século XX, os movimentos eclesiais ganharam destaque na Igreja. No pós-guerra e pós-Concílio, os leigos descobriram maneiras diversas de viver o Evangelho de Cristo, inseridos ora na própria família ou estruturando novas formas em diferentes modelos de famílias religiosas.

Lembro que todo o mês de agosto é propício para rezarmos pelas vocações. Quero reforçar a importância da família. Destaco, com carinho renovado, a minha família, e, com alegria profunda, quero lembrar da minha mãe.

Giselda Zecchinelli Leva nasceu em Monte Alto (SP), em 15 de junho de 1929, filha de Pietro Zechinel e Amalia Barlafante. Imigrantes vindos do norte da Itália, ao chegarem ao Porto de Santos (SP) e desembarcarem na Hospedaria do Imigrante, seus nomes perderam a grafia correta. Meu avô foi registrado como Pedro Zecchinelli e minha avó como Maria Bellafonte. Quando do meu doutorado, em Roma, para conhecer melhor a presença da Igreja em São Paulo, visitei os Arquivos da Imigração, revisitei meus antepassados e pude recompor a grafia original dos meus avós.

Lembro a vida da minha mãe porque no dia 15 de junho deste ano, em Monte Alto, minha família, nossos amigos e eu celebramos seus 90 anos de idade. Foi um momento espetacular e fundante, para reafirmarmos a importância da família e os valores agregados que são permanentes. Minha mãe sempre nos contou que seus pais tiveram inúmeros problemas para sustentar seus filhos. Casaram-se em 1913 e foram marcados pelas quantas vicissitudes de um Brasil recém-republicano e de um estado de São Paulo sustentado pela monocultura do café. A vida dos imigrantes que se faziam meeiros era uma aventura. Passando pela geada e a gripe espanhola, de 1918, até a crise econômica com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e o enfraquecimento da cultura do café, os filhos foram nascendo; e as dificuldades, aumentando.

Minha mãe e os seus resistiram a esses infortúnios. Casada no Ano Santo de 1950 com meu pai, Alcebíades Leva, falecido em 2011, ela se tornou referência de fibra e valor indiscutível. Portanto, lembrar dos seus 90 anos, se torna um marco de profundo reconhecimento e agradecimento. A família que nasce do amor e que é sustentada pela fé nos assegura um canteiro de muitas vocações para a Igreja.

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