FAÇA-SE A LUZ

                O grande milagre pós ascensão do Senhor foi a revelação da luz divina nos corações de seus seguidores. De repente, tudo se clareou, ficou nítido como a luz do dia, o brilho das estrelas… Nada mais era mistério ou provocava medo, insegurança. As ameaças do mundo, as incompreensões, os conflitos, as possíveis dores e doenças… tudo se tornou insignificante, banal, mesquinho, diante da coragem e do destemor que assomavam suas almas revestidas da mais pura luz… Era esse o grande dom, o milagre que os novos dias descortinavam através do Espírito Novo que se lhes era revelado. Pentecostes, a grande festa da colheita judaica, tornava-se a Festa da Revelação cristã.

                Passados dois mil e tantos anos, eis que chegamos aos nossos dias relembrando aquela experiência com certa inveja e decepção: o que estamos colhendo nesses dias fatídicos? Será que fomos expulsos dessa festa? Que a luz da Revelação se apagou para nós? Fonseca, meu “farol” em dias de descrédito, vem mais uma vez em meu socorro. E escreve:

                “Na escuridão de nossos dias a esperança é nosso farol interior. Lá, no extremo norte do Brasil, conhecido como a Cabeça do Cachorro, hoje São Gabriel da Cachoeira – AM, cidade com 40 mil habitantes e 80% deles indígenas, um índio chamado Aldevan foi mostrar a um cientista a beleza noturna da Selva Amazônica. Em noite de lua minguante, floresta com 99% de escuridão, mandou ao cientista que desligasse sua “lanterna tecnológica de última geração” e aguardasse dez minutos para os olhos se adaptarem à floresta e ao breu da noite. Depois mandou ao cientista abrir novamente os olhos e olhar em volta. O cientista descobriu com seus próprios olhos a floresta cheia de cogumelos bioluminizantes, a fazer a função de iluminar a floresta. Então ele disse ao índio: eu visitei florestas na Malásia, na Indonésia, na Amazonia e por que nunca tinha visto isso? Ao que o índio respondeu: É porque você nunca desligou sua lanterna. As vezes para “ver” é preciso desiluminar”.

                 Então respondi ao meu amigo: “Você. Fonseca, fala de brilho olhando para o céu estrelado. Às vezes nuvens e tempestades nos impossibilitam de admirar as estrelas, mas só a certeza de que elas lá estão, acima de tudo e de todos, já nos enche o coração de esperança, de que amanhã ou quiçá, logo mais, poderemos contemplá-las sem nos preocuparmos com trovoadas ou nuvens assombrosas…O que não podemos é ignorar que dentro de nós também brilha uma luz, que somos estrelas especiais a coroar todas as maravilhas que o Criador reservou para nossa alegria, nosso júbilo e nossa eterna gratidão. Em meio a esta floresta desconhecida e muitas vezes assustadora que é a vida, apesar dos desafios, ainda nos resta a certeza de que dias estrelados virão logo mais.”

                A referência que meu amigo fez ao livro Brilho na Floresta – cogumelos na Amazônia, do índio Aldevan, morto pela Covid, não poderia ser mais oportuna para esse novo pentecostes que atravessamos numa floresta de morte e descrédito geral. Precisamos, realmente, de um novo olhar para vencer as trevas que ora nos rondam, porque sobra-nos uma única alternativa: buscar a luz. Na história, um único homem foi capaz de atribuir para si a resposta que buscamos: “Eu sou a Luz do mundo”. E o único a fazer uma promessa inusitada: “Vou para o Pai, mas vos mandarei um Paráclito”, um advogado novo para as causas perdidas nessa nossa selva existencial. Agora é preciso acreditar, confiar e renovar nossa visão com um novo olhar sobre a vida que ainda brilha, que pulsa em nós com esperanças sempre renovadas. Por que não pedir?  “Vinde Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis, enviai o vosso Espírito de Luz… e renovareis a face da Terra”.

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