Rui Saraiva – Porto
“O Papa acompanha com alegria os preparativos para a próxima Jornada Mundial da Juventude em 2023” – foram estas as palavras de D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e responsável executivo do evento, que participou na audiência geral com o Papa na quarta-feira 2 de setembro, a primeira com fiéis neste tempo de pandemia.
“O Papa está muito animado e fica sossegado por ter conhecimento direto que as coisas estão a acontecer, e que o trabalho está a ser feito. E pediu para não esquecer a marca solidária na própria Jornada” – explicou à Agência Ecclesia D. Américo Aguiar, que é também o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023.
Embora com as precauções obrigatórias devido à pandemia do coronavírus, a Jornada Mundial da Juventude que terá lugar em Portugal em agosto de 2023 está a ser organizada, muito embora a prioridade seja a “solidariedade” neste momento tão difícil.
“A jornada passou para segundo plano, estando atento e indo ao encontro dos que precisam de ajuda na vivência da pandemia. No entanto, as coisas têm de continuar a ser pensadas e programadas” – sublinhou D. Américo Aguiar.
E na preparação do evento os jovens não esquecem a Exortação Apostólica “Cristo Vive” que o Papa lhes dirigiu em 2019. No capítulo II do documento, o Santo Padre refere, precisamente, que Jesus Cristo é sempre jovem. Uma boa inspiração que aqui recordamos para não esquecermos que a juventude de Jesus nos ilumina e renova a Igreja.
A juventude de Jesus
“Jesus Cristo sempre jovem” é o título do segundo andamento do texto do Santo Padre dedicado aos jovens. Na sua reflexão pós-sinodal Francisco afirma que “Jesus é jovem entre os jovens, para ser o exemplo dos jovens e consagrá-los ao Senhor”.
Cristo entrega-se na Cruz “quando tinha pouco mais de 30 anos de idade” – lembra o Papa – sublinhando que, não obstante o Evangelho não nos fale da meninice de Jesus”, conta-nos alguns “factos da sua adolescência e juventude”. “As primeiras imagens de Jesus, jovem adulto”, são as que apresentam Cristo “na multidão ao pé do rio Jordão, para ser batizado pelo primo João Batista, como qualquer um do seu povo” – assinala o Santo Padre citando o texto de S. Mateus.
Jesus cresceu com a sua família e “era-lhes submisso” – diz o Papa recordando o texto de S. Lucas no seu capítulo 2. Este evangelista dá-nos a conhecer que Cristo “crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens”, num verdadeiro processo de aprendizagem que orientam o jovem Jesus para a sua “missão suprema” – escreve Francisco na sua Exortação.
O crescimento de Jesus não teve lugar apenas numa “relação fechada e exclusiva com Maria e José” – diz o Papa – mas “de bom grado movia-Se na família alargada, onde encontrava os parentes e os amigos”.
Em particular, Francisco cita S. Lucas e o episódio da peregrinação a Jerusalém na qual, Maria e José, pensando que Jesus “se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem” sem se preocuparem, pois estavam “tranquilos” pensando que aquele adolescente estava bem, pois movia-se livremente entre todos.
Curiosamente, para expressar esta “caravana de peregrinos” – escreve o Papa – S. Lucas usa o “termo grego synodia” que indica o sentido de “comunidade em caminho” na qual se integrou a Sagrada Família. “Graças à confiança que n’Ele depositam seus pais, Jesus move-Se livremente e aprende a caminhar com todos os outros” – sublinha Francisco.
A sua juventude ilumina-nos
Para o Papa todos estes pormenores da juventude de Jesus não devem ser esquecidos pela “pastoral juvenil”, sendo necessário “não criar projetos que isolem os jovens da família e do mundo, ou que os transformem numa minoria seleta e preservada de todo o contágio. Precisamos, sim, de projetos que os fortaleçam, acompanhem e lancem para o encontro com os outros, o serviço generoso, a missão” – escreve o Santo Padre.
Francisco recorda que Jesus partilha a sua juventude connosco e “é muito importante contemplar o Jesus jovem que os Evangelhos nos mostram, porque foi verdadeiramente um de vós e, n’Ele, é possível reconhecer muitos traços dos corações jovens” – afirma o Papa dirigindo-se aos jovens em concreto.
“Jesus teve uma confiança incondicional no Pai, cuidou da amizade com os seus discípulos e, até nos momentos de crise, permaneceu fiel a eles. Manifestou uma profunda compaixão pelos mais fracos, especialmente os pobres, os doentes, os pecadores e os excluídos. Teve a coragem de enfrentar as autoridades religiosas e políticas do seu tempo; viveu a experiência de Se sentir incompreendido e descartado; experimentou o medo do sofrimento e conheceu a fragilidade da Paixão; dirigiu o seu olhar para o futuro, colocando-Se nas mãos seguras do Pai e confiando na força do Espírito. Em Jesus, todos os jovens se podem rever” – escreve o Papa.
Uma Igreja que se deixa renovar
Atenção especial neste capítulo II da Exortação de Francisco para uma súplica especial do Papa a Deus para que a Igreja se deixe renovar e seja jovem:
“Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, ancorá-la ao passado, travá-la, torná-la imóvel. Peçamos também que a livre doutra tentação: acreditar que é jovem porque cede a tudo o que o mundo lhe oferece, acreditar que se renova porque esconde a sua mensagem e mimetiza-se com os outros. Não! É jovem quando é ela mesma, quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia. É jovem quando consegue voltar continuamente à sua fonte” – escreve o Santo Padre.
Maria, a jovem de Nazaré
“No coração da Igreja, resplandece Maria” – escreve o Papa – assinalando que o “sim de Maria” sempre impressiona, assim como sua alma disponível quando afirma “eis a serva do Senhor”.
Francisco na sua Exortação guarda um espaço especial para a Mãe de Jesus: “Ela soube acompanhar o sofrimento do seu Filho (…), apoiá-Lo com o olhar e protegê-Lo com o coração. Que dor sofreu! Mas não A abateu. Foi a mulher forte do “sim”, que apoia e acompanha, protege e abraça. É a grande guardiã da esperança (…). D’Ela, aprendemos a dizer “sim” à paciência obstinada e à criatividade daqueles que não desanimam e recomeçam” – escreve o Santo Padre.
“Aquela jovenzinha” – diz Francisco referindo a Nossa Senhora – “é, hoje, a Mãe que vela pelos filhos: por nós, seus filhos, que muitas vezes caminhamos na vida cansados, carentes, mas desejosos que a luz da esperança não se apague. Isto é o que queremos: que a luz da esperança não se apague. A nossa Mãe vê este povo peregrino, povo jovem amado por Ela, que a procura fazendo silêncio no próprio coração, ainda que haja muito barulho, conversas e distrações ao longo do caminho. Mas, diante dos olhos da Mãe, só há lugar para o silêncio cheio de esperança. E, assim, Maria ilumina de novo a nossa juventude” – declara o Papa.
Jovens santos
Francisco conclui o capítulo II da sua Exortação apresentando vários jovens santos porque – escreve o Papa – é “através da santidade dos jovens” que a “Igreja pode renovar o seu ardor espiritual e o seu vigor apostólico”. Dos jovens santos citados pelo Papa Francisco destacamos aqui três exemplos do século XX:
“O Beato Pier Jorge Frassati, que morreu em 1925, «era um jovem de uma alegria comunicativa, uma alegria que superava também as muitas dificuldades da sua vida». Dizia querer retribuir o amor de Jesus, que recebia na Comunhão, visitando e ajudando os pobres.”
“O Beato Marcelo Callo era um jovem francês, que morreu em 1945. Na Áustria, foi preso num campo de concentração, onde, no meio de duros trabalhos, confortava na fé os seus companheiros de cativeiro.”
“A jovem Beata Clara Badano, que morreu em 1990, «experimentou como o sofrimento pode ser transfigurado pelo amor (…). A chave da sua paz e da sua alegria era a total confiança no Senhor e a aceitação também da doença como expressão misteriosa da sua vontade para o seu bem e para o bem de todos».”
O Papa Francisco pede que os jovens santos intercedam pela Igreja, para que esta esteja cheia de jovens alegres, corajosos e devotados que ofereçam ao mundo novos testemunhos de santidade.
Laudetur Iesus Christus