ESTRADA DA REVELAÇÃO

                Se considerarmos a vida como oportunidade de contínuas descobertas, o que de fato é, há de se pensar ser esta uma longa estrada. Muitos já a definiram, cantaram e louvaram como estrada da vida. Não há melhor definição. Mas é exatamente numa pequena estrada, onze quilômetros apenas, que se dá a maior das revelações que a história humana já presenciou e testamentou: a estrada de Emaús, ligando esse pequeno povoado à Jerusalém, então capital da fé monoteísta, a fé do povo de Abrão, pai do Povo de Deus. No povoado de Emaús, ao partir o pão para os dois companheiros de viagem, Cristo se deixou reconhecer como senhor da vida e da morte.

                O processo dessa revelação foi gradativo, à medida que trilhavam aquele caminho com um desconhecido que parecia ignorar os últimos acontecimentos que destruíram as esperanças de libertação do povo de Israel. “Tu não sabes o que aconteceu nos últimos dias?”. Colocado diante de uma aparente catástrofe, Jesus ironiza momentaneamente a pouca inteligência e lentidão dos seus, por não compreenderem e aceitarem “tudo o que os profetas falaram” a respeito do Messias.

                Nosso desafio, hoje, é colocar esse fato histórico como fonte de revelações que a doutrina cristã sempre apontou como essenciais para o crescimento da nossa fé. Não é só um simples ato e concordância submissa, sem compreensão, sem questionamentos, nem mesmo dentro da lógica que tudo governa. A estrada de Emaús foi o caminho do diálogo do ser humano atônito com o que a realidade lhe apresentava, com a experiência agora concreta, cabal e extraordinariamente vivificante da certeza de que Cristo Ressuscitado ainda caminha com seu povo, perfaz nossas estradas como companheiro de viagem a colocar luzes sobre as trevas que ainda ofuscam nossa fé pequena, a dialogar conosco mostrando a plenitude das profecias ditas a seu respeito, a nos ensinar com a paciência e generosidade que sempre caracterizou seu ministério, a provocar em seus discípulos a mais grata das revelações: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc, 24, 32). Essa é a mais feliz das descobertas, a mais agradável das revelações da nossa estrada após a tragédia do calvário.

                Em suma, nós, os discípulos que “descem” de Jerusalém possuídos pelas incertezas de uma cruenta realidade, não temos mais o que temer. Se o Mestre foi capaz de nos reanimar, nos alimentar espiritualmente com suas Palavras, nos partir e repartir o Pão, essencial para a fortaleza do Espírito que nos conduz, agora nos devolve à Jerusalém terrestre, como emissários de suas Revelações e agentes renovados em seu ardor missionário. Afinal, a missão que era Dele agora é nossa. O anúncio tão bem proclamado e explicitado através do seu ministério de paixão sem limites agora salta de nossas vidas, a loucura quase utópica, porém possível de se realizar, de um sonho de fraternidade universal, é nossa causa urgente, urgentíssima, diante da cegueira que entorpece a mente e o coração humano. Sim, Cristo vive e caminha conosco! A estrada de Emaús perfaz e refaz nossa aparente esperança perdida. Ainda é tempo. A estrada é curta, mas a promessa é maior!

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here