Em biografia, Bento XVI revela motivos da renúncia

Rádio Vaticano (RV) – Em entrevista ao teólogo Elio Guerriero publicada pelo jornal italiano La Repubblica, o Papa emérito Bento XVI fala sobre seu relacionamento fraterno com o seu sucessor Francisco e afirma: “minha obediência nunca foi colocada em discussão”.

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Guerriero é autor de uma biografia de Ratzinger “Servo de Deus e da humanidade. A biografia de Bento XVI” (Milão, Mondadori, 2016, 542 páginas). A Obra será lançada no dia 30 de agosto.

Entrevista

Para escrever os capítulos finais, Elio foi ao Mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano, onde o Papa emérito vive desde a renúncia em 2013. Na ocasião, Bento XVI ofereceu ao escritor a oportunidade de “fazer algumas perguntas, como em uma entrevista” e “como sempre – conta o escritor – foi gentil e prático”, dizendo: “Me faça as perguntas, depois me envie tudo e veremos”.

O ponto central da entrevista foi o relacionamento do Papa emérito com o seu sucessor, o Papa Francisco. Sem precedentes históricos sobre a convivência de ‘dois Papas’ no Vaticano, Bento XVI se diz muito grato a Deus por esses momentos.

Ano da Fé e JMJ-Rio 2013

Bento XVI estava sereno quando falava da sua histórica renúncia ao Pontificado, igualmente quando na época comunicou ao Colégio Cardinalício e ao mundo. “Para mim essa renúncia era um dever”, confiou o Papa Emérito ao escritor.

“Eu gostaria de concluir o Ano da Fé e de escrever a Encíclica sobre a Fé que deveria encerrar o percurso iniciado com Deus Caritas Est, mas em 2013 tínhamos muitos trabalhos que eu não conseguiria terminar”, confessou Bento XVI.

“A data para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro já estava fixada, mas eu não me sentia capaz de fazê-la. Após a ida a México e a Cuba (últimas viagens de seu Pontificado), não conseguia mais realizar viagens muito longas. Mas, como fixou João Paulo II, nessas jornadas a presença do Papa é indispensável. Não poderia pensar em uma conexão televisiva, ou outras formas tecnológicas. Também por essa circunstância a renúncia para mim era um dever”,

O Papa emérito tinha confiança de que mesmo sem a sua presença o “Ano da Fé seguiria muito bem até o fim”.

A fé é uma graça, um dom generoso de Deus aos fiéis. Eu tinha a convicção que o meu sucessor, assim quando chegasse, igualmente levaria como quisesse o Senhor a iniciativa começada por mim”.

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Renúncia

Foi durante a viagem ao México que amadureceu a decisão de renunciar ao ministério petrino. “A viagem foi muito bonita e comovente”, mas nos mesmos dias – conta Ratzinger – “experimentei os limites da minha resistência física. Me dei conta que não tinha mais condições de enfrentar no futuro voos intercontinentais, os fusos horários. Naturalmente, de forma clara, não teria condições de ir para JMJ Rio 2013, daquele momento em diante, deveria decidir o tempo de forma breve para a minha retirada”.

“Precisava pensar em coisas práticas, por exemplo, onde viveria depois da renúncia? Bento XVI se lembrava de uma iluminação de São João Paulo II, na qual tinha decidido que o mosteiro Mater Ecclesiae, no passado casa do diretor da Rádio Vaticano, se tornaria “um lugar de oração contemplativa, como uma fonte de água viva no Vaticano. Assim, foi aberta para mim de forma natural onde seria o lugar que eu poderia continuar a serviço da oração”.

Relacionamento Fraterno

Sobre a obediência, Joseph Ratzinger tem o cuidado de salientar na entrevista que o sucessor “nunca foi questionado”.  No momento da eleição de Bergoglio – recorda – “eu tentei, como muitos outros, de forma espontânea estar em estado de Gratidão a Deus. Depois de dois papas provenientes da Europa Central, o Senhor estava desenhando como parecia à Igreja universal, e nos convidou para uma comunhão mais ampla, mais católica”.

“Pessoalmente, desde o início eu estava profundamente tocado pela extraordinária disponibilidade humana do Papa Francisco comigo. Imediatamente após a sua eleição, ele me ligou. Sem sucesso, me chamou mais uma vez depois de um encontro com a Igreja universal do balcão da Basílica de São Pedro e me falou com grande cordialidade. Desde então, temos um relacionamento maravilhosamente paternal-fraternal. Ele muitas vezes me manda pequenos presentes, cartas pessoais. Antes de embarcar em viagens longas, o Papa Francisco nunca deixa de me visitar.  A bondade humana com a qual ele me trata, é para mim uma graça especial nesta última fase da minha vida. Eu só posso ser grato. O que ele diz sobre ir ao encontro dos outros, não são apenas palavras. Ele põe em prática comigo. Que o Senhor o faça sentir sempre mais a Sua bondade. Por isso eu rezo a Deus por ele.”

Prefácio do Papa Francisco

“Todos na Igreja temos uma grande dívida de gratidão para com Joseph Ratzinger-Bento XVI pela profundidade e o equilíbrio do seu pensamento teológico, vivido sempre ao serviço da Igreja, até às responsabilidades mais elevadas”, escreve o Pontífice no prefácio da nova biografia.

Francisco aceitou prefaciar a obra, elogiando a “coragem e determinação” com que o seu antecessor enfrentou “situações difíceis”, colocando a Igreja num caminho de “renovação e purificação”.

Francisco fala numa “ligação espiritual” que considera “particularmente profunda” com Bento XVI e agradece a presença “discreta” e a oração do Papa emérito pela Igreja.

O prefácio foi divulgado hoje, na íntegra, pelo jornal Avvenire, da Conferência Episcopal Italiana.

 

Fonte: Rádio Vaticano

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