Passado o tempo do Natal, concluído com a Festa do Batismo do Senhor, neste ano celebrada na segunda-feira após a Festa da Epifania, iniciamos o Tempo Comum. Esse tempo, constituído por 34 domingos, nesta primeira fase vai até a terça-feira antes da Quaresma, inclusive. A cor desta época é o verde; verde de quem caminha no pequeno dia-a-dia cheio de esperança, porque sabe que o Filho de Deus veio habitar entre nós, entrou nos nossos tempos para santificar os pequenos e aparentemente insignificantes momentos de nossa vida: “O Verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Para nós, nunca mais o tempo, a vida e a história humana serão a mesma coisa! Agora, tudo tem o sabor da presença de Deus, de eternidade, da proximidade da vida de Deus misericordioso. Então, que este Tempo Comum seja, para todos quantos, tempo de graça, tempo de vigilância amorosa, tempo de esperança invencível!
Neste II Domingo do Tempo Comum nos é apresentado o Senhor como Cordeiro que tira o pecado do mundo e que nos conduz à santidade. Logo na Primeira Leitura (Is 49, 3.5-6) nos diz que o “servo será luz das nações” para que a salvação chegue até aos confins da Terra.
Na Segunda Leitura, São Paulo (1Cor 1, 1-13) lembra a sua vocação a Apóstolo e a vocação de todos à santidade. Continua o Apóstolo: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação…” (1Ts 4, 3). O próprio Jesus ordena: “Sede perfeitos, assim como o Pai celeste é perfeito”. (Mt 5, 48). Como prova concreta desses sentimentos do Senhor, contamos com o Sacramento do Perdão (confissão), que nos concede as graças necessárias para lutarmos e vencermos os defeitos que talvez estejam arraigados no nosso caráter, e que são muitas vezes a causa do nosso desalento. No Sacramento da Confissão renovamos as forças, e nos é dada a graça perdida pelo pecado. Peçamos ao Senhor: Senhor, ensinai-me a arrepender-me, indicai-me o caminho do amor! Movei-me com a vossa graça à contrição quando eu tropeçar! Que as minhas fraquezas me levem a amar-vos cada vez mais!
O Evangelho (Jo 1, 29-34) mostra o início da missão de Jesus. João Batista O apresenta: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Ele é o ungido do Senhor. Ele batizará no Espírito. Ele é o Filho de Deus. Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, anuncia São João Batista; e este pecado do mundo engloba todo o gênero de pecado: o original, que em Adão afetou também os seus descendentes, e os pessoais, dos homens de todos os tempos. No Cordeiro de Deus está a nossa esperança de salvação.
João reconheceu em Jesus este Messias, tão humilde e tão grande: Ele é o próprio Deus: “passou à minha frente porque existia antes de mim”! E como Deus feito homem, Ele é o único e absoluto Salvador de todos – e não há salvação sem Ele ou fora Dele! João reconhece Nele o ungido, Aquele sobre quem o Espírito “desceu e permaneceu”. O próprio Jesus dará testemunho desta realidade: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19). João reconhece Nele ainda aquele que, cheio do Espírito Santo, batizará no Espírito Santo: “Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é o que batiza com o Espírito Santo”. Batizando-nos no Espírito, este Santíssimo Jesus-Messias dá-nos o perdão dos pecados, a sua própria vida divina e a graça de, um dia, ressuscitar dos mortos!
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Essas palavras soam aos nossos ouvidos em cada Santa Missa, ao aproximar-se um dos momentos mais sublimes do sacrifício eucarístico, a comunhão. E nós respondemos: “Senhor, eu não sou digno (…)”. Jesus Cristo vem a nós em cada celebração eucarística. Não nos esqueçamos, no entanto, de que a graça da comunicação de Deus conosco passa pelo sacrifício do seu filho, Cordeiro oferecido ao Pai que, com a Sua obediência e com o Seu amor, tira o pecado do mundo. De fato, essas palavras do Evangelho segundo S. João aludem ao sacrifício redentor de Jesus Cristo.
A Missa é sacrifício, ou seja, uma realidade sagrada oferecida a Deus. O sacrifício está presente em toda a Sagrada Escritura. O ser humano sempre sentiu o desejo de oferecer dons a Deus. A universalidade desse fato nos mostra que é uma tendência natural do ser humano dirigir-se à divindade ofertando-lhe algo. Nas pessoas há tendências universais, independentemente da cultura na qual estejam integradas: a consciência de limitação e de culpa; a intuição de que existe um ser que está acima de todos, criador e providente (= Deus); essa inclinação a oferecer a Deus dons.
Portanto, Jesus entrou no céu com todos os méritos conseguidos na Sua vida terrenal. Esses méritos são infinitos por que são os méritos do Filho de Deus, que é Deus. Apresentando-Se ao Pai com o Seu Mistério Pascal, Jesus envia desde o santuário celeste esse mesmo Mistério, a sua Páscoa, à humanidade. E o faz através da Missa, que é a atualização dos Mistérios de Cristo, cujo centro é a Cruz gloriosa, isto é, a sua Morte e Ressurreição, que mereceu também o envio do Espírito Santo. Em cada Missa, faz-se presente, atual, o Mistério da Cruz gloriosa e, ao entrarmos nesses raios divino-humanos da Eucaristia, somos redimidos, salvados, santificados e glorificados antecipadamente.