O Domingo de Ramos é também chamado de Domingo da Paixão. Dois nomes diferentes para uma mesma realidade. É que esse domingo começa em um ambiente de festa. Recordamos realizando até mesmo com uma procissão, a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém. Por uma única vez, Jesus é aclamado pelo seu povo. É reconhecido como o novo Davi, o rei que todos esperavam. Claro que sua entrada não é igual à de um rei de sua época. Sua montaria é um asno que não era exatamente a mesma dos reis. Aqueles que o aclamavam faziam parte do povo humilde. Certamente, não havia muitos sacerdotes nem escribas entre eles, estes estariam mais interessados em pensar como livrar-se dele. Desta maneira, o triunfo e a cruz começam a mesclar-se, do mesmo modo que a liturgia une essas duas realidades no mesmo dia.
Da procissão, passamos à Missa e, nesta, as leituras nos colocam diante da morte de Jesus e seu significado. Jesus é aquele que se entrega à morte para cumprir a vontade de Deus, se Pai, e confia plenamente nele na hora de sua entrega final, como diz o profeta Isaias na primeira leitura. Jesus é o mesmo Deus que entrega sua vida por nós, que não faz alarde de sua condição de Deus, que se submete inclusive à morte. E é por meio dessa entrega que irá se converter em sinal de salvação para todos. “Frente a Ele todos os joelhos se dobrarão”, como nos diz São Paulo na segunda leitura.
Começamos assim a Semana Santa. Este é o grande pórtico em que estamos situados: em Jesus, o triunfo maior é o momento de sua morte. Aquilo que, para nós, é a máxima dor – a maior falta de sentido – para Deus é a oportunidade de proclamar seu amor pela humanidade da forma mais solene possível. Já não sabemos mais qual é o momento de sua vida mais triunfal, se sua entrada em Jerusalém, montando um asno, enquanto alguns pobres gritavam e agitavam ramos de oliveira, ou o momento da cruz, quando, sozinho, abandonado por todos, sela com seu próprio sangue a sua determinação de que, durante toda a sua vida, desejou estar a serviço do Reino de Deus. Jesus pretendeu ser um testemunho vivo de seu amor pelos homens e mulheres e que sua entrega fosse para que todos tivéssemos, vida e vida em abundância.
Resta uma pergunta: Onde nós estamos nesta história? Porque Jesus está se entregando por nós, por cada um de nós. Quando levantamos os olhos e o vemos no asno ou na cruz, encontramos o mesmo: seus olhos nos vêem e dizem que Ele se dá todo para que sejamos felizes, para que vivamos, para que nos amemos e, ao menos durante esta semana, saibamos permanecer próximos dele. Não é necessário dizer muitas palavras. Em silêncio, mas perto dele. Sem nos distrairmos com detalhes de pouca importância. Simplesmente permitindo que chegue ao nosso coração a profundidade de seu amor, de sua entrega por nós, para que tenhamos vida e vida em abundância.