Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho

    A distância não nos separou, a morte menos ainda!

     

     

    “Apesar do parentesco do sangue ter um grande valor, o laço da amizade é maior”. (Santo Agostinho, Carta, 84,4).

     

    “A amizade que pode acabar nunca foi real” (São Jerônimo).

     

    “A amizade é a mais perfeita realização da pessoa” (Santa Teresa de Jesus).

     

    “No mundo é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nestes santos exercícios” (São Francisco de Sales).

     

    “A amizade consiste em um compromisso pleno da vontade em relação a outra pessoa, em vista do seu bem” (São  João Paulo II).

     

    “A amizade cuja fonte é Deus, não se esgota jamais” (Santa Catarina de Sena).

     

    “Eu não saberia viver sem amizades” (Santo Agostinho).

     

    “Disse muito bem quem definiu o amigo como metade da própria alma. Eu tinha de fato a sensação de que as nossas almas fossem uma só em dois corpos” (Santo Agostinho).

     

    O amor, matrimonial é exclusivo. O amor da amizade, para ser verdadeiro, tem que ser aberto a outras pessoas. A nossa consagração a Deus, com um amor exclusivo, não fecha as portas ao amor da amizade. E quem não vive o amor da amizade não consegue saborear a exclusividade de seu amor a Deus! A novidade da pregação de Jesus não foi a de amar os inimigos. Isto Já havia no Antigo Testamento. A novidade Evangelho foi a do amor de amizade: reconhecer o outro com seu nome, como uma pessoa única, irrepetível e insubstituível.

     

    Quero partilhar com o leitor desta página, não a perda de um amigo, mas a graça de ter podido saborear uma amizade verdadeira, real, fiel e profunda com Dom Ricardo, ao longo de vinte e oito anos.

     

    A amizade verdadeira acontece. Ela não é calculada. Ela é desinteressada. Ama-se na necessidade de se ver o amigo feliz, sem nada esperar em  troca. Na amizade verdadeira, os desajustes não atingem o cerne da amizade (Rogers).

     

    Agradeço, pois, a Deus, ter permitido que eu pudesse conhecer mais de perto o coração e a mente de Dom Ricardo. Penso que eu não seria infiel a ele, ao colocar, aqui, algumas notas características de sua personalidade, sem querer colorir os fatos.

     

    Sua alegria interior e permanente que se revelava em seu sorriso, como o de uma criança, desarmado, espontâneo e sereno. Assim ele apareceu em uma de suas últimas fotos que lhe fizeram, ainda no hospital. Essa alegria, penso, a recebeu da senhora sua Mãe, Dona Paula. Quando ela completou 100 anos, convidava os amigos para virem à festa de “seu primeiro centenário”! Participei da Missa em Ação de Graças. Ela havia ido ao salão, feito escova, etc., entrou sozinha na igreja com seus cabelos brancos prateados, com óculos sem aro, sem se apoiar em ninguém!

     

    Uma bondade de coração, que por ser tanta, chegava às raias de um defeito. Ele não conseguia responder ou retrucar a uma  ofensa ou crítica que lhe fosse feita, quer em público quer em particular. Calava-se. Quando sozinho, depois, às vezes, chorava. E, sobretudo, não  guardava mágoas de quem quer que fosse. Houve quem abusasse de sua bondade. Mas ele limitava-se ao silêncio, não se justificava. Seu excesso de bondade, se assim o pudesse dizer, era incorrigível. Sofreu muito pelas consequências de tanta bondade!

     

    Seu profundo espírito de fé que se revelava numa intensa vida de oração. Isso pude acompanhar melhor nas eucaristias que celebrávamos e nas orações do Breviário que fazíamos em nossos passeios e viagens.

     

    Amava a Igreja, amava a Arquidiocese, gostava dos Padres, dos seminaristas. Gostava de estar com os padres. Lembrava, com alegria, histórias amenas e alegres do dia a dia de seus padres. Mas não os despreciava.

     

    Não falava mal de ninguém. Mas tal atitude já é uma consequência da sua bondade de coração.

     

    Era uma pessoa humilde. Viveu sem ambições de honras e cargos. Não se comparava com outros bispos ou com outras pessoas. Aceitava-se nas suas qualidades e era feliz em seu modo de viver.

     

    Não pude partilhar com ele seus sentimentos na reta final de sua vida. Seu cérebro fora atingido. Mas, por tudo o que soube, a morte não o pegou de surpresa.

     

    Agradeço a Deus por tê-lo conhecido e por ter saboreado a sua amizade.

     

    Nesta madrugada de  Domingo de  Páscoa, Deus o libertou das limitações do tempo e da matéria para poder penetrar definitivamente na alegria sem limites da eternidade.

     

    Agradeço a todos que, percebendo nossa grande amizade, me dirigiram palavras de conforto pela ausência  visível desse amigo! Deus os abençoe!

     

    + João Bosco Óliver de Faria

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