Dom Jaime Spengler avalia Ano da Vida Consagrada

Presidente da Comissão para a Vida Consagrada da CNBB fala sobre os frutos do período dedicado aos religiosos e religiosas

O Ano da Vida Consagrada, convocado pelo papa Francisco, em 2014, será concluído nesta terça-feira, dia 2 de fevereiro, com Jornada Mundial da Vida Consagrada. Haverá celebração eucarística presidida pelo papa Francisco na basílica de são Pedro. Aqui no Brasil, o arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jaime Spengler, concedeu entrevista ao programa Igreja no Brasil. Na ocasião, o prelado avaliou o período, ressaltando o resgate da presença dos religiosos e religiosas nas comunidades.

O lema escolhido para o Jubileu foi “Vida Consagrada hoje – evangelho, profecia e esperança”. As atividades do Ano da Vida Consagrada tiveram início no fim de novembro de 2014.

Confira a entrevista na íntegra:

Dom Jaime, o Ano da Vida Consagrada que o papa Francisco convocou tem como lema “Evangelho: Profecia e esperança”. Qual é a reflexão que tem sido feita durante esse caminho do Ano da Vida Consagrada?

Dom Jaime Spengler: Bom, antes de tudo, nós falamos de Vida Consagrada é bom ter presente o que abrange a Vida Consagrada: os Institutos de Vida Secular, que no Brasil são relativamente poucos conhecidos, eu diria ainda mais, com uma presença muito bonita; depois nós temos aquilo que nós compreendemos habitualmente como vida religiosa, tanto masculina, como feminina; temos a vida monástica, que é outra expressão de consagração; e temos ainda a ordem das virgens, que é um grupo pequeno, e das viúvas.

Eu creio que o Ano da Vida Consagrada ofereceu a possibilidade de, como Igreja, resgatar essa presença tão bonita no seio do povo de Deus, os consagrados. E para nós no Brasil, de forma especial, eu creio que não é demais resgatar um pouco da história também e aí o ano da Vida Consagrada nos ajuda. Nós do Brasil devemos muito à Vida Consagrada. Todo o processo de evangelização das terras de Santa Cruz tem na sua origem e ao longo de todos esses cinco séculos de história uma presença muito vigorosa de expressões da Vida Consagrada. “Evangelho, Profecia e Esperança” é o grande lema desse Ano da Vida Consagrada, proposto pelo Papa Francisco. Evangelho, profecia e esperança são elementos, eu diria assim, de uma mesma experiência de fé, expressão daquilo que nós usualmente dizemos do encontro com a pessoa de Jesus Cristo. A partir dessa experiência de encontro, esses homens e mulheres que assumiram o desafio da Consagração se tornam anunciadores desse evangelho, profetas dessa boa-nova, homens e mulheres propagadores de esperança do Reino que Jesus nos trouxe. Portanto, esse lema escolhido para o Ano da Vida Consagrada trás para nós o essencial do segmento do Nosso Senhor Jesus Cristo.

E para quem nos acompanha agora, dom Jaime, queremos explicar como que a CNBB tem motivado as ações neste Ano da Vida Consagrada nas paroquias, comunidades e dioceses por todo o Brasil.

Dom Jaime Spengler: Nós, como Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, em comunhão com a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e com a Conferência Nacional dos Institutos Seculares (CNIS), ao longo de 2015 procuramos de forma sintonizada proporcionar várias iniciativas a fim de trazer um conhecimento maior das comunidades esta presença de consagrados nas nossas comunidades. Tivemos momentos celebrativos, creio que em todas as nossas dioceses, sempre em agosto nós temos o Domingo da Vida Consagrada que é celebrado em todas as nossas comunidades, tivemos espaços de estudos de debate em torno da Vida Consagrada hoje no Brasil, não só, tivemos o ano passado em Curitiba um encontro com o cardeal João Braz de Aviz, onde ele nos deu uma visão panorâmica da realidade da Vida Consagrada no mundo, enfim, ao longo desse ano foram várias as iniciativas, seja em nível de Conferência, seja em nível de Igrejas particulares, as dioceses as diversas comunidades, paróquias etc. onde se procurou trazer para a fala, colocar em uma forma ainda mais evidente a realidade da Consagração no seio da comunidade de fé.

Dom Jaime, também vale colocar para os nossos telespectadores que o Ano da Vida Consagrada continua nas comunidades. As ações também podem ser repetidas de forma a motivar essa vivencia também dessa experiência?

Dom Jaime Spengler: Sim, o Ano da Vida Consagrada como tal chega ao seu termino no dia 2 de fevereiro de 2016. No entanto, aquilo que o Ano da Vida Consagrada propunha, isso deve continuar e precisa continuar. E eu creio que uma forma muito interessante e boa de apresentar a Vida Consagrada é justamente proporcionar espaço para que os consagrados se façam conhecer em nossas comunidades, esse é um elemento. Depois, hoje, em alguns setores, se falam tanto de “crise vocacional” – e eu creio que essa sim seja uma ação continuada nesse âmbito da animação vocacional, eu creio que o melhor que nós podemos fazer, enquanto consagrados que somos… Aí eu gostaria de me dirigir a todos os consagrados, especialmente e talvez aqueles idosos, mas não só os que estão nas diversas regiões de fronteira do nosso imenso Brasil, de conclamar a todos para dizer para o nosso povo, para nossa gente que nós gostamos do que somos e amamos o que fazemos. Nós somos consagrados e nós fazemos a consagração da vida do cotidiano talvez a forma de animar e cativar outros para este ciclo de vida, claro que isto é sempre graça de Deus, mas através do nosso testemunho explicito ou não. Mas eu creio que nós todos precisamos sim de, com maior ou menor destaque, dizer para nossa gurizada, para os nossos jovens, para os nossos adolescentes: “nós gostamos do que somos e amamos o que fazemos”.

Continuando nossa conversa sobre o Ano da Vida Consagrada, o decreto conciliar “Perfectae Caritatis”, que o Papa traz para essa celebração dos 50 anos, é a motivação principal deste ano?

Dom Jaime Spengler: O Ano da Vida Consagrada tem como base a celebração dos 50 anos desse decreto conciliar, promulgado pelo papa Paulo VI, e esse decreto resgata os elementos essências da consagração e certamente a Igreja não poderia deixar passar em branco, digamos assim, esse Jubileus dos 50 anos desse documento que trouxe um sopro renovador, um ar renovador para as diversas expressões de consagração. É um decreto ao qual sempre devemos e precisamos fazer referência, justamente para compreender, sempre mais e melhor, sempre de novo em que consiste na caridade perfeita.

A partir do trecho da mensagem do papa Francisco por ocasião do Ano da Vida Consagrada “Ide pelas estradas do mundo e mostrai o poder inovador do Evangelho”, o que o papa quer dizer com o Evangelho inovador?

Dom Jaime Spengler: É esse sair… eu creio que a indicação, o convite que o santo padre faz à vida consagrada de sair, deixar talvez os seus espaços, a sua zona de conforto, digamos assim entre aspas, ir em direção às periferias existenciais. A vida consagrada sempre foi marcada por uma presença muito forte, muito bonita, junto a essas realidades de fronteira, hoje nós dizemos de “fratura social”, e mais uma vez o santo padre exorta os consagrados a resgatar isto que faz parte de toda consagração. Nosso mundo, nosso povo, a nossa gente – especialmente os mais pobres – os mais sofridos, olham para nós todos em primeiro lugar, mas eu diria de forma toda carinhosa, especial, olham para os consagrados como esses homens e mulheres capazes de ser uma presença evangélica, evangelizadora junto a essas diversas realidades, onde muitas vezes a dor, o sofrimento, o desprezo – hoje o papa fala de “restos, resíduos da sociedade” – é ali que nós como Igreja, como consagrados, precisamos estar de uma forma toda especial. Então, o convite do santo padre a sair, a ir, nos recorda o fundamental do Evangelho, da caridade perfeita mais uma vez.

Como presidente da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, qual é sua mensagem para quem nos acompanha agora e o que essa comissão tem planejado para esses próximos anos na motivação da Vida Consagrada?

Dom Jaime Spengler: Bom, na conclusão da celebração do Ano da Vida Consagrada, eu gostaria de deixar uma palavra a cada consagrada de fé, de esperança, de proximidade e, sobretudo, de gratidão. Gratidão por todo bem que os consagrados vêm fazendo em prol da nossa gente, em nossas comunidades Brasil afora. São homens, são mulheres, que deram… vocês, nós, mulheres e homens que oferecemos o melhor que nós tínhamos ou temos. Demos a nossa juventude, demos as nossas forças, consagramos nossas vidas em prol do Evangelho da Vida e, certamente, aquilo que nós almejamos e desejamos é sermos fiéis a este Evangelho, fiéis ao Evangelho da Vida e, assim, podermos colaborar para deixar o mundo e o Brasil um pouco melhor para as futuras gerações a partir dos critérios do evangelho de Jesus Cristo.

Para os próximos anos, nós estamos aqui contando com a CRB, com a CNIS e também com a vida contemplativa – é um pedido que vem dos contemplativos – que nós apresentemos possibilidades de espaços de debate, de estudo para que sempre mais possamos como Igreja compreender melhor a nossa identidade, no caso de consagrados.

E que este programa motive, então, os jovens que nos acompanham agora, a esse chamado que Deus faz também à Vida Consagrada, dom Jaime.

Dom Jaime Spengler: Talvez aos adolescentes, aos jovens que nos acompanham, talvez vale a pena dizer assim que a vida matrimonial vale a pena. É muito bonito quando nós encontramos um homem, por exemplo, que ama sua paternidade, dignifica sua paternidade. É muito bonito quando nós encontramos uma mulher que ama o dom da maternidade, dignifica essa maternidade. Mas também é muito bonito quando nós encontramos um homem que sabe da sua consagração e ama a própria consagração, como também uma mulher que faça o mesmo. Por isso, eu diria a cada jovem, a cada adolescente: importante e decisivo é escutar a voz do coração, aquilo que o coração inspira e para aquela forma de vida que o coração te inspira, ali não tenhas medo, te lances com todas as suas forças! Não vai faltar graça e não vai faltar o necessário para aquilo que talvez na linguagem popular nós chamamos de felicidade, realização humana e na linguagem da fé Salvação.

Fonte: CNBB

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