Dom Gil: “O jornalismo produz a paz quando a pessoa faz a opção pela verdade”

Na mensagem do papa Francisco para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais, a ser celebrado no dia 13 de maio, o pontífice convida a todos a promover um “jornalismo de paz”. O termo foi cunhado pelo professor Johan Galtung, nos anos 1960. Hoje ele é considerado um dos intelectuais mais significativos dos últimos tempos e reconhecido mundialmente como o fundador dos modernos estudos sobre a paz. Johan fundou a Transcend, uma organização de mediação de conflitos que tem como objetivo colocar a experiência e o conhecimento a serviço das práticas de transformação de conflitos, construção da paz e desenvolvimento.

Em entrevista ao site “Vatican News”, o professor distingue o termo “jornalismo de paz” em dois conceitos: a paz positiva e a paz negativa. No “jornalismo de paz negativo”, ele afirma que a busca é por soluções a conflitos com o objetivo de reduzir a violência; e no “jornalismo de paz positivo”, ele explica que há uma exploração pela possibilidade de uma maior cooperação positiva. Na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o papa Francisco usa o termo “jornalismo de paz” no sentido de convidar às pessoas a desenvolverem um jornalismo sem “fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas”, unindo assim os dois conceitos do professor Johan.

Dom Gil Antônio Moreira, arcebispo de Juiz de Fora (MG)

Segundo o arcebispo de Juiz de Fora (MG) e referencial da comunicação no regional Leste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Gil Antônio Moreira, o conceito de jornalismo de paz está intimamente ligado à atitude da pessoa. Para ele, o jornalismo produz a paz quando a mesma faz a opção pela verdade. “Tudo está baseado na postura do comunicador, ele tem que ter uma postura moral, ética antes de fazer qualquer comunicação ou publicar qualquer matéria, se ele tem essa opção – de ter uma postura reta – servirá a paz e diminuirá qualquer conflito que possa gerar a degeneração, o respeito à dignidade da pessoa humana”, diz.

“A paz é a verdadeira notícia” – Essa é outra frase de atribuição do papa Francisco na mensagem dedicada ao Dia Mundial das Comunicações Sociais. Nela, o pontífice afirma que o jornalista, por ser o guardião das notícias, não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão. Frisa ainda que o jornalista tem o dever de lembrar que, no centro da notícia, não estão a velocidade em comunicá-la, nem o impacto sobre a audiência, mas as pessoas. Nesse sentido, dom Gil afirma que o jornalista é responsável por aquilo que a sociedade é e será. “Uma matéria feita com base na mentira, no engano caminha para a degeneração social. Aquele que faz o compromisso com a verdade prestará um grande serviço na edificação moral da sociedade”, acrescenta o bispo.

Outro ponto destacado por Francisco na mensagem é a não associação do termo “jornalismo de paz” com “jornalismo bonzinho”. Para ele, o jornalismo de paz não deve negar a existência de problemas graves e assumir tons melífluos. Dom Gil concorda com o que é dito: “O jornalismo também tem essa vocação de que as notícias sejam portadoras da paz, isso não significa que o jornalista tenha que publicar apenas notícias boas, ele tem que ir atrás de problemas, mas tudo é na maneira de tratar a matéria. Devemos tratar tudo para que não cause divisão, o ódio, mas que produza de alguma forma a paz”.

No final da mensagem, o papa conclui que para exercer o jornalismo de paz é preciso empenhar-se em indicar soluções alternativas à violência verbal. “O papa Francisco tem falado muito, insistido muito a respeito de um jornalismo que seja baseado na verdade. A verdade é resultado de uma educação. Há pessoas que são mal educadas no sentido de mentir, de inventar mentiras para se defender ou para sair de situações complicadas e esta educação para a verdade seria muito útil para estabelecer relações positivas e boas, por isso os meios de comunicação devem trabalhar pela verdade. A verdade vai produzir a paz, a mentira só produz o contrário da paz que é o ódio, a divisão, a incompreensão entre as pessoas”, finaliza dom Gil.

 

Fonte: CNBB

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