Dom Gallagher: soberania e amor à pátria com abertura aos outros

Ao falar sobre a Europa no Encontro de Rímini, o secretário para as Relações com os Estados reiterou que o caminho a seguir não é o do fechamento aos outros, e que direitos e responsabilidade devem andar juntos.

Luca Collodi – Rimini

Na tarde de quarta-feira, 21, em Rímini, o secretário para as Relações com os Estados, arcebispo Paul Richard Gallagher, prnunciou-se no encontro que teve por tema “Direitos, deveres. Europa: 1979-2019”.

“A União Europeia deve olhar para os desafios do futuro, preservando os valores de base”, disse o arcebispo, ao falar sobre o futuro do continente a partir da centralidade da pessoa, da imigração e do meio ambiente.

A integração europeia – afirmou –  “é um valor em si”, os soberanismos [“nacionalismo”], “são uma exasperação da soberania” danificada “por fechamentos e exclusões”.

A crise da Europa

A fragmentação pela qual atravessa hoje a Europa política – explica Dom Gallagher – é “a fragmentação da existência humana”. “Prevalece solidão, individualismo, crise da família, incitação ao racismo, falta de ética”. “É uma crise de identidade, agravada pela crise mundial que enfraqueceu o euro com as fraturas entre os Estados pela política internacional, a economia, o Brexit e a migração”.

As migrações

“É preciso uma visão política clara, mas também uma posição cultural. O Papa Francisco nos recorda a importãncia da atenção pela pessoa. Como diz o título do Encontro, um rosto ligado ao Mistério do infinito. Existe o dever da solidariedade com quem está na necessidade, chamando, porém, também à virtude da prudência. Acolher – explica Dom Gallagher – quantos possam ser acolhidos com dignidade e ter integração com um trabalho, uma família, um futuro”.

“Os migrantes, por sua vez – enfatiza – têm o dever de se abrir à nova realidade que os acolhe e não fecharem-se em guetos onde os problemas aumentam”.

Na entrevista, o arcebispo Gallagher se concentra na importância da Europa, no soberanismo, na relação entre instituições e pessoas:

R. – Acredito que a Europa é um valor porque temos povos, pessoas que tiveram uma longa história juntas, compartilharam muitas experiências ao longo dos séculos e em certos momentos, a grande maioria, compartilharam uma fé cristã. Com base nisso, “a Europa” progressivamente tornou-se uma visão, um projeto no coração dos europeus. No século passado tivemos a experiência de duas guerras mundiais que levaram os europeus e seus líderes à convicção de que construir uma paz segura, garantir prosperidade aos nossos povos, é sempre difícil de se fazer quando se está sozinho.

Por que hoje na Europa fala-se muito sobre direitos e nunca sobre deveres?

R. – Isso é verdade, embora eu perceba um pouco menos de hostilidade em relação a um discurso que fala de deveres e responsabilidades. Hoje vemos que é necessário ter uma visão mais equilibrada da questão, que é necessário equilibrar esses elementos, levá-los em frente, caso contrário existe a percepção de que existem todos os direitos e nenhuma responsabilidade. Em nossa opinião, isso cria, talvez, um certo ressentimento por parte de alguns setores. Assim, vemos que as duas coisas devam andar juntos.

Há um forte debate sobre o tema do soberanismo e de seus excessos. De fato, qualquer Estado hoje é um Estado soberano …

R. – Ninguém coloca em discussão a soberania de um país, de uma nação. O problema surge quando se fala de soberanismos [“nacionalismos”], quando há de novo uma visão exagerada da soberania, quando há uma insistência na soberania. Não é preciso fechar-se em uma realidade menor. É muito difícil para um governo garantir todos os direitos aos seus povos, assim como paz, a defesa, a segurança. Somos todos interconectados, como diz o Papa, e vemos isso sobretudo na mídia, nas redes sociais. A ideia de que “soberania” signifique fechamento total aos outros – talvez tenha uma certa atração teórica, pragmática – porém não acredito que seja o caminho a seguir.

Dom Gallagher, hoje quando se fala de Europa, fala-se de uma paixão europeia mais na elite política institucional do que nas pessoas comuns …

R. – Acredito que seja uma percepção geral. Muitas das decisões tomadas nos últimos tempos mostraram muita hostilidade em relação às instituições europeias – algumas vezes é justificado, outras não – porém é verdade que no futuro as instituições europeias devem aproximar-se aos povos, devem escutar mais, devem buscar formar-se para dar maior valor a tudo aquilo que os povos europeus investem nas suas instituições. Manter-se-á sempre uma grande distância, quando a Europa parecer não querer ouvir e tratar os próprios problemas, as dificuldades, os desafios europeus de hoje. Então haverá sempre um certo desprezo por parte das pessoas.

Como a Igreja pode acompanhar um caminho europeu?

R. – Nós não temos uma visão nacionalista. Apreciamos muito o patriotismo, o amor à pátria, ao próprio país, à própria cultura e ao povo. Na fé católica – e acredito que também em outras Confissões cristãs – há uma visão de abertura para com os outros que passa pela aceitação daquele espírito que considero profundamente eclesial: temos mais coisas em comum do que as que nos dividem. O tema geral deste Encontro de Rimini é o de ampliar nossa visão em relação ao outro, prosseguir em direção a esta cultura de encontro da qual o Papa Francisco sempre fala.

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