Docilidade á voz de Deus

    No empenho para obter a salvação eterna, progredindo espiritualmente sempre na caminhada neste mundo, de vital importância é a docilidade à voz de Deus. Desta atitude depende uma maneira sábia de pensar, de agir e de julgar. Com efeito, o cristão não deve viver segundo o seu critério pessoal, mas de acordo com uma entrega total a Deus, escutando e seguindo em tudo sua graça e sua inspiração. Lemos no Livro de Samuel: “Porventura o Senhor se compraz tanto nos holocaustos e nos sacrifícios, com em obedecer à voz divina? Vê, obedecer vale mais do que o sacrifício e ser dócil, mais do que a gordura dos carneiros” (1 Sm 15,22). O exemplo foi dado pelo próprio Cristo que, enquanto homem, “foi obediente até à morte e morte da cruz” (Fl 2,8). Na agonia no Horto das Oliveiras, diante da perspectiva dos lances finais da redenção da humanidade, Ele havia assim se dirigido ao Pai: “Se queres afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22, 42).  Na alheta do Mestre divino seu seguidor pode obter nas mais pequeninas coisas um mérito infinito, dado que mesmo nelas ele encontra o que há de mais valiosos para Deus que é o sacrifício de própria vontade numa completa obediência a seu Senhor. Trata-se da adoração ao Ser Supremo em espírito e em verdade através da contínua submissão a Ele. Ao invés de se guiar pelas sugestões do demônio ou de sua imaginação o ser humano adere unicamente ao que Deus quer e porque Ele o quer. São Paulo ensinou aos Filipenses que procurassem sob a luz divina, “tudo o é que é honesto, tudo o que é justo, quanto é puro, quanto é amável, tudo o que granjeia bom nome, tudo o que é virtuoso e tudo o que é digno de louvor”(Fl 4,8). Para isto há critérios de discernimento. O Professor de Teologia Dogmática, Antõnio Barruffo, ensina quais são estes critérios mediante os quais o cristão pode ter certeza de que determinada inspiração vem efetivamente de Deus. Assim se expressou: “O espírito bom e o mau reconhecem-se por seus frutos”. Cita então o que disse São Paulo aos Gálatas: “As obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem […] Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gl 5,14-22). Em segundo lugar, a comunhão eclesial. “pois os dons autênticos do Espírito são os que edificam a Igreja”. Em seguida, a força na fraqueza, dado que “o Espírito se manifesta com sinais de poder”, apesar de ser grande a fragilidade humana. Outro critério de discernimento é a imediatez de Deus que se manifesta “na docilidade eclesial”. O Senhor, realmente, mostra através das autoridades constituídas o que o cristão deve fazer para estar de acordo com Ele. O fiel deve se adaptar à Igreja e não querer uma comunidade criada a sua imagem e semelhança. A promessa de Cristo aos Apóstolos foi clara: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt, 28,20). Além disto, acrescenta o citado teólogo, a luz e a tranquilidade, uma vez que “os dons do Espirito não são impulsos cegos que suscitam dificuldades e desordem”. As moções interiores devem iluminar e não obscurecer o cristão, gerarem imperturbabilidade e jamais a inquietude, a tristeza. De tudo isto resulta a comunhão fraterna, pois “a caridade também leva a respeitar e a amar os carismas dos outros”. Finalmente, um critério supremo do discernimento é este: “Jesus é o Senhor!” É que “confessar que Jesus é o senhor não é apenas pronunciar uma fórmula, porém descobrir o segredo de sua pessoa, proclamar sua divindade, aderir a ele pela fé e pelo amor”. Assim sendo, qualquer outra inspiração que não se enquadre neste esquema não vem do Espírito Santo, mas do espírito das trevas. A este cumpre repelir com determinação, Àquele aderir sem tergiversação. O cristão precisa buscar a sua autenticidade e esta ele a consegue tão somente habituando-se a uma percepção espiritual que lhe vem da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. São Paulo assim doutrinou aos batizados de Roma: “Quanto a vós, não sois homens carnais, mas espirituais, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, não lhe pertence” (Rm 8,9), Portanto, cumpre sempre invocar as inspirações celestes, saber distingui-las das instigações satânicas e humildemente se deixar guiar por elas sem resistir às mesmas. Feliz quem então repete com Samuel: “Fala, Senhor, teu servo escuta” (1 Sm 3,10). Para bem se escutar a Deus é preciso silêncio exterior e interior. As primeiras palavras da Regra de Vida de São Bento é esta: “Escuta, meu filho, os preceitos do Senhor e inclina o ouvido do teu coração”. O deserto interior deve ser o oásis no qual a alma bebe os místicos recados do Ser Supremo. Como se trata da palavra de alguém que é Infinito, quanto maior for este recolhimento, melhor a mensagem será captada. O verdadeiro silêncio já é uma escuta. Dá-se então o diálogo interior. Ouvida, porém, a voz divina é preciso ser dócil à mesma e já advertia um grande santo: “Temo a Jesus que passa e pode não voltar”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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