Dizer a verdade

    “A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez”.
    George Orwell  (1903-1950)
    Jornalista, escritor e político inglês

    O grande poeta e escritor maranhense Ferreira Gullar disse: “É próprio desse tipo de governo populista convencer, sobretudo os setores carentes do eleitorado, de que toda a crítica que lhe fazem advém daqueles que odeiam os pobres e querem manter a desigualdade social”.
    Em 1983, o renomado filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), proferiu um ciclo de palestras sobre discurso e verdade na Universidade de Berkeley, na Califórnia. As conferências saíram agora na França, pela editora Vrin. O tema central é um conceito grego, parrésia, que significa “correr o risco de dizer a verdade”. Não se trata de qualquer verdade, nem da simples crença pessoal nem da verdade comprovada ou aceita por todos. Para que haja parrésia, quem tem convicção no que diz precisa se arriscar a dizê-lo (dizer deve ser ao mesmo tempo um risco, uma liberdade e um dever do cidadão) pelo bem comum. A prova da sinceridade é a coragem. O tirano, por exemplo, não corre perigo algum em dizer o que quer que seja.
    Todo ditador, centralizador, demagogo, populista e impostor tem horror a escuta da  verdade e de ser confrontado para prática da justiça.
    A parrésia está na constituição do pensamento crítico e da democracia. É o contrário da hipocrisia e da retórica que esconde e dissimula para convencer. A parrésia não implica apenas a verdade sobre ou contra alguém, mas a verdade sobre si mesmo, a verdade sobre o lugar e as intenções de quem a diz. É uma forma direta de dizer. Está associada ao orador que, num debate político, corre o risco de perder a popularidade por se opor à opinião da maioria. É o oposto da demagogia e do populismo.
    A palavra grega  parrésia  (παρρησία), O sentido de parrésia remete à coragem, ao destemor de dizer a verdade, mesmo sob pena de ser condenado por isso. ἀλήθεια, Aletheia é a palavra grega para verdade. Aqui a palavra segue com atitudes de ética, respeito, ortodoxia, canonicidade e a dignidade pela pessoa humana. A verdade sempre como forma de justiça e jamais a mentira como forma desconstruída da honra.
    O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) pensava que a mentira nunca, em nenhum caso, deve ser dita. Pois, de acordo com ele, não devemos fazer nada que não gostaríamos que o outro fizesse conosco. De forma a agir como se, agindo do melhor modo, o outro também pudesse fazer o mesmo. Para Kant, a verdade tem a primazia em tudo. A razão é detentora do juízo de valores que enobrece todo ser e todo sistema social.
    Não existe espaço no pensamento de Kant para a mitomania, esta é um conjunto de fatores que provocam problemas pessoais e sociais. As causas da mitomania são multifatoriais, por isso, que a causa da verdade é capaz de realizar corretamente o bem em todo seguimento da sociedade. Devemos dizer a verdade, pois isto é justo e é bom para o conhecimento  critico. O que ele argumenta é que devemos agir eticamente, não importando a consequência que o nosso ato tenha. Não vamos agir para parecermos bons aos olhos alheios, nem vamos agir mal por influência de alguém ou para nos livrarmos de um incômodo. Em todo caso devemos agir em prol da verdade. A justiça seja feita pela pura verdade.

    A parrésia na governabilidade pública é a realização de políticas sem assistencialismo, sem paternalismo e o ataque radical contra a corrupção. O administrador tem a verdade como seu maior aliado em prol da igualdade social, da justiça e todo o bem da coletividade.
    O célebre filósofo grego Platão (428/427-348/347 a.C.)  afirmou: “Não devemos de forma alguma preocupar-nos com o que diz a maioria, mas apenas com a opinião dos que têm conhecimento do justo e do injusto, e com a própria verdade”.

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