O Catecismo da Igreja Católica define esperança (1817) como “a virtude teologal pela qual desejamos, como nossa felicidade, o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espirito Santo”.
O Apóstolo Paulo se encarrega de pontuar e apresentar para nós essa fonte inesgotável de esperança que vem de Jesus e de sua redenção por nós: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13); “Sem esmorecer, continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa” (Hb 10,23); “Este Espírito que Ele ricamente derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que fôssemos justificados por sua graça e nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna” (Tt 3, 6-7); “Ele esperando contra toda esperança, creu e tornou-se assim pai de muitos povos, conforme era dito: tal será tua descendência”. (Rm 4,18); “E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
A esperança é o aguardar confiante na bênção de Deus e em sua visão beatificante, mas também é temor em ofendê-Lo, magoá-Lo. Toda a Escritura Sagrada emana esperança, desde Israel à Jerusalém Celeste. A Esperança verdadeira não decepciona: “Esperei ansiosamente pelo Senhor. Ele se inclinou para mim e ouviu meu grito” (Sl 2). A esperança sustenta a fé e nos ajuda a perseverar (cf. 1 Tm 18,19; Gl 5,6).
Porém, temos também alguns pecados que vão contra a virtude da esperança, e que atingem não só os fiéis, mas o homem na sua essência, afastando a vida e a liberdade: desespero e presunção. Na verdade, trata-se de dois extremos. Quando o homem fica em desespero, ele deixa de esperar de Deus sua salvação pessoal, bem como os auxílios e tudo mais. O desespero coloca contra a bondade de Deus e à sua justiça, pois Deus é sempre fiel às suas promessas e à sua eterna misericórdia. Já a presunção é o outro extremo, pois o homem presume de suas capacidades, sem auxílio nenhum de Deus, ou presume da onipotência ou da misericórdia de Deus; espera perdão, mas sem conversão, e glória sem nenhum mérito.
Talvez se possa compreender, se refletirmos um pouco mais exatamente sobra a angústia! Há aí, em primeiro lugar, as mil espécies de angústias que nos afligem no dia-a-dia, desde o medo da mordida de um cão até o receio do aborrecimento diário com os outros, no local de trabalho ou em casa. Mesmo aqui, não são as “angustiazinhas” isoladas que mortificam e levam os homens ao desespero. Por trás delas está a Angústia propriamente dita, a de que a vida como tal falhe, se torne tão triste e pesada que não possa mais ser vivida. O existir deixa de ser bom, se nunca se teve uma experiência positiva, se alguém nunca se sentiu amado. Em outras palavras, a Angústia que está atrás das angústias é a da ausência total de amor, o medo de uma existência em que os aborrecimentos de cada dia se tornam tudo, em que nada mais se oferece de grande, de acolhedor. Nesse sentido, as pequenas angústias se tornam a única coisa que se espera do futuro, transformam-se na grande Angústia, a de uma vida que, por não oferecer nenhuma esperança, é insuportável.
A palavra esperança tem origem no latim spes, sperare. Significa uma espera aberta, que não assenta em resultados externos, como a expectativa, mas sobre a realização das pessoas. Assim, a esperança é uma intenção para um bem futuro e possível. Por isso, a presunção não cabe a esta virtude, mas aniquila a manifestação concreta de Deus, e a nossa ação de conversão não existe. Afinal, para eu ter esperança, eu também tenho que fazer os meus 50%, pois Deus já faz constantemente a parte d’Ele, dando-nos razões desta esperança.
Para termos o perdão, temos que dá-lo primeiro, para ter um princípio básico da Moral: “só posso dar o que eu tenho”. Presumir-se das suas próprias forças é enganar-se, mas é preciso crer que você alavanca o caminhar. O chão da esperança é a fé e a confiança, é o abandonar-se em Deus em meio às provações e crises. Por isso, não cabe aqui o desespero que tira do ser humano a paz, a segurança do dia a dia e nos leva a um estado cada vez pior de extrema aflição, estado de angústia e impaciência na qual se encontra um indivíduo, desesperança que leva a uma constante irritação e até mesmo à morte. Algo que precisamos ter certeza é que a esperança nos despoja de tudo para nos dar tudo. Pela fé conhecemos a Deus sem O ver. Pela esperança possuímos a Deus sem sentir a presença. Se nós esperamos em Deus, já O possuímos pela esperança, pois ela é a confiança que Ele cria em nossas almas, com uma evidência secreta de que Ele tomou posse de nós. Pela esperança, todas as verdades são apresentadas a todos de modo impessoal e intocável, tornando-se certeza pessoal e interior.
Contra estes dois males – desespero e presunção – é preciso termos a verdadeira esperança, que nos equilibra inclusive frente aos medos que se apresentam dia a dia. O medo nos paralisa, não nos faz ir à frente, por isso mesmo muitas vezes vemos a frase que devemos repetir com o mesmo ardor e determinação que fora dito na Sagrada Escritura e por Santos: “Não tenhas Medo” (cf Mc 5,36; Mt 10,26-33; Lc 1,5-25; Lc 12,3; Lc 8, 41-42.49-50, frase que está também presente no Antigo Testamento, como no DT 31,6, mas que até hoje podemos ver e sentir esta palavra dita por São João Paulo II aos 22 de outubro de 1978. Na Liturgia solene, um Santo na Terra nos fala com toda força: “Não tenhais medo, abri, escancarai as portas a Cristo”!… “Cristo sabe o que existe dentro do homem, dentro de seu coração … não permita o desespero… permita a Cristo falar ao homem a Palavra e a Palavra de Vida eterna”!
A esperança cristã, embora vise aos bens definitivos e transcendentais, não ignora os valores temporais, aos quais ela tende na medida em que possam ser a antecipação dos bens eternos. Afinal o Reino já se faz presente no “já” e no “ainda não”. Todavia, o cristão acautela diante de dois extremos: o pessimismo radical — “todos os esforços em prol da cidade terrestre são inúteis” — e o otimismo utópico — “a cidade terrestre, devidamente construída, será a cidade mesma de Deus”. O cristão, pelo fato mesmo de ser cristão, entrega-se, com empenho especial, às suas tarefas temporais, mas não se engana a respeito dos resultados que possa esperar. A cruz não o decepciona. Por isto, a Sagrada Escritura associa frequentemente entre si a esperança e a paciência, ou a constância tenaz; assim, por exemplo, os que tendo recebido a semente da palavra de Deus dão fruto múltiplo, dão-no em clima de paciência (Cf. Lc 8, 15). “Os que pacientarem (perseverarem) até o fim, esses serão salvos” (Mt 24,13). Acrescenta o Senhor: “na vossa paciência (perseverança) possuireis a vossa vida” (Lc 21,19).
Por fim, a esperança suscita a alegria no cristão. Este sabe que nada o pode separar do amor de Cristo e dos dons que o Pai lhe concedeu através do Batismo e da Eucaristia. Embora sinta as tribulações à sua qualidade de peregrino na terra (Cf. 1Pd 2, 11-19; Jo 16, 16-22), guarda paz e alegria em seu coração, pois ele traz aí a semente dos bens definitivos, que nenhuma desgraça, a não ser o pecado voluntário, pode afetar (Rm 8, 31s. 35). A resposta do amor humano é necessária ao homem, mas o amor por si mesmo interessa-se por algo mais, pelo Absoluto, pelo Infinito, pelo mundo salvo. Heinrich Schiler, seguindo uma tradição não só de pensamento, mas também de autoexperiência do homem, disse com razão: “Esperança significa propriamente esperar contra a morte”. (H. SCHILER. Besinnung ant das neue Testament. Freiburg, 1964, p 140).