DESEJOS OU DELÍRIOS

                Muitos dos nossos desejos não passam de delírios circunstanciais. Ou votos supérfluos, que a boca pronuncia, mas o coração não sente. Ponderá-los e adequá-los à nossa realidade e, no mínimo, à nossa autenticidade ao expor um desejo a outrem, talvez seja excelente ocasião de lustrar a própria personalidade, o mais perfeito visual do que realmente somos ou exibimos para os nossos semelhantes.

                Desejar algo de bom é também abençoar o irmão. Por isso desdenho de muitos votos natalinos que por aí se ouvem. Proclamados em reclames comerciais ou em meio ao modismo das etiquetas e formalidades sociais, de nada valem. Para muitos, o silêncio e a reflexão sobre o significado dessa data cristã seria mais proveitoso, se o fizessem mesmo por coerência com seus comportamentos e ideais não cristãos.

                Bom Natal! Que essa data toque mais profundamente os corações endurecidos pela indiferença ao mistério daquele presépio de Belém.

                Que a informalidade de nossas relações de amizade, coleguismo, cumplicidade no trabalho ou na sociedade, seja ao menos uma ação natural, forçada pelas circunstancias de tantos encontros e desencontros; nunca proposital ou construída pela defesa de interesses pessoais, escusos ao bem comum.

                Que panetones e pizzas mal temperadas sejam banidas do cardápio de um povo ainda inseguro, porém nada ingênuo, cujos mandatários, vez ou outra, tentam ludibriá-lo com mimos e afagos nada ortodoxos. Prefiro ouro. Até incenso e mirra. Desde que estes venham das generosas mãos de Belchior, Gaspar e Baltazar, os três reis magos que se deixaram conduzir pela misteriosa estrela e contemplaram com os próprios olhos o milagre da reconciliação humana: o Salvador. Seus presentes não abafaram qualquer malandragem de poder, mas enriqueceram ainda mais a grandiosidade da revelação: “Vimos sua estrela e viemos para adorá-lo”.

                 Oh, quantos passos teríamos avançado se o Natal cristão não perdesse a mística dessa cena! O poder humano ali estava, representando não somente alguns povos, mas todas as raças daquela época. A riqueza humana, idem, no brilho do ouro. A mística também, na simbologia do incenso, perfume dos deuses! A mirra, ah, essa também, representando alívio para nossas dores e lenitivo para nossas almas… No entanto, muitos ainda preferem o incenso do poder, o bálsamo que lhes oferece a ilusão de perpetuar-se sobre as regalias do mando e desmando, à amarga incerteza das misérias humanas, a mirra dos que descem aos túmulos ainda em vida.

                Que o sonho confuso de uma humanidade sem cotas, sem resquícios de discriminações raciais, de intolerância, de preconceitos, não se iluda com as variações do arco-íris – roubado em sua beleza para representar nossos desvios de conduta, nossas violações à polaridade homem-mulher – mas perceba em sua plenitude a fonte de riquezas da Nova e Eterna Aliança, o pacto de Amor sem limites, sem cores berrantes, sem ilusões, que Deus fez conosco.

                Que nossas conferências para salvar a Terra, planeta Água, não fiquem no papel de um compromisso formal e irreal na prática – como tantos papéis assinados – mas justifiquem a razão dos muitos champanhes com os quais brindamos um novo ano, novo tempo para o mundo, a própria humanidade.

                Que, enfim, o Menino-Deus possa crescer entre nós sem as agulhas do indiferentismo humano, que lhe ferem o corpo e seu coração imaculado. Qualquer delírio humano, como rituais diabólicos que só os corações sem Deus são capazes de aceitar, nunca será instrumento para solução de problemas pessoais. Compreendamos, de uma vez por todas, que Deus-Pai é fonte de toda alegria e esperança renovada nas estrebarias da pobreza humana É Pai verdadeiro; nunca foi padrasto…

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