Dai-lhes vós mesmos de comer

    Celebramos neste início de agosto, mês vocacional, décimo oitavo (18º) domingo do Tempo Comum. Domingo este que também comemoramos a vocação para o ministério ordenado (diáconos, padres e bispos). Na liturgia deste domingo, a questão do Reino permanece, mas agora em gestos e imagens que revelam o Reinado de Deus. Uma das imagens mais fortes da realidade do Reino é a abundância de alimentos, por isso o Evangelho (cf. Mt 14,13-21) e a primeira leitura (cf. Is 55,1-3) trazem a imagem de um “banquete”, e a segunda leitura (cf. Rm 8,35.37-39) assegura a união amorosa de Deus, por meio de Jesus Cristo, com aqueles a quem chamou para fazer parte de seu Reino. Por isso tudo, o salmista pode cantar: “Vós abris a vossa mão e saciais os vossos filhos” (Sl 144).

             Na primeira leitura (cf. Is 55,1-3) – o profeta Isaías não pensa apenas no aspecto material da promessa, mas imagina o Reino de Deus onde a ambição e a insaciável fome de bens materiais serão excluídas do imaginário dos discípulos de Jesus! É a chegada do Reino de Deus. É preciso sonhar com Deus esperando o mundo novo! A primeira leitura está intimamente conectada com o Evangelho (cf. Mt 14,13-21). As multidões devem estar atentas ao convite divino expresso pelo profeta Isaías: “Inclinai vosso ouvido e vinde a mim” (v. 3). O Senhor, no texto de Isaías, convida a vir e a ouvir. O chamado está marcado em “vinde às águas”, “vinde e comei”, “vinde comprar” e, no final, “vinde a mim”. Em seguida, vem o convite a ouvir: “ouvi-me com atenção” e “inclinai vosso ouvido”.

             Na segunda leitura (cf. Rm 8,35-39) – o Apóstolo Paulo já entrou na posse do mundo novo – mundo de Jesus – e nada poderá afastá-lo desta promessa, melhor, da certeza do mundo melhor com Jesus Cristo! E Jesus tem o poder para transformar o sonho de Paulo em realidade e, por que não, o mundo que esperamos de Jesus e com Jesus!  O autor da carta expõe os aspectos terrenos e transcendentes de modo diferente. As questões pertencentes ao âmbito do terreno são expostas por meio de perguntas, sendo a primeira a orientadora de todas as outras: quem nos separará do amor de Cristo? Todas as outras são desdobramentos desta: tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada? Ao final, o autor mesmo responde que, graças àquele que nos amou, já somos vencedores sobre todas as dificuldades que possam se levantar contra nós.

             No Evangelho (cf. Mt 14,13-21) – Jesus não recusou sua palavra a ninguém, mas preferiu falar aos pobres e doentes de seu tempo! Sabemos do simbolismo do tema do pão que está muito ligado também à vida e a Eucaristia. Porém, Jesus não se limitou à pregação; preocupou-se com a fome de seus ouvintes; Estes precisavam da Palavra e do Pão!

             Para São Mateus, o afastamento de Jesus para um lugar deserto é motivado pelo conhecimento da morte de João Batista. Ao tomar conhecimento da triste notícia, Jesus se afasta para um lugar deserto de barco. A referência ao barco indica que o deserto aqui não significa apenas o deserto físico, mas a condição de pouco movimento ou habitação. Chegando ao local, Jesus é recebido pelas multidões, que foram a pé. Diante de uma multidão que o procura, todo seu ser se move: “Encheu-se de compaixão e curou os que estavam doentes” (v. 14).

             Diante do final do dia seria necessário alimento, por isso pedem a Jesus         que envie aquelas pessoas para que possam ir em busca de alimento nas aldeias ao redor. Jesus, no entanto, passa aos discípulos a responsabilidade de alimentar aquele povo: dai-lhes vós mesmos de comer! Tudo o que eles têm são cinco pães e dois peixes, a comida habitual do povo daquela região. Jesus pede que levem a ele o que têm e, após pronunciar a bênção sobre os alimentos, entrega-os aos discípulos para que distribuam. O resultado dessa partilha generosa é uma sobra impressionante: 12 cestos cheios. Alimentar 5 mil homens, sem contar mulheres e crianças, indica que, na verdade, se alimentou muito mais do que é possível calcular.

             A grande notícia, a Boa-Nova para o mundo atual é esta: o amor terno e próximo de Deus, manifestado em Jesus Cristo! Mas, atenção: somente poderemos ser testemunhas de tal amor se nós mesmos nos deixarmos tocar e envolver pela ternura do Cristo! Atendamos, portanto, ao seu convite de ir gratuitamente a Ele, apesar de nossas pobrezas! Deixemos que ele nos alimente e sacie de vida e de paz! O pouco que temos nas mãos de Jesus se torna infinitamente maior.

    Saúdo, com afeto, a todos os presbíteros na comemoração de seu dia, na próxima festa do Cura d’Ars e tenho certeza de que são artífices da generosa e cativante ação pastoral em favor dos fiéis, particularmente, dos que sofrem, dos que estão doentes, dos que precisam sepultar seus entes queridos e em favor daqueles que estão empenhados, como médicos, operadores de saúde, enfermeiros, administradores hospitalares, desdobrando-se em favor dos doentes da COVID-19.

    Que vivamos, intensamente, este mês temático, agosto-vocacional, que se inicia com o coração sintonizado no tema proposto pela Igreja no Brasil: “Amados e chamados por Deus” e com o Lema: “És precioso a meus olhos… Eu te amo” (cf Is 43,4).

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