As palavras que, no julgamento universal, Cristo, Rei do Universo, dirá aos que lhe foram fiéis são, realmente, consoladoras: “Vinde benditos de meu Pai, entrai na posse do reino que vos está preparado dede a criação do mundo” (Jo 24,34). As características desta fidelidade a esta soberania estão bem caracterizadas no Prefácio da Missa desta solenidade. Com efeito, o Reino de Cristo é um reino de vida e de verdade, de graça e santidade, de justiça, de amor e de paz. Eis a razão pela qual, embora na Páscoa, na Ascensão e na Epifania se festeje a realeza do Filho de Deus, no final do Ano Litúrgico todos são convidados a refletir sobre como tem se comportado dentro deste Reino. Trata-se de viver em estado de graça santificante que é a vida da alma. Procurar sempre a verdade que é a prática contínua dos mandamentos com o auxílio de todas as graças divinas que levam à santidade existencial. Cultivar a justiça que inclui dar sempre a Deus o que é de Deus, reconhecendo os dons que ele deu a cada um e respeitando os outros em tudo. Então se conhecerá a paz em si e junto de si irradiando os influxos deste Rei que deseja a felicidade de todos os seus súditos. O Reino de Jesus é aquele do amor que se oferece e se sacrifica pelo próximo. Este poderoso soberano não se impõe como os poderosos deste mundo. Manifesta uma dileção generosa, que apela para a liberdade de cada um. Ele jamais se impõe. No Apocalipse, Cristo-Rei ressuscitado assim fala a cada um de seus seguidores: “Eis que estou à porta e bato. Aquele que escuta a minha voz e abre a porta, eu entrarei e comeremos juntos, ele comigo e Eu com ele“ (Ap 3,20). Este Rei escolheu um caminho de simplicidade, de apelo ao coração e à liberdade. Coroado de espinhos, no alto de uma cruz Ele desvendou a fecundidade de sua dileção. Este amor será o critério para o julgamento quando ele voltar no fim da História. A visibilidade dos eleitos resplandecerá não nos grandes feitos humanos, mas na medida em que cada um se fez tudo para todos, vendo no irmão a figura de Cristo-Rei. Ser súdito deste Rei é estar sempre no caminho do serviço, da dedicação gratuita, do perdão, da reconciliação, da esmola inteligente e oportuna. Consiste isto na imitação contínua de Jesus que pôde afirmar: “Eu vim para servir e não para ser servido”. Este servidor hoje é aclamado como Rei. Ele está a convidar a todos a assumir sua responsabilidade na dedicação aos outros a começar pelo cumprimento exato de dever de cada dia, pois estamos sempre trabalhando para alguém. Muitos, porém, se esquecem de que o próximo mais próximo é o que habita junto dele sob o mesmo teto. Quantos pais e mães a se queixarem das indelicadezas e desprezos dos filhos e vice-versa! Quantos vivem em pé de guerra sufocados pela prepotência daqueles que os deveria amar! É nisto que se deve refletir neste dia de Cristo-Rei. Ele que é o alfa e o ômega, o Senhor do Universo, deste Belém ao Gólgota preferiu sempre a humildade e demonstrou a todos uma caridade sem limites. O Reino de Jesus se expande quando se lançam as sementes do afeto, da fraternidade, da solidariedade vivida por todos e em todas as circunstâncias. Então fica a indagação: “Como tem sido verdadeiramente o reinado de Cristo em minha vida”? No Evangelho de hoje Ele mostra como está presente no mundo, ou seja, na pessoa de cada um a nosso lado. Os egoístas, os orgulhosos, aqueles que ofendem os outros e não os perdoa não pertencem ao seu Reino. Cristo-Rei convida a todos a abrir as portas do coração. Não basta, porém não fazer mal a ninguém, pois é preciso também fazer o bem a todos e a toda hora. Para o verdadeiro seguidor de Cristo-Rei a solidariedade não é facultativa, mas é essencial para se estar com Ele por toda a eternidade no seu Reino do Céu. Quem pretendesse amá-lo sem amar os irmãos seria um mentiroso. Uma fé sem as obras de caridade é uma fé morta, como bem escreveu São Tiago na sua Carta. As mais diversas pastorais tão numerosas em todas as comunidades oferecem oportunidade a todos para exercerem esta ajuda não de uma maneira simplesmente assistencialista, mas, sobretudo, tirando os necessitados de sua condição na qual impera o sofrimento, como bem a descreveu o Mestre divino no Evangelho de hoje. Cristo vive, Cristo impera, porque a maioria de seus súditos lhe é fiel. Pertençamos sempre a este exército de Cristo-Rei e estaremos construindo um mundo melhor.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.