Com a solenidade de nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, encerra-se o ano litúrgico.
Há no evangelho um único texto em que Jesus assume o título de rei; “O sumo sacerdote o interrogou de novo: “És tu o Messias, o Filho de Deus bendito”? Jesus respondeu: “Eu sou”. De resto, Jesus rejeita para si o título de rei que pudesse identificá-lo com a esperança de restaurar a monarquia davídica e a libertação do país da dominação estrangeira. Jesus rejeita todos os títulos que poderiam fazer pensar no desejo de poder. “O poder observado no mundo não é o vivido por Jesus e proposto aos seus discípulos: Para vós não será assim.” Jesus se distancia de toda forma de poder e distingue a concepção de poder da comunidade dos discípulos com a comum dos “grandes deste mundo”. O que deve ser buscado por toda a Igreja é a prioridade do serviço: “O maior é aquele que serve”.
Perguntado por Pilatos: “Tu és o rei dos judeus?”, Jesus responde: “Meu reino não é deste mundo”. A única realeza que Jesus aceita é a da cruz. Os evangelhos recordarão então a inscrição sobre a cruz: “Jesus de Nazaré. Rei dos judeus”. A partir da cruz, sobre o título de rei, não paira nenhuma ambigüidade, pois a realeza de Jesus é o serviço até a entrega radical da própria vida, como ato de amor supremo. Jesus, Rei do universo, inaugura um modo de vida que não admite o gosto do poder, tal quais “as nações” o compreendem.
As três interpelações dos que zombavam de Jesus lembram as interpelações do relato das tentações. Isto pode nos fazer compreender que a cruz do Senhor é o lugar da tentação suprema que Ele vence: “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito.” No relato das tentações, como na paixão, a tentação é a mesma: usar o poder em benefício próprio, usar da condição de Filho de Deus e de Messias para si mesmo. O silêncio do Senhor sobre a cruz ante as interpelações e zombarias é expressão de sua rejeição de todo poder mundano que o desviasse de realizar a vontade do Pai. A cruz é o lugar em que se exerce a realeza tipicamente messiânica: o poder de salvar, de dar a vida. À súplica do malfeitor: “… lembra-te de mim, quando começares a reinar”, Jesus responde: “…hoje estarás comigo no Paraíso”.
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